sábado, 8 de fevereiro de 2014
O SOCIALISMO COMO LIBERTAÇÃO
"O socialismo só tem sentido como libertação dos indivíduos das suas preocupações económicas para que possam enfim abrir-se aos verdadeiros problemas da alma, aos aspectos interiores, silenciosos e irracionais da vida humana", escrevem Michael Lowy e Robert Sayre em "Revolta e Melancolia", a propósito de Ernst Bloch. Daí que o mundo do primado da economia, do cálculo, do interesse, das percentagens tenha de ser ultrapassado. O homem deve dedicar-se aos problemas da alma, ao amor, à liberdade, deve enriquecer a sua vida interior, deve cultivar-se. O homem deve dedicar-se ao que é gratuito, qualitativo, dádiva. Deve voltar à criança que foi, deve brincar com a vida e desenvolver plenamente as suas potencialidades fora das pressas, das pressões, das castrações da sociedade capitalista.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
ESTE MUNDO NÃO PRESTA
Em Portugal 83 mil pessoas
perderam os apoios sociais. Só 45% dos desempregados recebem o subsídio de
desemprego. Onde está o "milagre económico"? Onde está a recuperação
apregoada pelo Governo? Há cada vez mais pessoas na pobreza ou em vias disso. É
desumano.
Para além do mais, somos governados pelas leis da economia e da técnica, pela ideologia do rendimento e do progresso que tudo devora. É a desnaturação das relações humanas, o mundo das mercadorias, o "Big Brother" mediático, a destruição e marginalização de todos os valores espirituais. Não, esta sociedade não presta. Destrói o ser humano, converte-o em escravo do seu semelhante- aqueles que governam, que dirigem as grandes multinacionais, os investidores, os especuladores, os agiotas. Nunca o espírito e o coração do homem foram tão violentados. Nunca foi tão urgente tomar a palavra e passá-la. Sim, o capitalismo vai rebentar nem que seja daqui a 20 ou 30 anos. O homem e os seus ideais estão feridos de morte. Urge uma tomada de consciência. Eles querem destruir a nossa vida. O andar livre pelas ruas, a discussão livre, a criação. O homem livre. Amor, liberdade, poesia- gritam os surrealistas. Discutamos o homem, proclamemos o homem livre. Juntemo-nos. Reinemos sobre os merceeiros.
Para além do mais, somos governados pelas leis da economia e da técnica, pela ideologia do rendimento e do progresso que tudo devora. É a desnaturação das relações humanas, o mundo das mercadorias, o "Big Brother" mediático, a destruição e marginalização de todos os valores espirituais. Não, esta sociedade não presta. Destrói o ser humano, converte-o em escravo do seu semelhante- aqueles que governam, que dirigem as grandes multinacionais, os investidores, os especuladores, os agiotas. Nunca o espírito e o coração do homem foram tão violentados. Nunca foi tão urgente tomar a palavra e passá-la. Sim, o capitalismo vai rebentar nem que seja daqui a 20 ou 30 anos. O homem e os seus ideais estão feridos de morte. Urge uma tomada de consciência. Eles querem destruir a nossa vida. O andar livre pelas ruas, a discussão livre, a criação. O homem livre. Amor, liberdade, poesia- gritam os surrealistas. Discutamos o homem, proclamemos o homem livre. Juntemo-nos. Reinemos sobre os merceeiros.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
BRAGA, MEU AMOR
Vivo o que escrevo. Não faço
floreados. Em plena "A Brasileira" renasço. Sou o que vem de dentro.
Não deixo de ser amável com as pessoas. Amo esta cidade. As suas ruas, os seus
edifícios, os seus monumentos. Por isso a celebro. Por isso aqui amo a
humanidade. Por isso aqui reino. Aqui fervilha a vida. Aqui as pessoas parecem
diferentes. Aqui vivo, aqui sou. Aqui em Braga proclamo o novo mundo. Um mundo
sem relógios nem TV. Um mundo de invenção e descoberta. Um mundo sem opressão.
Aqui sinto-me mais próximo do super-homem, do homem pleno, do homem que se dá.
Aqui sou eu próprio, o homem que pensa e cria, o homem que compreende e
desafia. Aqui sou fogo, aqui me acendo. Aqui sou poema. Aqui sou mais eu.
domingo, 19 de janeiro de 2014
TRIUNFANTE
Há noites de poesia em que
me custa a soltar, em que fico atado, em que não me consigo expressar fora do
poema. É claro que já aconteceu o completo contrário. Noites em que me soltei
completamente, em que o discurso flui, em que sou o dono da palavra. Ontem à
noite, no Olimpo, entrei a medo e depois fui subindo mas não cheguei ao animal
de palco. Noutras ocasiões fui a estrela. É claro que o número de espectadores também conta. Puxa mais a sala cheia.
Mas enfim, o dia prossegue e estamos aqui vivos. Ainda estamos muito a tempo, a
tempo de escrever e de fazer a obra. Nem sei porque há dias em que me preocupo
tanto. Há, de facto, uma missão a cumprir. Uma missão que pode recomeçar aqui
no Ceuta. Bem sabemos que o capitalismo é feroz, que nos inferniza os dias. Mas
nós, em certos aspectos, saímos do capitalismo. É claro que temos de pagar o
café. No entanto, não temos chefes a mandar em nós nem temos a máquina do
trabalho em cima de nós. Temos todo o tempo do mundo. Vimos até ao Ceuta,
lemos, estudamos e escrevemos o que nos apetece, o que nos vem à cabeça. Aí
somos o homem livre. Mesmo não escrevendo romances, histórias, somos o homem
livre. No fundo, estou a escrever a história da minha vida. Tenho todo o tempo
do mundo. O meu compromisso é com a escrita. Venho até ao Porto. Até porque se
ficasse em casa entrava em depressão. Escrevo o texto contínuo. Sempre disseram
que eu sou inteligente. Talvez não esteja ao meu alcance a genialidade de
alguns. Não tenho que ser narcisista como tenho sido. Não tenho que me armar em
prima-dona. Sou capaz de atingir certos cumes, outros não. Às vezes escrevo
para matar o tempo, para me exercitar. Mantenho-me fiel ao caderno e à caneta.
Não trago o computador para o café. Às vezes sinto-me um bicho diferente dos
outros. Talvez não tenha aquela erudição. Vou-me construindo. Vou-me
enriquecendo. Se bem que haja dias em que parece que ando para trás. Os tais
dias em que me deixo levar pelo capitalismo, pela bola, sei lá. No entanto,
aqui chegados, sentimo-nos triunfantes. Triunfantes, sem euforias. Convencidos
de que a máquina apenas nos afecta em parte, às vezes quase nada. Sim, estamos
triunfantes.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
A PEÇA DA ENGRENAGEM
Segundo Erich Fromm, com o capitalismo a actividade
económica, o sucesso, as vantagens materiais, passam a ser fins em si mesmos.
"O destino do homem torna-se contribuir para o crescimento do sistema
económico, acumular capital, não tendo em vista a sua própria felicidade ou
salvação, mas como um fim em si mesmo". O homem converte-se numa peça da
engrenagem da máquina económica, cada vez mais isolado, solitário e imbuído de uma sensação de insignificância e
impotência. O homem alienou-se do produto das suas próprias mãos. O mundo por
si construído converteu-se no seu patrão, no seu Deus. As próprias relações
entre os homens são regidas pelo mercado, marcadas pela manipulação e pela
instrumentalidade. As relações entre os seres humanos são de negócio, entre
coisas. Daí que, com o capitalismo levado até aos seus extremos, com as
lavagens ao cérebro que nos tentam fazer todos os dias, o mundo tenha chegado a
um ponto sem saída. O homem está a ser destruído. Se ainda somos humanos temos
que rebentar com isto.
domingo, 5 de janeiro de 2014
O RENASCIMENTO DO HOMEM
O homem
está a ser violentado na sua essência. Não é apenas o imperialismo alemão, não
são apenas os cortes nos salários e nas pensões, não é apenas o empobrecimento
das pessoas. É o próprio espírito humano que está a ser violentado, que não
consegue completar-se, acossado pela TV e pelo capitalismo que o reduzem ao
número, à coisa, à mercadoria. Seria necessário um renascimento do homem que se
impusesse a um quotidiano
entediante e insuportável, que se impusesse à grande mercearia, que vencesse as
lavagens ao cérebro e o "Big Brother". Seria necessário um
renascimento do homem que o devolvesse a si mesmo, às suas profundezas, à sua
genialidade, que o fizesse reencontrar-se com o sonho, com a luz, com a poesia.
Seria necessário um renascimento do homem que o restituísse ao amor e à
liberdade, que o fizesse reviver o seu ser, o seu espírito na sua plenitude.
Que o fizesse dançar
domingo, 29 de dezembro de 2013
OBEDECE
Obedece.
Consome. Dorme. Vê TV. Submete-te. Conforma-te. Não há livre pensamento. Não
questiones a autoridade. O dinheiro é Deus. Casa e reproduz-te. Eis o
capitalismo do séc. XXI. Eis no que eles- capitalistas, especuladores,
políticos do sistema- querem no que te tornes. Eles entram no teu pensamento,
formatam-te as ideias, via media, via publicidade. Qual "1984" de
Orwell, qual "Admirável Mundo Novo" de Huxley. Eles controlam-te. Por
isso tens de seguir a via do pensamento soberano, da criação. Por isso tens de
despertar, de te revoltar contra o instituído, de ir às profundezas de ti mesmo, de te
encontrar. Por isso tens de te unir àqueles que pensam como tu.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
O EU TODO-PODEROSO
É madrugada. Escrevo. Não estou na rua Carlos Teixeira mas na rua da Senra. A Leonor não dorme a meu lado. Zangou-se comigo. Não consigo dormir. Os comprimidos não fazem efeito. Tenho altos e baixos durante o dia. Serei eu, de facto, um grande poeta ou terei a capacidade de vir a sê-lo? Ou não passo de um escritor mediano? Sim, creio que tenho em mim a grandeza, a busca da idade do ouro, de um Graal. Vou encontrando as respostas nos livros. Há ouro dentro de mim. Há a infância. Como Rimbaud derramo fogo. Não, não sou dos menores. Tenho em mim a vida. Celebro-a. Os galos cantam. Não estou na Carlos Teixeira. A Leonor não está. Apesar disso, sinto-me mais senhor. A caminho do "eu todo poderoso" de Stirner. Insulto o universo. Amaldiçoo os poderosos, os ricos, os banqueiros. Porque hão-de ter eles tudo enquanto eu ando aqui a contar os trocos? Que valem eles mais do que eu? Quanto vale a minha obra? Atingi um patamar em que sou realmente um Poeta, um filósofo até.
É madrugada. Escrevo. Os deuses vêem ter comigo e coroam-me rei. Rei de outras eras, de Camelot, de Elsenor. Rei nestes tempos do mercado e da troca. Rei que corteja as mulheres. Senhor do tempo e da vida. Não, não me apanhais. Estou liberto. Não tenho as vossas maneiras. Venho buscar o indivíduo todo inteiro, o novo messias. Venho procurá-lo na cidade, na aldeia. Venho procurá-lo nos livros. Acendo-me. Sou. Faço parte de uma tribo de iluminados. Não sei explicar. Venho de uma estrela. Sou o Eu todo-poderoso.
É madrugada. Escrevo. Os deuses vêem ter comigo e coroam-me rei. Rei de outras eras, de Camelot, de Elsenor. Rei nestes tempos do mercado e da troca. Rei que corteja as mulheres. Senhor do tempo e da vida. Não, não me apanhais. Estou liberto. Não tenho as vossas maneiras. Venho buscar o indivíduo todo inteiro, o novo messias. Venho procurá-lo na cidade, na aldeia. Venho procurá-lo nos livros. Acendo-me. Sou. Faço parte de uma tribo de iluminados. Não sei explicar. Venho de uma estrela. Sou o Eu todo-poderoso.
domingo, 15 de dezembro de 2013
TRISTEZA E ALEGRIA
A
tristeza, a alegria, a depressão, a euforia são elementos fundamentais da nossa
vida. Daí que devamos estar sempre atentos a esses sintomas, mais do que às
flutuações da economia. E cada vez há mais pessoas tristes, deprimidas, devido
a um sistema capitalista que nos afasta, que nos torna avarentos, mesquinhos,
interesseiros, sem coração. Estamos a caminho da barbárie. Guerreamo-nos por
lugares, por empregos, pelo estatuto. O amor vai rareando. Tudo é frio, gélido
como os números dos mercados. A vida perde o sentido.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
TÉDIO
Além dos problemas económicos, o principal problema é o tédio. "As pessoas vivem, mas não se sentem vivas", como diz Erich Fromm. O homem moderno sente-se como uma coisa, "a materialização de energias a serem investidas com lucro no mercado". (O homem) "experimenta o seu próximo como uma coisa a ser usada numa troca lucrativa", ainda Fromm. O tédio de nos sentirmos como coisas, como mercadorias, como peças da engrenagem. Daí que nos perguntemos o que estamos a fazer aqui, porque nascemos para viver este inferno, esta "vida" onde somos infelizes, onde nos limitamos a seguir os outros, a desenvolver as mesmas tarefas. Daí que estejamos deprimidos, que pensemos no suicídio, que não encontremos sentido nisto. Raramente há amor, a liberdade está castrada por um mundo de números, de percentagens, de ecrãs. Urge romper.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
O INDIVÍDUO TODO INTEIRO
Estou
lixado. Agora estou sempre com as tensões altas. Vou ter de cortar no café e na
bebida. Ainda assim, como Max Stirner, acredito no império do indivíduo todo
inteiro. Venho
à confeitaria mas não sou do comércio. Sou do espírito, do pensamento, do sagrado. Tenho a certeza que, pelo menos alguns de nós, possuímos capacidades mentais prodigiosas. Daí que embora esteja dependente da saúde física, afirmo que o espírito é o mais importante, a vivacidade do espírito que cria, que constrói, que procura e pode alcançar a sabedoria. Acredito no indivíduo nobre, no indivíduo todo inteiro, no indivíduo soberano, que está para lá da luta pela existência. No indivíduo que quer espalhar o amor e a liberdade sobre a Terra.
à confeitaria mas não sou do comércio. Sou do espírito, do pensamento, do sagrado. Tenho a certeza que, pelo menos alguns de nós, possuímos capacidades mentais prodigiosas. Daí que embora esteja dependente da saúde física, afirmo que o espírito é o mais importante, a vivacidade do espírito que cria, que constrói, que procura e pode alcançar a sabedoria. Acredito no indivíduo nobre, no indivíduo todo inteiro, no indivíduo soberano, que está para lá da luta pela existência. No indivíduo que quer espalhar o amor e a liberdade sobre a Terra.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
A VIDA
Há livros que mudam a nossa vida, há outros que temos dificuldade em compreender. Há também a cerveja que nos desperta, que nos acelera o raciocínio, que nos dá ideias. Não estamos mal nestes dias. Criamos, inventamos, somos espírito e alma. Apesar da solidão e por causa da solidão, produzimos. Produzimos e não somos mercadoria. Produzimos fora da máquina. Somos livres. Somos livres em plena confeitaria. Bebemos à vossa. Ainda ontem estávamos tristes, hoje celebramos. Celebramos a vida, a vida autêntica, que não está presa ao mercado, ao capitalismo. A vida maior. A vida que corre nas veias. A vida que tínhamos à nascença. A vida que é vida. Sem imposições, sem castrações. Sem TV, sem telejornais. A vida que está no homem que escreve livremente à mesa. A vida que está no poeta. A vida que somos nós.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
PIOLHO
Estou no Porto, no Piolho. Quase teso como muitas vezes. A Fátima Lopes imbeciliza. Bebo. Beberia muita mais se tivesse dinheiro. Passaria o resto da tarde e a noite a beber. De qualquer forma, a revolução nunca mais vem. De qualquer forma, é difícil alterar a maneira de pensar das pessoas. Tenho-o tentado ao longo dos últimos anos. Sou o poeta do Piolho. Já travei aqui discussões acesas, já lancei livros. Faz-me falta o Fred para me vir falar da espécie humana falhada. Faz-me falta quem debata comigo. Faz-me falta um amigo. Já tenho aparecido na rádio, nos jornais e até na televisão. No entanto, isso não faz de mim uma estrela. Ninguém me pode acusar de me ter vendido à publicidade ou ao capitalismo. Ainda faltam umas horas para o Pinguim. Não aparece ninguém. Nem homem nem mulher. Não há público para o poeta. Restam as imagens da televisão. Apesar deste aparente sossego, ainda há quem me ameace de porrada. As últimas vezes que andei à porrada levei. Por isso não me apetece andar à porrada. O gráfico simpático e maluco cumprimentam-me. Havia a Paulinha. Nunca mais a vi. Parece que até a Bárbara Guimarães apanha umas pielas. Porque não hei-de eu apanhar? Fui candidato à Câmara da Póvoa pelo MRPP mas não fui eleito. Nada tenho a perder. Já cá faltava o gordo atrasado mental do concurso. Não tenho motivos para estar contente. Estou entediado. Não tenho pachorra para as telenovelas nem para as vedetas da TV. Escrevo versos. Eis a minha profissão. Há 10 anos que vivo assim. Não me arrependo. Falo da vida, sobretudo da minha. Ao falar da minha falo da dos outros, pois os outros estão sempre presentes. Ao longo dos últimos 10 anos tenho publicado livros, tenho participado em sessões de poesia, tenho feito intervenções públicas e políticas. Não me arrependo. Tenho feito o que há a fazer. Estou de consciência tranquila. Bebo à vossa.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
O POETA
O poeta está melancólico. Perdeu a pica. Se tivesse dinheiro, beberia para se animar. O poeta está só. Precisa da menina. O poeta está no Piolho. A cidade não o põe em cima. Começa a ficar em depressão. Pelo contrário, o outro poeta está cheio de gás. Escreve sem parar. O poeta está triste. O mundo é triste, o homem transformou o mundo num tédio, numa tristeza. O homem não é total. Nem o poeta, mesmo que lhe chamem livre. O homem está partido em pedaços. Não brilha. O poeta também não. Escreve para combater a melancolia. Às vezes preferia ser menos inteligente, ter menos capacidades para não sofrer tanto. O poeta sofre. Talvez quando vier o lançamento do próximo livro se sinta melhor. Costuma ser assim. Novo livro, novo ânimo. O poeta é da cidade. Vive-a. Mas hoje está definitivamente triste. Ensonado. Nada do que escreva o faz levantar. Ou talvez faça. Se se revoltar dentro de si mesmo. O poeta dá luta à depressão. Escreve. Observa os empregados de mesa. O Adriano traz o sumo. O poeta está quase sem dinheiro. Apetece-lhe berrar. O poeta está sem ninguém. Olha os espelhos, as portas, a gente que entra. O poeta vê-se ao espelho. Tem uma boa figura. Fica bem na imagem, na televisão. Apetecia-lhe beber. O poeta não é o único solitário. Passa horas no Piolho. Agora tem de aturar o gordo atrasado mental do concurso. Precisava da Gotucha. O Piolho começa a encher. Mas isso não alegra o poeta. O poeta que observa. O poeta que, mesmo melancólico, não se converte. A máquina não lhe faz a cabeça. O poeta que resiste. O poeta que ri.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
CONFISSÕES
Sei que tenho a capacidade de escrever grandes obras. Salvo nas grandes depressões, a inteligência não me tem faltado. Sou um pensador, um aprendiz de filósofo. Tenho ideias. Tenho a Ideia. Se a saúde não me faltar ainda tenho uns anos pela frente. Sinto falta das cartas, da correspondência com outros escritores. Por isso escrevo estas confissões. Até hoje alcancei a fama do poeta marginal, maldito. Mas penso que a minha obra não se pode resumir a isso. Tenho filosofado, tenho-me debruçado sobre as grandes questões da humanidade. Tenho procurado as respostas. Tenho também combatido o sistema, o capitalismo. Talvez por isso não me façam determinados convites. Mas eu tenho consciência de que tenho valor, de que posso atingir a glória. Glória que já tive, a espaços. Glória que há-de vir. Estou certo.
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