quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CAFÉ PARAÍSO




"Café Paraíso" fala do poeta de café, da vivência do poeta nos cafés das cidades - "A Brasileira" e o "Astória" em Braga, o "Piolho", o "Ceuta" e o "Aviz" no Porto, o "Guarda-Sol" na Póvoa de Varzim, o "Pátio" em Vila do Conde- e das aldeias (Vilar do Pinheiro, Vila Nova de Telha). "Café Paraíso" é também sobre a mulher que passa, que se passeia no café, que atende às mesas ou permanece ao balcão. É também o café das tertúlias com poetas, escritores, amigas, amigos, as discussões inflamadas, os bares até às tantas. É o homem só à mesa que escreve, lê e observa. É o poeta maldito que incendeia os bares da poesia. Os empregados de mesa e os gerentes, as cumplicidades, as conversas, a caixa registadora. Mas "Café Paraíso" é também o tédio, a rotina, o inferno no quotidiano que, apesar de tudo, é mais fácil de suportar no café do que em casa. A revolta contra a propaganda da TV, o futebol omnipresente que o poeta também vê, as conversas dos teóricos de café, o não aceitar da ditadura dos políticos e dos mercados. "A vidinha de escravos" que "está a chegar ao fim", o princípio do fim do capitalismo. O café, a cerveja.

CAFÉ PARAÍSO


Novo livro de António Pedro Ribeiro é apresentado por Carlos Magno no Café Piolho
A apresentação da obra que reúne os poemas de café de A.P. Ribeiro está a cargo do jornalista Carlos Magno e acontece no próximo dia 12 de Novembro, sábado, pelas 18h30, no Café Piolho, no Porto. A sessão é introduzida por Miguel Marinho, que promete encher o ar do habitualmente ruidoso espaço com as notas musicais de uma sanfona. Mas as surpresas são muitas e o programa antecipa um final de tarde familiar, com sabor a café e cheiro a livros.
Rui Manuel Amaral e Rui Lage estarão presentes para falar daquele que é, na opinião deste último “um poeta de café. Um dos últimos. Ou talvez o único”, e cuja obra é influenciada por figuras como Rimbaud, Nietzsche, Henry Miller, William Burroughs e Jim Morrison. “O café é ainda, para ele, como foi para um Mário de Sá-Carneiro, o miradouro do humano, a plateia de onde tudo se ouve e tudo se vê, onde olhos fatigados observam, projectando enredos, o xadrez das personagens tragicómicas que somos todos, sem excepção, a entrar e sair no “Piolho”, no “Ceuta”, no “Avis”, no “Astória”, como quem entra e sai da vida.”, pode ler-se no texto que prefacia “Café Paraíso”.
O próximo sábado marca a apresentação ao público da obra de poesia mas também a inauguração oficial da nova chancela da cooperativa cultural. Segundo a CulturePrint, a Bairro dos Livros pretende “dar corpo a projectos literários únicos e cruzar muitas linguagens artísticas para comunicar as ideias do futuro e os sonhos do presente”. “Gostamos do livro-objecto. E queremos partilhá-lo.”, afirma Isabel Rocha, uma das directoras criativas da recém-criada cooperativa portuense dedicada ao sector cultural, que, assim, inaugura a nova chancela da marca CulturePrint. “A Bairro dos livros fica onde nos deixarem entrar, com os nossos poetas, ilustradores, criativos e escritores”, continua.
Por agora, a Bairro dos Livros estará à mesa do conhecido Café Piolho, símbolo desses espaços onde a escrita se faz no papel, mas também nas conversas com as mesas vizinhas, que acolheu gerações e gerações de estudantes, artistas, e escritores. Porque, como diz Rui Lage no prefácio a "Café Paraíso", "apenas esses lugares imprevistos, como são os cafés, permitem desorganizar o humano, desmontá-lo, desarmá-lo, expô-lo: consertá-lo e partilhá-lo".
É com esta missão, mas também com o objectivo de fazer nascer livros de qualidade, dando voz à poesia e à literatura de hoje que se faz pelos que hoje escrevem, que a CulturePrint apresenta, no próximo sábado, dia 12 de Novembro, pelas 18h30, no Café Piolho, no Porto, o primeiro número da chancela Bairro dos Livros: a obra poética “Café Paraíso”, de António Pedro Ribeiro.
Para mais informações, por favor, contactar Inês Castanheira (PRESS), através do endereço de e-mail press.cultureprint@gmail.com ou do número de telefone 93 9802770.
Booktrailer de Café Paraíso: http://youtu.be/_Xnsvi4XGvE
“Café Paraíso” inaugura a Bairro dos Livros, a nova chancela editorial da CulturePrint, e é apresentado este sábado, no Porto.
A última obra de António Pedro Ribeiro que chega agora às livrarias tem prefácio de Rui Lage. Rui Manuel Amaral assina a introdução aos poemas e aos versos do conhecido poeta anarquista, que é também ele uma das vozes da dupla que dinamiza mensalmente a Poesia de Choque no Clube Literário do Porto, juntam-se as ilustrações de Vitalia Samuilova. Foi na figura do poeta, mas também na atmosfera dos cafés da cidade, que a artista letã se inspirou para criar as ilustrações que compõem o primeiro número das Edições Bairro dos Livros.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

REVOLUÇÃO OU BARBÁRIE


O capitalismo está a chegar ao fim, não tem saída. Os líderes mundiais multiplicam-se em declarações inconsistentes, metem os pés pelas mãos. Os capitalistas, os bolsistas, os mercados destroem o homem mas destroem-se também a si próprios. Revolução ou barbárie, eis o que nos espera. Se o exército, ou parte dele, ficar do lado dos revoltosos, teremos... a revolução. Na Grécia, em Itália, em Portugal, em todo o lado. Se não espera-nos a barbárie completa. Os supermercados serão pilhados, como recentemente em Inglaterra, haverá seres humanos a disputar pedaços de carne na rua, o útil, o interesse, a ganância serão levados até ao limite, o homem reduzir-se-à ao sub-homem, ao macaco, perder-se-à o respeito entre as pessoas, o dinheiro perderá o valor, o caos imperará por todo o lado. Não vemos solução dentro do capitalismo. Revolução ou barbárie. Eis o que nos espera. Bem podeis sair à noite aos bares, bem podeis fechar-vos nas vossas casinhas a olhar para a TV que vos envenena. Bem podeis agarrar-vos ao carrinho, à conta bancária (enquanto houver...), ao frigorífico, à Merkel, ao Obama. Nada disso vos salva. Revolução ou barbárie.

CAFÉ PARAÍSO


O livro de poesia que compila os poemas de café de António Pedro Ribeiro inaugura a nova linha editorial da CulturePrint. A introdução de "Café Paraíso" é de Rui Manuel Amaral e o prefácio é assinado por Rui Lage. Vitalia Samuilova inspirou-se na figura do poeta, nos versos e na atmosfera dos cafés da cidade para criar as ilustrações que integram o primeiro número da Bairro dos Livros.

Pretendemos dar corpo a projectos literários únicos e cruzar muitas linguagens artísticas para comunicar as ideias do futuro e os sonhos do presente. Gostamos do livro-objecto. E queremos partilhá-lo.

A Bairro dos livros fica onde nos deixarem entrar, com os nossos poetas, ilustradores, criativos e escritores. Por agora, está nesta mesa de café. Porque, como diz Rui Lage, no prefácio a "Café Paraíso", "apenas esses lugares imprevistos, como são os cafés, permitem desorganizar o humano, desmontá-lo, desarmá-lo, expô-lo: consertá-lo e partilhá-lo."

O nosso Bairro tem o primeiro número na porta. Tragam olhos de ver, de ouvir e de comer.

Sejam bem-vindos. Comecem por tomar um café aqui.

Booktrailer aqui: http://youtu.be/_Xnsvi4XGvE

Apresentação por Carlos Magno.
Rui Lage e Rui Manuel Amaral estarão presentes para falar sobre a obra.

sábado, 5 de novembro de 2011

O FIM DA UNIÃO EUROPEIA


O FIM DA UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia está a chegar ao fim. A Europa dos políticos, dos burocratas, dos banqueiros, dos economistas está a arder nas ruas de Atenas. Nunca passou de um projecto económico-financeiro esta Europa. Nunca teve uma dimensão cultural e espiritual. Quase nunca foi referendada. Por isso merece cair. No fundo, são apenas Estados isolados a lutar pelos seus interesses. Nem Durão Barroso, nem Merkel, nem Sarkozy, nem os comentadores do regime o conseguem contrariar. Esta União Europeia está a chegar ao fim. Nós, os indignados, construamos de base um projecto mobilizador. Que parta do indivíduo, do homem livre, do novo paradigma. Que corte de vez com o capitalismo. Que fale da Vida e da Liberdade.

ESCREVE O DIVINO


Escreve o divino, Pedro
é o teu pai que to diz
chegaste a um ponto
em que és capaz
escreve o divino
a mente abre-se
a luz do céu
séculos para chegar até aqui
tantas guerras
tantas demandas
bandeiras defraldadas
trompas
exércitos
o que não passei
para chegar até aqui
Hamlet chama-me
passei a incomunicabilidade
a grande depressão
e agora estou aqui
a dar-me ao público
a subir na palavra
a beber deste vinho
a ser quem sou
escreve o divino
esquece o mundano
o tédio quotidiano
canta os deuses
e os espíritos
vai até à Sibéria
dançar com os xamãs
és plenamente tu
vens dos céus
quem te vai
agora cantar»

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O TAMBOR


Não escrevo estórias
escrevo sim simplesmente
o que me vem à cabeça
os outros falam
lêem jornais
enquanto o meu mundo interior
explode
espalha-se pelas mesas
altera a programação

não escrevo estórias
os meus personagens
são os que me rodeiam
a dona do café
os peixes no aquário
este cenário
que tenho à minha frente

não escrevo estórias
canto o amor
trovador
dos tempos do fim
não espereis de mim
dinheiro e sucesso
apenas o tambor
que vem do coração.

O POETA DADÁ


O poeta entra no Piolho
o café sabe-lhe bem
o poeta não tem limites
faz macaquices
caretas
salta à frente do Adriano
o poeta é louco
sai-lhe agora o nariz
e um pé
ainda assim dança
o poeta é dadá
sai para a rua
celebra à chuva
come as mesas
e as cadeiras
o poeta está gagá
come agora a televisão
e o fado que dá
o poeta é aquele que há
o poeta dadá.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A AMEAÇA

Aparentemente foi-me vedada a entrada no "Subura". Não sei bem o que se passou mas, ao que me lembro, ameacei um gajo de morte. Não sei o que me deu. O gajo nunca me fez mal nenhum. Quis vingar-me do mundo. Vem tanta coisa à cabeça que um dia ela explode. Depois, para variar, pus-me a atirar pedras às lojas de marca e aos bancos. Enfim, são as tais noites que valem por mil anos. Já há muito tempo que não me encontrava assim. O Sampaio do "Subura" hoje lançou-me cá uns olhares...pois, é o Zéca Afonso...a solidariedade...pois, havia um que era assim mas morreu há um ano...o Carlos Pinto. Tem piada que no Púcaros, no Pinguim nunca armei confusão. Enfim, não sei bem o que me deu naquela noite. O que vale é que as bolsas caem e o capitalismo também. Isso é que realmente conta.

DO PENSAMENTO


Todo eu sou pensamento. Vivo dentro do pensamento. Todo eu sou as minhas ideias. Navego dentro de mim. Desde miúdo que sou assim. Um ser que vive para o pensamento. Que desenvolve as ideias. O café ajuda. Ao mesmo tempo sou um ser único, como diz Max Stirner. Faíscam ideias na minha mente. Ainda assim procuro a síntese, a unidade.
Ainda não li o jornal de hoje. Este café é sossegado e agradável. É domingo. Amanhã os trabalhadores voltam ao trabalho. Triste sina a deles. Eu devo ir para Braga. Que sentido faz passar a vida a trabalhar? Sou dono de mim, das minhas horas. Antes andar entediado do que trabalhar. Mas eu nem sequer estou entediado. Eu produzo. Eu vou ter com as amigas. Há um chato no café. Saio a Bukowski. Deveria fazer umas sessões de poesia pagas. Ir às escolas e às universidades. Bem, o livro é apresentado daqui a duas semanas. Não há motivos para andar triste. Ainda assim não estou com o fulgor de há três dias. Era difícil. Vou voltar a casa.

domingo, 30 de outubro de 2011

O POETA NÃO CONSEGUE DORMIR


Volta a ser madrugada. Está tudo fechado. O poeta não consegue dormir. Espera o dia. O seu pensamento não pára nem com o "Morphex". Escreve o que lhe vem à cabeça. Escreve e, ao escrever, cria. Dá novos mundos ao mundo. Põe em contacto o mundo interior com o exterior. Procura o bem e o belo. A Gotucha está a dormir. O poeta não pára de pensar. Explode por dentro. Já desceu várias vezes aos infernos. Agora está aqui vivo, exuberante de vida. Cheio de verve. Deveria pintar. O pensamento dança. Não tem limites. Basta-se a si próprio. É capaz de sair e de enfrentar a madrugada. É louco, já o sabemos. Não pensa como o homem comum. É capaz de actos non-sense. Mas também é capaz da bondade, do amor, de socorrer aquele que cai na rua. Viveu estes anos na noite, nos livros, e agora encontrou-se. Ouve os carros lá fora. Não suporta a linguagem do mercado e dos mercados. Odeia-a. É seu inimigo mortal. Pensa que o homem está a ser assassinado. Expõe-se. Vai publicando no facebook. Aspira a ter um jornal panfletário. A coisa agora parece possível. Acredita agora que vai chegar onde quer. É uma questão de tempo. Escreve como nunca. Aumenta a cadência. Não consegue parar. Quer voltar a escrever como no "Á Mesa do Homem Só", aqueles poemas vertiginosos e místicos.

MULHERES


Precisava ler um jornal. Um jornal para me entreter. Para exercitar o cérebro. O "Diário" ou o "Correio do Minho". As notícias locais não estão tão contaminadas. Mas os jornais estão todos ocupados. Enfim, eis-me entregue ao caderno. Derramo-me na folha. Entrego-me ao mundo e ao Domingos do "Doce Convívio". Na Póvoa, um jornalista disse que eu escrevo à Fernando Pessoa. Muito me honra. De facto, o ritmo às vezes parece ser o mesmo. Estar-me-ão reservadas as glórias? Acredito que sim, eu tenho seguido o meu caminho, tenho evoluído, mudado de estilo. Estou sempre a auto-entrevistar-me. Com o "Café Paraíso" em alguns cafés posso tornar-me uma celebridade. Ah! Veio a menina bonita. Como ela se move. Como ela altera a minha vida. Está cheia de calor. Está de avental. Vai trabalhar. Trabalho não é comigo. Continuo a rabiscar papéis e a elevar a minha vida. Ao mesmo tempo, aspiro a ter o que Fernando Pessoa não teve em vida. Não que eu me situe ao nível de Pessoa. Mas, de facto, começo a ficar farto de caçadores de prémios. De qualquer maneira, a mim nunca me darão prémios. A minha escrita não é para prémios. Olho para as meninas bonitas e isso inspira-me. É o que é. Ouço-as falar, nem sequer falo com elas. Elas irritam-se com o mundo e eu também. Elas riem e eu observo à distância. Sim, ainda sou capaz de um certo lirismo. Apesar do caos, da barbárie, da tal descida aos infernos. Mas não deixo de olhar para a mulher que certamente trabalha ou estuda qualquer coisa, que faz qualquer coisa de diferente de mim mas que eu amo à distância. Amo-a realmente e nunca a vou ter. Kierkegaard dizia que é isso que eleva o poeta. Ontem, eu disse na rádio que não há alternativa à barbárie. Talvez tenha exagerado. É claro que acho que existe uma alternativa. Mas não acredito que seja com os partidos de esquerda parlamentar. Não têm força suficiente. Nem sequer o desejo. A revolução será violenta, a menos que seja espiritual. Espero por ela. Procuro-a incessantemente em mim. A menina bonita levanta-se e parte. Fala. As mulheres não param de falar. Eu fico calado. Limito-me a escrever e a observá-las. É o meu passatempo, a minha vida. Para isso vim. Estou aqui, vivo. Mais vivo do que nunca, apesar da aparente serenidade. Da serenidade grega. Venho de lá. Depois do caos, da descida aos infernos, vem o amor, o belo, a serenidade. É assim que eu tenho sido. É assim que eu tenho progredido. Preciso discutir isto com alguém. Depois das euforias, das alucinações e da depressão vem a serenidade, o amor, a bondade. Assim tenho crescido.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ÚNICO


Tenho lido Max Stirner e sinto-me um espírito livre. Nada se sobrepõe à minha vontade. Danço com os deuses. Cada vez odeio mais os bancos, os mercados e os seus seguidores. Não jogo na bolsa. Não tenho conta bancária. Não alinho nas patranhas dos telejornais e das multinacionais. Detesto o "Continente" e o "Pingo Doce". Sou único. Não esperes de mim amabilidade nem gratidão. Fica com os gordos e com a "Casa dos Segredos". Sou único. Ninguém é igual a mim. Nem os meus mestres. Penso que a essência do homem está a ser assassinada pela finança. Não esperes de mim protestos só contra os cortes. Eu procuro a essência. Eu sou o homem que sonha, que imagina, que tem visões, que tem fantasmas. Não esperes de mim o cidadão comum. Estou farto do cidadão comum. Estou farto das preocupações do cidadão comum. Sou único, sou proprietário de mim e das minhas ideias. Não me tentes convencer. Tentas-me convencer todos os dias. Vens com essa treta todos os dias. Mas agora já não me levas. Sou único. Sou soberano de mim e dos meus reinos. Tenho ideias próprias. Não sou do povo. Tenho direito a ter ideias próprias, ouviste? Sigo o meu caminho. Sigo sozinho se tal for necessário. Não ando a mendigar amizades. Nunca gostei de grupos. Sou único. Rei do meu pensamento. Princípe das ideias. Larga-me. Estou farto de ti. Estás sempre a chamar-me. Estás sempre a prometer-me coisas. Nada tenho a ver com os governos da Europa e do país. Aliás, os governos da Europa e do país estão em cacos. De qualquer forma, nunca os apoiei, nunca votei neles. Deixa-me. Estou farto de falinhas mansas. Estou farto de propaganda. Sou de mim. Absolutamente de mim. Não me atires futebóis. Não me atires as gajas da TV. Sou um rochedo. Aqui, no Piolho, proclamo o meu reinado. Reinarei para lá da morte. Não sou dos eléctricos, nem dos metros, nem dos autocarros. Sou de mim. Nem sequer deveria pagar nada por coisa nenhuma. Os outros também não me pagam. Nem sequer sou português. Nasci aqui, nesta cidade, ponto final. Não sou de ninguém. Larga-me. Deixa-me pensar. Observo o que me rodeia mas estou a sós com os meus pensamentos. A caneta desliza no papel. Ontem o caderno ficou encharcado por causa da chuva torrencial. Poderia ter sido uma tragédia. Poder-se-iam ter perdido páginas imortais. Mas, enfim, sobrevivemos. Cavalgamos a folha de papel. Estamos aqui. Somos daqui. Não me venhas vender nada. Não me dês concursos, lotarias, euromilhões. Sou único. Não sou de ninguém. Não tenho de obedecer ao governo nem aos imbecis que votaram nele. Não elegi nenhum deputado. Até fui candidato mas não fui eleito. Nunca apoiei o Belmiro de Azevedo nem o Alexandre do "pingo Doce". Nunca apoiei os gajos dos milhares e dos milhões. Cometi erros mas ninguém me pode acusar de conivência com o capitalismo. Sempre que pude ergui a voz. SEmpre que pude atirei pedras. Estou com os indignados da América e do mundo inteiro. Quero dinamitar os bancos e a bolsa. Não, não me venhas com conversa. Estou farto de conversa. Hoje assumo-me plenamente eu. Sou Deus e mais do que Deus. Desejo as mulheres. Algumas mulheres. Sou o poeta incendiário. Não me atires moderação. Não sou o filósofo de Platão. Digo-te não! Não quero mais esta farsa. Aliás, hoje nem sequer preciso de cerveja. Sou o homem que nasce outra vez. Sou único, meu rei, meu Deus. Triunfo sobre ti e sobre o mundo. Já não me podeis ignorar, ó críticos. Vou tão longe que já não me apanhais. Nem tu, ó leitor. Merda para os macacos da "Casa dos Segredos". Merda para vós que vos refugiais em casa. Merda para tudo e para Deus. Permanecei na escravidão. Eu não vos sigo. Eu nunca vos seguirei. Estou farto. Eu sou. Eu penso.

OS MACACOS E O HOMEM LIVRE


O homem caminha para o sub-homem, para a barbárie. O sub-homem reduz-se à economia. Os gritos dos indignados ultrapassam a economia. Questionam o poder financeiro, o dinheiro que vai para os bancos, para os mercados. Questionam desde o coração do império, desde a América. O império está à beira do colapso. Que legitimidade para falar têm estes lacaios do poder financeiro? Quem são Obama, Merkel, Sarkozy? Sub-homens, sub-mulheres, macacos. Envenenam o nosso raciocínio. Envenenam as nossas vidas. Tal como os comentaristas do regime, pagos pelo regime para sustentar intelectualmente o regime. Tal como a propaganda televisiva, via informação, via entretenimento. Querem que nos tornemos macacos iguais a eles. Os macacos que servem e os que são servidos. A barbárie a que estamos a chegar. É preciso que o homem se erga, que atinja o super-homem. Dono de si mesmo, criador, sem Estados nem chefes, acima dos mercados e da economia. Livre. Absolutamente livre. Senhor sem escravos.

IMPERADOR


Imperador de mim mesmo
desço à cidade
ao Piolho
não há mulheres
para mim hoje
ouço a conversa do lado
falam de neendertais
o sub-homem
anda à solta
- diz o macaco de Deus
quer convencer-me
é um encantador
hábil no uso da palavra
um espírito superior
sinto a falta dele
olho as horas
estou de novo frágil
o imperador vacila
precisa de atenção
amor
vai ao fundo
de si mesmo
brilha
trava batalhas
guerras sangrentas
ergue o Graal
há mulheres
mas não para mim
conto as moedas
chegam para uma mini
no "77"
A Susana já não vem
a Marina também não
de qualquer forma,
hoje foi
um dia produtivo
na escrita
e na agitação
mas não deixo
de me sentir triste
o rock não rola
só há bola
na TV.