quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O INDIVÍDUO TODO INTEIRO

Estou lixado. Agora estou sempre com as tensões altas. Vou ter de cortar no café e na bebida. Ainda assim, como Max Stirner, acredito no império do indivíduo todo inteiro. Venho 
à confeitaria mas não sou do comércio. Sou do espírito, do pensamento, do sagrado. Tenho a certeza que, pelo menos alguns de nós, possuímos capacidades mentais prodigiosas. Daí que embora esteja dependente da saúde física, afirmo que o espírito é o mais importante, a vivacidade do espírito que cria, que constrói, que procura e pode alcançar a sabedoria. Acredito no indivíduo nobre, no indivíduo todo inteiro, no indivíduo soberano, que está para lá da luta pela existência. No indivíduo que quer espalhar o amor e a liberdade sobre a Terra.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A VIDA

Há livros que mudam a nossa vida, há outros que temos dificuldade em compreender. Há também a cerveja que nos desperta, que nos acelera o raciocínio, que nos dá ideias. Não estamos mal nestes dias. Criamos, inventamos, somos espírito e alma. Apesar da solidão e por causa da solidão, produzimos. Produzimos e não somos mercadoria. Produzimos fora da máquina. Somos livres. Somos livres em plena confeitaria. Bebemos à vossa. Ainda ontem estávamos tristes, hoje celebramos. Celebramos a vida, a vida autêntica, que não está presa ao mercado, ao capitalismo. A vida maior. A vida que corre nas veias. A vida que tínhamos à nascença. A vida que é vida. Sem imposições, sem castrações. Sem TV, sem telejornais. A vida que está no homem que escreve livremente à mesa. A vida que está no poeta. A vida que somos nós.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PIOLHO

Estou no Porto, no Piolho. Quase teso como muitas vezes. A Fátima Lopes imbeciliza. Bebo. Beberia muita mais se tivesse dinheiro. Passaria o resto da tarde e a noite a beber. De qualquer forma, a revolução nunca mais vem. De qualquer forma, é difícil alterar a maneira de pensar das pessoas. Tenho-o tentado ao longo dos últimos anos. Sou o poeta do Piolho. Já travei aqui discussões acesas, já lancei livros. Faz-me falta o Fred para me vir falar da espécie humana falhada. Faz-me falta quem debata comigo. Faz-me falta um amigo. Já tenho aparecido na rádio, nos jornais e até na televisão. No entanto, isso não faz de mim uma estrela. Ninguém me pode acusar de me ter vendido à publicidade ou ao capitalismo. Ainda faltam umas horas para o Pinguim. Não aparece ninguém. Nem homem nem mulher. Não há público para o poeta. Restam as imagens da televisão. Apesar deste aparente sossego, ainda há quem me ameace de porrada. As últimas vezes que andei à porrada levei. Por isso não me apetece andar à porrada. O gráfico simpático e maluco cumprimentam-me. Havia a Paulinha. Nunca mais a vi. Parece que até a Bárbara Guimarães apanha umas pielas. Porque não hei-de eu apanhar? Fui candidato à Câmara da Póvoa pelo MRPP mas não fui eleito. Nada tenho a perder. Já cá faltava o gordo atrasado mental do concurso. Não tenho motivos para estar contente. Estou entediado. Não tenho pachorra para as telenovelas nem para as vedetas da TV. Escrevo versos. Eis a minha profissão. Há 10 anos que vivo assim. Não me arrependo. Falo da vida, sobretudo da minha. Ao falar da minha falo da dos outros, pois os outros estão sempre presentes. Ao longo dos últimos 10 anos tenho publicado livros, tenho participado em sessões de poesia, tenho feito intervenções públicas e políticas. Não me arrependo. Tenho feito o que há a fazer. Estou de consciência tranquila. Bebo à vossa.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O POETA

O poeta está melancólico. Perdeu a pica. Se tivesse dinheiro, beberia para se animar. O poeta está só. Precisa da menina. O poeta está no Piolho. A cidade não o põe em cima. Começa a ficar em depressão. Pelo contrário, o outro poeta está cheio de gás. Escreve sem parar. O poeta está triste. O mundo é triste, o homem transformou o mundo num tédio, numa tristeza. O homem não é total. Nem o poeta, mesmo que lhe chamem livre. O homem está partido em pedaços. Não brilha. O poeta também não. Escreve para combater a melancolia. Às vezes preferia ser menos inteligente, ter menos capacidades para não sofrer tanto. O poeta sofre. Talvez quando vier o lançamento do próximo livro se sinta melhor. Costuma ser assim. Novo livro, novo ânimo. O poeta é da cidade. Vive-a. Mas hoje está definitivamente triste. Ensonado. Nada do que escreva o faz levantar. Ou talvez faça. Se se revoltar dentro de si mesmo. O poeta dá luta à depressão. Escreve. Observa os empregados de mesa. O Adriano traz o sumo. O poeta está quase sem dinheiro. Apetece-lhe berrar. O poeta está sem ninguém. Olha os espelhos, as portas, a gente que entra. O poeta vê-se ao espelho. Tem uma boa figura. Fica bem na imagem, na televisão. Apetecia-lhe beber. O poeta não é o único solitário. Passa horas no Piolho. Agora tem de aturar o gordo atrasado mental do concurso. Precisava da Gotucha. O Piolho começa a encher. Mas isso não alegra o poeta. O poeta que observa. O poeta que, mesmo melancólico, não se converte. A máquina não lhe faz a cabeça. O poeta que resiste. O poeta que ri.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

CONFISSÕES

Sei que tenho a capacidade de escrever grandes obras. Salvo nas grandes depressões, a inteligência não me tem faltado. Sou um pensador, um aprendiz de filósofo. Tenho ideias. Tenho a Ideia. Se a saúde não me faltar ainda tenho uns anos pela frente. Sinto falta das cartas, da correspondência com outros escritores. Por isso escrevo estas confissões. Até hoje alcancei a fama do poeta marginal, maldito. Mas penso que a minha obra não se pode resumir a isso. Tenho filosofado, tenho-me debruçado sobre as grandes questões da humanidade. Tenho procurado as respostas. Tenho também combatido o sistema, o capitalismo. Talvez por isso não me façam determinados convites. Mas eu tenho consciência de que tenho valor, de que posso atingir a glória. Glória que já tive, a espaços. Glória que há-de vir. Estou certo.

domingo, 29 de setembro de 2013

OLHOS

Tenho os olhos cansados. Tenho-os gasto muito hoje. Quem disse que o escritor, que o pensador não se cansa? Cansa-se e não é pouco. Trabalha com os olhos e com as ideias. Passa as ideias para o papel. É claro que há ideias que se perdem. Mas o escritor agarra as outras. Faz delas literatura. Pensa. Pensa o mundo e a vida. Acha ridículo que as pessoas se dividam em grupos. Que não construam mesas partilhadas. Que não discutam o que é realmente essencial. Que não vão ao fundo da questão. Que criem barreiras. Que não se dêem.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS

Até parece que há pessoas que temem que as crianças venham ter comigo. Devem desconfiar dos meus escritos, das minhas ideias políticas. Temem que influencie as suas crianças, que as traga para mim. "Venham a mim as criancinhas", disse Jesus. Temem que as desvie do percurso normal, que as leve a permanecerem crianças, que, mais tarde, questionem a máquina.

domingo, 15 de setembro de 2013

A VERDADEIRA VIDA

Seria preciso educar as pessoas. Levá-las a compreender que a verdadeira vida não está na televisão nem no futebol. Que a verdadeira vida está na criação, na arte, na beleza. Que a verdadeira vida está no mergulho no abismo, na vida interior, nos deuses e demónios que temos dentro de nós. Não na vidinha, no quotidiano entediante e previsível. Que a verdadeira vida está na vida gratuita, no facto de termos nascido de graça, no facto de habitarmos poeticamente a terra. Está também na comunhão, na celebração, na embriaguez, naquilo que fazemos de livre vontade, sem castrações nem dominação. Está naquilo que não nos é imposto, que não é pago nem mediado. Está na criança eterna que mantemos dentro de nós. Está na juventude que não perdemos. Está na espontaneidade, no dizer não ao deve e haver da economia, da finança que tudo reduz ao número, que emporcalha as relações humanas. Seria preciso educarmos as pessoas na liberdade.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Começo a ser o mais louco dos poetas actuais. Já pouco temo. Digo o que quero. Escrevo o que quero. O homem comum não cresce, não evolui, não se enriquece. Por isso é-me difícil dialogar com ele. Sou também o mais ousado, o que insulta Deus e o presidente. O que celebra a mulher presente. Vivo uma espécie de segundo nascimento, de segunda infância. Os dias são grandes como os do antigamente. Começo a ser o mais louco dos poetas actuais. Não tenho limites. Danço com Zaratustra. Como Rimbaud, como Baudelaire vou até ao inferno e volto. Sinceramente não vejo mais ninguém assim. Estou cada vez mais desalinhado. Cada vez mais longe do homem comum, embora o saúde. Sou o mais louco dos poetas actuais. Refugiado na confeitaria da aldeia, o mundo espera por mim, pela poesia incendiária. A poesia incendiária vai tomar conta do mundo.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ESTE OFÍCIO DE ESCREVER

Este ofício de escrever. Dá gozo mas é um trabalho como os outros. Não tenho horários fixos, é certo. Nem sequer escrevo romances, histórias. É apenas isto. A tinta preta na folha. O que tenho à minha frente e o que me sai da cabeça. Não tenho aquela disciplina. Nem ando sempre a fazer correcções. Houve quem me acusasse de ter o tempo todo para escrever e supostamente por isso, e somente por isso, escrever melhor. Houve quem me quisesse deitar abaixo mas a Gotucha não deixou. Eu sei que, mais tarde ou mais cedo, vou ser realmente reconhecido. Porque sou um marginal, um maldito, mesmo que tenha coisas que nada têm de marginal. Mas, enfim, fica a fama. Posso perfeitamente chegar a um desses programas imbecis e partir a loiça toda. Posso perfeitamente estoirar.

sábado, 24 de agosto de 2013

BRASILEIRA

Uma cervejinha sabe bem aqui n' "A Brasileira" onde as burguesas falam. Sou realmente o poeta d' "A Brasileira". Não vejo mais nenhum. Sou o único que vem para aqui escrever. Se calhar já merecia uma estátua. Bem, o que é facto é que sou um poeta n' "A Brasileira". Escrevo para o mundo, para o que der e vier. Vejo as pessoas a passar na rua de São Marcos. Observo.

domingo, 18 de agosto de 2013

O GRITO PRIMITIVO

É claro que há gente amável. Contudo, como dizem os filósofos, este mundo não presta. O capitalismo pôs-nos a competir uns com os outros. Está tudo nas mãos dos especuladores, dos usurários, dos agiotas. Um mundo com o amor controlado, com a liberdade controlada, quase sem poesia. É também um mundo onde não se questiona a própria existência, onde não se questiona o que se está a fazer aqui. É claro que há gente amável, que nos ouve, que nos respeita, gente que até se aproxima das nossas ideias. No entanto, a máquina é implacável, torna o homem detestável, um predador, um competidor, cheio de medo do seu semelhante e da própria máquina. Não, não me canso de dizer. Esta vida não serve. Destrói-nos, diminui-nos, faz de nós escravos e macacos. Urge ir atrás da liberdade, do grito primitivo.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ATRAVESSA A NADO PARA O OUTRO LADO.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

INSPIRAÇÃO

E, de repente, volta aquilo a que chamam a inspiração. De repente, as palavras vêm fáceis. E até aprecio o sorriso burguês da patroa. As mulheres enlouquecem com os bebés. Beijam-os, fazem-lhes festas. Outros vêm aos bolos e ao pão. Como se a vida fosse bela. Mas não é. Estas pessoas vão ganhando a vida, distraem-se com os bebés, com as revistas e com a televisão. Eu não me contento com isso. Eu quero chegar lá, à glória, à revolução. Não ganho a vida nem me esforço por isso. Não faço negócios. Eu quero dizer o que penso na televisão. Já lá estive. Quero voltar. No fundo, quero ser um filósofo. Já sou o poeta maldito, marginal, underground. Já cheguei a muitos lugares. Vivi noites e noites, no Porto, em Braga, na Póvoa, em Vila do Conde. Vivi copos e copos, aventuras, putas, diversões. Estive no bar até ser dia, tive conversas filosóficas, tripei, tive alucinações. Estive onde muita gente nunca esteve, sou diferente. Estou pronto para dar o próximo passo.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

É necessária uma revolução porque o capitalismo não presta. A imbecilização, a publicidade, o "Big Brother" que tudo comanda fazem do homem um escravo, um ser desprovido de humanidade. Os banqueiros, os mercados e os governos ao seu serviço estão a destruir o homem de tal modo que este raramente se questiona, raramente sabe o que está a fazer na Terra. Daí que seja necessária uma tomada de consciência desde a juventude, desde a adolescência. Urge um forte abalo nas mentes, nos espíritos para que, de uma vez por todas, se comece a vencer o capitalismo e a ditadura da economia. A revolução começa nas nossas cabeças, nos nossos corações. Daí partirá para a rua. Não basta combater este ou aquele governo, é necessário combater o capitalismo dos mercados na sua essência, é necessário ir à essência do homem, promover ao máximo o livre desenvolvimento das suas potencialidades, questionar o dinheiro e o lucro. O homem livre, o homem plenamente desenvolvido, derrotará o capitalismo.