segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Filho,
olha a lua
como é bela
agora é tua
és a luz
vens da ilha

Procura a mulher
dá-lhe filhos
cobre a terra

atravessaste o caos
estás curado
como no princípio
o amor venceu
a guerra.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DA ILHA


De há uns anos a esta parte ganhei um modo de vida, tal como diz o dr. Jorge Marques. Talvez desde há seis ou sete anos. Antes só escrevia quando a coisa batia. E agora sou capaz de escrever em estilos diferentes. Aos 18/19 anos já escrevia bons poemas: "Mulher Ausente", "Representação", "Ausência". Talvez se nessa altura me tivesse dedicado à escrita já tivesse ido mais longe. O "Á Mesa do Homem Só" teve uma grande crítica no Diário de Notícias. O Teixeira Moita diz que os últimos textos são os melhores. Sem dúvida que posso chegar lá onde quero- à glória- talvez só depois de morto ou gravemente doente. Dos 19 aos 27/28 estive a fazer outras coisas para lá da escrita. Estive a pôr à prova os limites da realidade, como dizia o Jim, sempre o Jim. Combati o mundo. Apanhei porrada. Vivi o que outros nunca viveram, às vezes em apenas algumas noites, alguns dias. A minha mãe, a minha família, nunca o compreenderão. Depois aos 38/39 também fiz grandes viagens. Cheguei ao além Deus sem precisar de ácidos ou mescalina. Quem perceberá isto? Morrison, Nietzsche, Shakespeare, Miller, Rimbaud, Ginsberg, Kerouac, Cesariny, poucos mais. Há para aí uns putos que nunca chegaram lá perto e estão convencidos de que são bons. Há mesmo escritores ditos consagrados que pensam o mesmo. Eu vivi mesmo as visões, as alucinações. Agora posso dizê-lo. Estou lúcido. Julguei-me Jesus, Deus, o super-homem. E agora estou aqui num cafézito de Vila Nova de Telha sem mulheres, sem ninguém a quem contar esta estória. Aliás, o que é que isto conta para aqueles e aquelas que só têm futebol, trabalho, família e cuscuvilhice na cabeça? Eu estou a falar da "verdadeira vida" de Rimbaud. Mantenho o velho hábito de escrever à mão em cadernos. Este ano estive no 12 de Março, estive na acampada da Batalha com os putos. Recebi uma grande ovação no Campo Alegre. Vivi. Estive do lado da vida. A menina cai e eu preocupo-me. "Prefiro um festim de amigos à família gigante", outra vez o Jim. Talvez devesse falar também assim por imagens. De facto, afastei-me da família gigante. Quando volto lá é como se lá não estivesse. Segui o meu caminho, mesmo quando me desloco apenas ao café da esquina. Afastei-me da vidinha, das conversas da vidinha, daqueles que dizem "vem por aqui!". Não fui. Não vou. Não sou deles, não embarco na felicidade da maioria- carro, frigorífico, casinha. Tenho andado por terras distantes. Nem sequer as consigo descrever. Sei apenas que já tive o ouro. Há dias, como na era das grandes depressões, em que não me consigo expressar. Sei que venho de outros reinos, de outras estrelas, já fui rei, agora tenho a certeza. Por isso, desejo ardentemente as mulheres que, em tempos, foram minhas. Por isso, amo o Graal e Artur. Há quem lhe chame lendas. Estou como Céline. Estou farto da razão, do útil, do interesse. Não consigo viver encarcerado na razão. Está próximo o dia em que voltarei a explodir. Sou dos grandes. Quixote contra os moinhos. Sou da lenda. De Prometeu, de édipo. Quero trazer o conhecimento e as artes aos humanos. Talvez, como Nietzsche, apenas aos meus companheiros, às minhas companheiras. Onde estão eles, onde estão elas? Onde estão eles neste deserto, nesta aldeia inóspita? Sou Perceval. Vislumbro o Graal, a glória. Tenho a sabedoria mas não tenho a quem a transmitir. Limito-me a ser amável com os meus semelhantes, volto a escrever como na "Ressaca". Houve uma altura em que fiz rir os homens, em que escrevi literatura mundana. Agora volto à terra do meu pai, à terra do ouro. Que poderei eu ser senão poeta, senão profeta? Para quê cantar os imbecis da política e da vida? Sê grande, Pedro. Não te preocupes com capelinhas. Sê o bardo. Procura as mulheres belas. Canta-lhes a "Odisseia". Canta-lhes os lugares onde estiveste. Hás-de saber descrever todos os lugares onde estiveste. Volta. Não te deixes levar pelos jornais nem pela "vida prática". Conheceste os grandes, subiste aos céus. Há um país, uma ilha. Não te lembras bem. Havia um rei generoso que te dava tudo. Que te fez guardião da sabedoria. Depois esqueceste. Percorreste as ruas de Atenas. Ouvias Sócrates e começaste a fazer-lhe perguntas. Estiveste também com Diógenes, que te deu uns berros e te acordou de novo. Começaste a recordar a sabedoria. Então, não sabes porquê, vieste dar à terra. Já não eras rei. Desprezaram-te. Não tinhas ouro. Mas quando subias ao palco recebias palmas. Era a tua glória. Alguns invejavam-te. Só a espaços te recordavas da sabedoria. Algumas mulheres aproximavam-se de ti mas temiam a tua pobreza. Hoje a sabedoria voltou a iluminar-te. Voltaste ao rei e a Diógenes. Apetece-te insultar o homem comum e a sua pequena existência. Mas, por outro lado, sentes-te maior. Estás a escrever o livro. A tua vida agora faz todo o sentido. Não falas a linguagem do homem comum. Ñem te apetece fazê-lo rir. Queres ser maiêutico. De qualquer forma, já viveste o caos e o caos está à porta. Vieste da ilha. És da ilha. Agora sabes.

domingo, 14 de agosto de 2011

DO NOVO LIVRO


Quero escrever um livro que questione o homem e o seu pensamento, que aborde as questões da felicidade, da liberdade, do sentido da existência. Penso que, neste momento, sou capaz de fazê-lo. Aos 16 anos escrevi um texto sobre a liberdade. Perdeu-se. Quero dedicar esse livro aos que agora têm 16 anos e aos jovens de todas as idades. Creio que as questões essenciais são o que fazemos aqui, o que no...s trouxe ao mundo, em que pensamos. Creio que somos consequência de uma dádiva, não viemos ao mundo em função de razões utilitárias ou de progresso. Independentemente dos nossos credos religiosos, transportamos em nós algo de mágico, a própria vida, o espírito, o pneuma. E nada está acima da vida, da vida pela vida. Por que raio é que temos de suportar toda uma existência passada atrás do dinheiro, da acumulação de dinheiro e do conforto material? Que sentido faz esse primarismo de macacos de mercearia? Nós estamos cá para fruir, para gozar a vida e não a sub-vida mercantil. Tentai perceber-me, companheiros. A vidinha do progresso e do sucesso material tem levado a mais casos de depressão, esquizofrenia, doenças bipolares, outros distúrbios mentais, suicídios, além da pobreza e miséria materiais. A vidinha do capitalismo mercantil espeta-nos, via media, propaganda venenosa no intelecto todos os dias, ferindo a nossa capacidade de raciocínio. O corropio desenfreado dos números dos mercados e das bolsas atira-nos para a impotência. É preciso, antes de mais, que pensemos, que reflictamos sobre o problema e que nos inquietemos. Não estamos, de forma alguma, no caminho da felicidade. Mesmo que haja festas, divertimentos, eles correspondem a um hedonismo ilusório. Não somos o deus que dança e ri, como Dionisos. A festa tem sempre um fim. “This is the end”, como cantou Morrison ou é o “Apocalipse Now” de Coppola quando as misses da “Playboy” abandonam a floresta de helicóptero. A seguir à festa vem sempre o trabalho, o sacrifício. A festa nunca é permanente. É a cultura do trabalhar, do arranjar trabalho para sacar dinheiro, para sobreviver que predomina. E depois de arranjares trabalho, começas a assentar, casas ou juntas-te, tens filhos, envelheces e assim assassinam a tua juventude, a tua infância. É isso que o capitalismo quer: destruir a tua juventude. É, por isso, que não podes aceitar mais este estado de coisas. Mesmo os partidos de esquerda não abordam estes assuntos, ficam-se pela rama, pelas reivindicações económicas, pela intriga política. O trabalho imposto mata a tua liberdade, a tua juventude. Escrevo este livro para te dar conta disto. Tens de seguir a via da vida, da vida exuberante, festiva, também na procura de conhecimento, como defendem Nietzsche e Henry Miller. Fomos postos aqui por uma espécie de bênção. Não podemos deixar que a estraguem. Quem é que disse que o dinheiro e o trabalho imposto são uma fatalidade?

.

sábado, 13 de agosto de 2011

Um homem vem ao café. Tem a cabeça cheia de ideias mas guarda-as para si. Divulga-as apenas no facebook, não no café, a menos que aqui viesse dizer poemas. O homem não está numa fase eufórica. Aparentemente, vem aqui apenas beber e escrever. Não faz comícios nem fica bêbado. Guarda as ideias para outros públicos. Aguarda a sua hora. Aprendeu as normas da convivência. Só alguns conhecem a sua loucura.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

VENHA OUTRO MUNDO


Vamos tirar o medo das nossas ruas, vamos restaurar a lei e a ordem", diz David Cameron, primeiro-ministro britânico. O medo já está nas ruas, sr. Cameron. O vosso capitalismo monetarista tornou o homem lobo do homem. Os vossos comentadores e os vossos telejornais envenenam a nossa cultura e nossa inteligência. A vossa austeridade deixa-nos de tanga. A vossa lei e a vossa ordem castram-nos o desejo. Daí que a juventude reaja desta forma. É o desespero. O "No Future" dos Sex Pistols. De nada vos adianta permanecer no sossego e no tédio dos vossos lares, de nada vos adiantam os sorrisos e os cumprimentos, de nada vos adianta a simpatia de circunstância, de nada vos adiantam os trocos que ainda tendes para jantar fora, de nada vos adianta ir para o trabalho escravizados todos os dias, de nada vos adianta ir para a praia, daqui a 15 dias ides regressar à escravatura, de nada vos adianta jogar no "euromilhões", de nada vos adianta a felicidade fabricada, de nada vos adianta olhar para a bola, de nada vos adianta fazer de conta que nada se passa. Este vosso mundo está a destruir-vos. Venha outro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CAFÉ CENTRAL


No café central bebo
como Owne há 27 anos
não espero ninguém
apenas bebo
a TV passa rituais
religiosos do Perú
e eu ouço os mestres
faço filosofia
dialogo com Sócrates
e Nietzsche
estou atento
aos motins de Inglaterra

Gosto de andar
assim à solta
sem constrangimentos
sem que ninguém
me imponha nada
sou o homem da liberdade
como tu, Jim
de vez em quando
faço loucuras no palco
de vez em quando
fico bêbado
apesar dos conselhos
médicos
estou no café central
e estou a milhas
de distância.


Vilar do Pinheiro, 10.8.2011

~ZARATUSTRA

O profeta Zaratustra regressou à cidade, à praça pública, após 10 anos na montanha, junto dos animais. Mas a populaça rejeitou e zombou de Zaratustra quando ele começou a pregar. Daí em diante, o profeta passou a dirigir-se apenas aos espíritos livres, aos seus companheiros e companheiras.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A ERA DO ESPÍRITO


Miúdas que vêm da praia
mostram sorrisos
comem gelados
e eu parado
expludo
...a meio do poema
vou até Atenas
em Londres
autocarros ardem
o mundo queima
e eu reino
Artur
Quixote
a era do espírito
por toda a parte.

Não, não sou menor. Sou capaz de escrever melhor do que alguns de nome feito. Só me falta aprender uns truques, contar estórias, recolher os favores da crítica. Escrever, ler e pensar. Eis a minha vida. Não tenho que fazer cedências. Nem tenho que levae uma vida de imbecil. Sou aquele que procura. Que vai ao fim na demanda. Sou o animal que grita. Estou em guerra. Escrevo o livro da vida.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

NO FUTURE


O capitalismo monetarista está gravemente doente. Depois da Grécia, é agora em Londres e em outras cidades de Inglaterra que os jovens se revoltam contra a violência policial e contra uma sociedade castradora, mesmo que haja alguma delinquência à mistura. Perante o "No Future", uma "vida" sem presente nem futuro, ao sabor dos números dos mercados e de um tédio quotidiano dilacerante, os jovens partem lojas e incendiam automóveis. As canções dos Clash e dos Sex Pistols voltam a fazer sentido. "I Wanna Be L' Anarchie!". Os discursos dos governantes e dos polícias são hipócritas. Não queremos mais mais esta sociedade que os vossos media nos espetam nos cornos. Não queremos mais morrer narcotizados todos os dias. ´Não queremos mais que nos roubem a juventude e a infância. Queremos o nosso mundo de volta!

sábado, 30 de julho de 2011

O HOMEM ASSASSINADO

O discurso económico é redutor, castrador mesmo. Não basta dizer, como o fazem os partidos de esquerda, que os impostos aumentam, que os preços dos transportes aumentam, que o poder de compra baixa. É preciso dizer que a miséria não é apenas económica mas é sobretudo espiritual, intelectual. É o... ser humano na sua plenitude que está a ser destruído pelo capitalismo dos mercados. Os gregos reagem como reagem porque têm a noção de que a sua humanidade está a ser violentada. O capitalismo dos mercados, com os seus juros, as suas bolsas, as suas máquinas de propaganda, as suas máfias, está a dar cabo do homem. O homem, inundado por informações e comentadores narcotizantes, mercantis, totalitários, está a perder a sua liberdade, a sua capacidade de raciocínio, a sua vida. Aumentam as depressões, as esquizofrenias, as tentativas de suicídio num mundo que está a perder o sentido.O homem está ameaçado. O homem só poderá derrotar o capitalismo dos mercados se se ultrapassar, se regressar a si mesmo, ao homem interior. Aí chegado, o homem tomará consciência do seu estado e revoltar-se-à. "O governo é a abolição do eu", escreveu Henry Miller, e o homem não aceitará mais os governos, o homem regressará a si mesmo como ser pleno, íntegro, livre. As máquinas de propaganda cairão porque o homem deixará de ser cego e afrontará os imbecis dos poderes, definitivamente.

BÊNÇÃO


bendición

Tener dinero y no tener
pagar quedar a deber
ir a los bares del Bairro Alto
beber en los bares en las casetas
con los bolsillos llenos de guita

después dejar caer la guita por los bolsillos
perder las gafas em Lisboa
andar a lo tonto en plan rock-star

regresar sin saber cómo
comprar dos billetes en vez de uno
uno a Oporto otro a Coimbra
viajar jodido del coco del estómago de la tripa
entrar, salir y después caer en la cama
sin luz sin ganas
y después regresar a Zaratustra
al poeta-mago
al cielo al sol a la luz
a las mujeres a las que quieres
a las muñecas que cortas que hieres
a la prudencia que mandas a tomar por saco
gira el taco
y vuelve al fútbol
el circo máximo de antaño
cuando caminabas por Roma
entre Cicerón y Augusto
rey muerto, rey puesto

en trance por Lisboa
al azar a la deriva a suertes
como Pessoa
y, durante dos horas,
no sabes lo que has hecho
dónde has estado
con quién has estado
se ha quedado todo en blanco

hoy vas camino de lo mismo
pero no tienes guita
y esto no es Lisboa
ni tú eres el príncipe de Macedonia
solo hay goles y locos que festejan
nubes que perturban — así hablaba Zaratustra
y tú amas las alturas
amas realmente las alturas
y hasta a la Humanidad
pero no soportas la pequeñez de los hombres

eres de aquellos que sabes
no hay nada que hacer
aunque vayas por caminos rectos
habrá al final noches, días en los que seguirás
las calles tortuosas
porque sabes que ese es el camino del Cielo
no el cielo de Dios, de Alá o de Cristo
sino el Cielo de Nietzsche, de Blake, de Rimbaud,
de todos los malditos

Benditos sean los malditos
benditos sean los que buscan
la luz entre las tinieblas
benditos sean los que te aman
benditos los que enloquecen
porque la locura de los que se curvan
no es locura, es dolencia.


Versão de Maria Alonso Seisdedos

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ESCREVER


Escrever poemas
por puro gozo
sem puxar muito
pela cabeça

escrever
sem preocupações
nem horas
esperar os frutos
fazer festas

escrever
como quem respira
olhar o céu
e a natureza
sem esperar
recompensa nenhuma.

A VIDA DO POETA


Derramar palavras no caderno
correndo o risco de o caderno
se perder para sempre
construir textos sem um fim definido
sem saber se sai o livro
estar na vida como os gatos
às voltas
aos saltos
a comida no prato
não me preocupar
com o dinheiro
ler muitos livros
pensar nas miúdas
ficar sábio

eis a vida do poeta.

domingo, 24 de julho de 2011

SANGUE REAL


Quem és? De onde vens? Quem te pôs no mundo? Certamente tens pai, mãe, família. Mas vieste para algo de maior, tens a tua loucura, persegues palácios, reinos de luz. Não, não és da populaça, do raciocínio primário, da sobrevivência. Vens em nome dos grandes, daqueles que são capazes de mudar o curso da vida. és o primeiro e o último dos homens. Estiveste com Merlin e Zaratustra. És da raça dos poetas. Cantas a mulher, cantas Madalena. Foste navegador, aventureiro de terra em terra. Agora estás aqui "com todas as crianças atacadas pela loucura". O álcool sobe no copo. Mexe com a alma. Os futebóis nada te dizem. És Hamlet. Ouves o teu pai. Tens delírios. Ouves as mulheres berrar com as crianças. Não suportas. Questionas tudo, o sentido da existência. És capaz de ser o melhor poeta das redondezas. Quando estás assim tocas o divino. Sentes falta de companheiros, companheiras. Muitos não estão à tua altura. Amas realmente a cerveja, o gás, o levá-la à boca. Cresceste nos bares. Nada a fazer. Não és da vida de todos os dias. Os jornais, de vez em quando, falam de ti. Não, tens algo de divino. Vieste com os profetas. Cantas o caos e a harmonia. Atravessaste as portas de percepção com Morrison, foste Marlon Brando no "Apocalipse Now". Não vais nos golos dos tolos. A conversa deles aborrece-te de morte. Odeias o tédio que te querem impor. Preferes olhar a mulher bela. Vais até ao fim da demanda. Definitivamente, não és como eles. és filho de Dionisos. Um rei num mundo de imbecis. Até no acto de beber és diferente. Uma puta dos tascos e do rock. Um homem da cidade. Um fora-da-lei. Um animal dos palcos e da vida. Á mesa do homem só. Um homem das mulheres. Um incendiário em potência. Um louco sem conversa. E o que interessa está dentro da garrafa. Do cálice. Do Graal. Não te soltavas na adolescência. Eras tímido. Agora és capaz de te revoltar contra a Criação. Apetece-te pontapear os carrinhos de bebé. Filho do rock n' roll e da revolução. Gastas o braço e a mão. Amas a mulher. És completamente fora. Ficavas aqui de cerveja em cerveja. Afinal de contas, nada tens a perder. Os outros começam a ter conversas loucas, inteligentes. Falam de triângulos e quadrados. Tu tornaste-te alérgico a eles. Contas os trocos. Tu também contas os trocos, ó divino! Deverias voltar ao surrealismo. Tens sangue real, miúdo. Sangue real.