domingo, 30 de outubro de 2011
MULHERES
Precisava ler um jornal. Um jornal para me entreter. Para exercitar o cérebro. O "Diário" ou o "Correio do Minho". As notícias locais não estão tão contaminadas. Mas os jornais estão todos ocupados. Enfim, eis-me entregue ao caderno. Derramo-me na folha. Entrego-me ao mundo e ao Domingos do "Doce Convívio". Na Póvoa, um jornalista disse que eu escrevo à Fernando Pessoa. Muito me honra. De facto, o ritmo às vezes parece ser o mesmo. Estar-me-ão reservadas as glórias? Acredito que sim, eu tenho seguido o meu caminho, tenho evoluído, mudado de estilo. Estou sempre a auto-entrevistar-me. Com o "Café Paraíso" em alguns cafés posso tornar-me uma celebridade. Ah! Veio a menina bonita. Como ela se move. Como ela altera a minha vida. Está cheia de calor. Está de avental. Vai trabalhar. Trabalho não é comigo. Continuo a rabiscar papéis e a elevar a minha vida. Ao mesmo tempo, aspiro a ter o que Fernando Pessoa não teve em vida. Não que eu me situe ao nível de Pessoa. Mas, de facto, começo a ficar farto de caçadores de prémios. De qualquer maneira, a mim nunca me darão prémios. A minha escrita não é para prémios. Olho para as meninas bonitas e isso inspira-me. É o que é. Ouço-as falar, nem sequer falo com elas. Elas irritam-se com o mundo e eu também. Elas riem e eu observo à distância. Sim, ainda sou capaz de um certo lirismo. Apesar do caos, da barbárie, da tal descida aos infernos. Mas não deixo de olhar para a mulher que certamente trabalha ou estuda qualquer coisa, que faz qualquer coisa de diferente de mim mas que eu amo à distância. Amo-a realmente e nunca a vou ter. Kierkegaard dizia que é isso que eleva o poeta. Ontem, eu disse na rádio que não há alternativa à barbárie. Talvez tenha exagerado. É claro que acho que existe uma alternativa. Mas não acredito que seja com os partidos de esquerda parlamentar. Não têm força suficiente. Nem sequer o desejo. A revolução será violenta, a menos que seja espiritual. Espero por ela. Procuro-a incessantemente em mim. A menina bonita levanta-se e parte. Fala. As mulheres não param de falar. Eu fico calado. Limito-me a escrever e a observá-las. É o meu passatempo, a minha vida. Para isso vim. Estou aqui, vivo. Mais vivo do que nunca, apesar da aparente serenidade. Da serenidade grega. Venho de lá. Depois do caos, da descida aos infernos, vem o amor, o belo, a serenidade. É assim que eu tenho sido. É assim que eu tenho progredido. Preciso discutir isto com alguém. Depois das euforias, das alucinações e da depressão vem a serenidade, o amor, a bondade. Assim tenho crescido.
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