terça-feira, 13 de janeiro de 2009

TERRORISTA POÉTICO


Escrevo mas tenho o blog parado. Não sei quanta gente lê aqueles blogues mas sei que é alguma gente. Ontem A. percebeu que estou interessado nela. Ao menos é sincera. A verdade é que os "Ditirambos de Diónisos" me puxaram para cima, apesar dos delírios. Crio, tento fazer a fusão de todas as artes. Sou furacão, sou dinamite, como Nietzsche. TEnho calor. Dispo o casaco. Hoje não neva. Tenho Proudhon para ler. A polícia ocupou a casa dos okupas no marquês. A polícia é uma delícia. A gaja é bonita mas parece enjoada. Dar-te-ei o mundo. Ficarei apenas com uma parte para mim e para os meus para fazermos uns disparates, para partirmos uns vidros, para pintar a manta. Acredito numa revolução artística, numa bomba artística global. Que provoque, que inquiete, que choque, que dê a volta às cabeças. ACredito em Dionisos entre as bacantes embriagadas. É nisso que acredito. Não em qualquer tipo de lucro, dinheiro, mercado ou capital. Sou o homem da liberdade, como o Jim Morrison. E os editores que nunca mais respondem. O que é que querem que eu escreva mais? Sou um terrorista poético, não sou o Bin Laden nem o primeiro-ministro de Israel. Defendo a violência libertária da Grécia. Sou um terrorista poético.

O BÊBADO DA MOTINA


O bêbado foi expulso da "Motina"
nada posso fazer para o salvar
também não sei as malandrices
que andou a fazer
ordens da Maria
a Maria controla
sem o bêbado a "Motina" pede encanto
bem, o que realmente importa é que
acabo de descobrir o poeta Jim Morrison
no seu esplendor
até posso dar uma volta por aí à Nietzsche
e nem sequer assistir ao debate sobre a Palestina
Infelizmente, haverá mais debates e manifestações
e eu ainda não estou a 100%
descarreguei as baterias
até parece que me querem pagar uma actuação
isso é que é bom
estou farto de fazer coisas de borla
enquanto os outros empocham.

MARIA


A Maria deu-me um papel com o mail dela
mas estupidamente acho que perdi o papel
a mARIA é uma gaja muito fixe
que escreve livros
e que estava com as mamas de fora
encontrei-a no "Insólito"
foi aí que comecei a ser prvocado
foi aí que a cabeça começou a andar às voltas
Braga é a cidade onde estoiro
onde vou ter amiúde com a loucura
depois as pessoas sáúdam-me
tratam-me como a um rei
ou então temem o revolucionário
que pode rebentar bombas a qualquer momento
mas que depois se arrepende
e pensa na paz e pensa na Gotucha
e agarra a humanidade
e sobe ao Bom Jesus
e dá o amor.

NIETZSCHE


Tu vítima, não penses que não tens culpa; e tu, carrasco, não penses que não sofres.

LOUCURA

Tenho travado combates com a loucura. As vozes ouvem-se, tentam dominar-me. O ódio tenta dominar-me. Mas eu caio abaixo da cama e recupero a lucidez.

MORTE AOS NAZIS


Nazis em Gaza
Baader-Menhoff no papel
balázios nos cornos dos inocentes
Hitler a rir novamente
paz, paz, mas não podre
revolta nas ruas de Lisboa
contra o Cavaco
contra o Sócrates
nazis em Gaza
balázios nos cornos
nazis de ganga
FP-25 no olhar
paz, paz, mas não podre
as forças da anestesia capitalista
não podem levar a melhor
Morrison, Dylan, Nietzsche, Che Guevara
não lhes daremos os trunfos de mão-beijada
combateremos os impérios
até que caiam
morte aos nazis!
Morte aos nazis!
Morte aos nazis!


Vilar do Pinheiro, 7.1.2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O POETA SENTADO QUE BEBE E ESCREVE


O poeta senta-se, bebe e escreve
não há mais do que o poeta que se senta, bebe e escreve
o mundo todo se dilui aí
é certo que há pessoas que andam e se movimentam
é certo que há pessoas sentadas a tomar café
mas o poeta mantém-se inalterável, bebe e escreve
pela cabeça passam-lhe muitas coisas
desejos, histórias, memórias,
e as pessoas passam, mostram os novos rebentos ao mundo
mas o poeta está fora do mundo
o poeta não se preocupa com as questões do senso comum
o poeta quer ser grande e livre e sublime
o poeta preocupa-se com a qualidade dos seus escritos
sabe que nunca escreveu tanto
como no ano que agora finda
sabe que a musa vem ter com ele
mas agora foi aos saldos fazer as compras da época
o poeta não liga a essas coisas
desde que ela continue bonita
desde que ela venha ter com ele
e o poeta sentado, bebe e escreve
as conversas mundanas, por vezes,
são o mote dos seus escritos
mas, no fundo, o poeta não lhes dá grande importância
o poeta sentado que bebe e escreve
as preocupações do poeta são outras
se a caneta falha
se há papel que chegue
o poeta sentado que bebe e escreve.

A VIDA INTERIOR


Há, de facto, uma vida interior onde coexistem céus e infernos, deuses e demónios, montanhas e abismos. No interior dessa vida trava-se um combate mortal entre o bem e o mal mas, por vezes, ficamos além do bem e do mal. A racionalização não é capaz de apreender esse mundo mágico onde é possível o homem ser homem e atingir o paraíso. Como diz Artaud, a revolução comunista ignora o mundo interior do pensamento. O pensamento está para lá da experiência. A vida interior, o pensamento é que nos permite criar, é que nos permite aproximarmo-nos dos deuses mas também dos demónios. O céu na Terra de Henry Miller está dentro das nossas cabeças. O conbhecimento poético é interno e mágico, como diz Artaud. Os poetas são mágicos, criam mundos. O materialismo capitalista persegue o pensamento poético e inveja-o.

O mundo interior, esse mundo que inventa mundos, personagens desde a infância. É lá que está o ouro. É agora que posso escrever a obra. Vou enviar estes textos a um editor. Estes textos têm de ser publicados. Não falam de gajas nem de mamas. Mas são importantes. Vêm da alma. Vêm da vida. Abominam a morTE. Vêm de Nietzsche, do homem nobre. O homem nobr não tem de se preocupar com a populaça. O homem nobre não tem de ser socialista. TEm de fecundar a mulher que o enfeitiça. TEm de ser mágico, "supõe a presença do fogo em todas as manifestações do ensamento humano", afirma Artaud. "A música é a tua única amiga/dança em cima do fogo se ela te convidar" (Jim Morrison). Dionisos copula com as bacantes em fúria. Dança em redor da fogueira. Incendeia lojas, bancos, automóveis. Cospe na polícia e no exército.Cospe no senso comum e na normalidade. Canta a canção do "Fim": " É o fim, amigo querido/ é o fim, amigo único/ custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias/ o fim das risadas e das doces mentiras/ o fim das noites em que fizemos por morrer, é o fim". O fim que é o princípio, o fim que é o princípio do fim do capitalismo. E chego so fim vidrado por Zaratustra, apaixonado pelas alturas e pela grandeza.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A APOLOGIA DE SÓCRATES (EM BOLA MAIOR)


A linguagem do futebol é feita de rdundâncias
a linguagem do futebol é feita de ideias feitas
o discurso do futebol é extremamente pobre
jogámos bem, ganhámos os três pontos
ao fim e ao cabo isso é que é importante
o adversário é difícil, respeitamos o adversário
mas vamos ganhar
os jogadores da bola ganham milhões
e tem o cérebro na ponta dos pés
afinal de contas é apenas um jogo
a merda de um jogo
nem sei porque é que um gajo
dá tanta importância a essa merda
jogamos bem, fomos os melhores
perdemos, tivemos azar, o àrbitro roubou
quantos golos meteste hoje?
Foste disciplinado tacticamente?
Fizeste as transicções defesa-ataque?
Sabes os resultados da liga escocesa
e da 4ª distrital?
Criaste automatismos?
Puxaste o autoclismo?
Tudo por causa de uma bola
por causa da merda de uma bola
Para quê correr atrás de uma bola?
22 imbecis atrás de uma bola
ainda se fosse de uma mulher...
queres que a tua cabeça se torne uma bola?
É só a merda de um jogo
a merda de um jogo,pá
porque não sais do campo?
porque é que continuas a olhar para auela merda?
Eh, pá! É penalty!
Que se foda lá o penalty!
Que se foda o guarda-redes
que se foda lá essa malta toda a fazer barulho
o que é que trazeis de novo à Terra?
Que ouro trazeis?
Que criais de sublime, de grandioso?
Não. Vou sair do jogo
atirar a bola às couves
de uma vez por todas
não fui feito para competições
nem para taças
vim ao mundo para algo mais
vim ao mundo em busca da luz
não sei se é o Graal
nem sei o que hei-de pensar do Cristo
Nietzsche dizia que ele era o único cristão
que se vivesse mais tempo, teria mudado de ideias
não tenho que levar a minha vida em função dele
nem sou ele, tanto quanto sei
mas sei que nós temos a divindade
que procuramos a divindade
em tudo quanto há
não o Deus dos cristãos, nem o dos muçulmanos
não o deus tirano, moralista, castrador
não o deus que traz a morte
disfarçada de amor
eh, pá, diz-me algo de novo
algo que me faça pensar
não venhas com o paleio futebolístico
nem com a reabertura do mercado futebolístico
nem com a merda do mercado
espetado nos cornos de toda a gente
o mercado do arrendamento
o mercado do casamento
o mercado do amor
que se foda o mercado!
Que porra de vida imbecil!

Já disse:
saí do jogo
abandonei o campo
procuro a minha estrela
sei que ela está, em parte, nos olhos da menina~
mas quero a outra parte
é isso que eu quero
e isso não está no mercado, no trabalho
nem no caralho do Sócrates
o Sócrates deprime-me, sabes,
aquele jeito tecnológico, tecnocrático,
demagógico, quadrático
deprime-me
vejo o gajo na televisão e fico deprimido
ouço os discursos do gajo
e apetece-me vomitar
sabes, aquele gajo é um inimigo da vida
aquele gajo quer castrar toda a gente
aquele gajo tem a peste
ouve bem, aquele gajo tem a peste
não te deixes contaminar
não te deixes contaminar
não te deixes contaminar
não te deixes contaminar...


Braga, Dez. 2008

POETA E REVOLUCIONÁRIO


Isto de ser poeta e revolucionário
tem que se lhe diga
não podemos embarcar nas conversas
do senso comum
temos de filtrar a informação
temos de fazer de conta
que somos cidadãos respeitáveis
isto de se ser poeta e revolucionário
ainda por cima de café
não é fácil
olho para as gajas mas tenho de as respeitar
como possíveis camaradas
não devo proclamar à mesa a qualquer momento:
- sou revolucionário!
se não chamam-me doido
não devo sequer insultar a polícia e os padrecas
isto de se ser poeta e revolcionário
tem muito que se lhe diga.
Estou a anos-luz dos raciocíneos menores
da gente comum
penso na revolução mundial
enquanto eles pensam em sapatos.

MANIFESTO DO PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO


Caa vez duvido mais que as massas sejam capazes ou mesmo estejam interessadas na revolução. As massas vivem em crise, em recessão mas só falam da família, das baixas nos hospitais, das doenças. Temos de ser nós revolucionários, poetas, criadores, a provocar a explosão. QUeimemos o dinheiro, queimemos os nossos próprios poemas ou obras na praça pública. Pode ser que assim consigamos captar a atenção.
Não acredito em transição pacífica para o socialismo. A defesa e o uso do parlamentarismo significam a perpetuação do parlamentarismo. Podemos eventualmente concorrer a umas eleições mas como forma de propaganda, como defende Rosa Luxemburgo. Nesta época de crise dos bancos partamos os bancos, dinamitemos a bolsa, tomemos a rua. Como diz Raoul Vaneigen o dinheiro é o deus dos nossos dias. Combatamos o dinheiro. Esse deus é, nas palavras de Nietzsche, inimigo da vida, das pulsões vitais, e amigo das sociedades do rebanho, da doença, do servilismo, da morte. Morte aos economistas! Aos profetas dos números, das percentagens, das contas, dos orçamentos. O melhor governo é não haver governo nenhum. Não queremos governar nem ser governados. Somos homens livres, nobres, senhores sem escravos, supeiores, na acepção nietzscheana. Somos Poetas, Artistas. Nós somos os meninos e os bailarinos. Não temos culpa se muitos permanecem na ignorância como camelos.

PARTIDO SURREALISTA SITUACIONISTA LIBERTÁRIO

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O HOMEM DA LIBERDADE


O vosso mundo das horas certas, das linhas rectas, da ordem, dos empregos, dos sorrisinhos, da justa medida, do andar dentro dos trilhos e sair às vezes um bocadinho, só um bocadinho, não me interessa. O vosso mundo é um mundo de mortos. Não passais de um bando de escravos. Eu quero a grande liberdade, a vida autêntica. Sois escravos dos relógios, escravos do dinheiro, escravos do trabalho. Não vim ao mundo para ser escravo. Eu quero ser Artista. Criador, como Jim Morrison, como Nietzsche. Quero ser eu próprio o deus. O deus que cria, o deus que canta, o deus que dança, o deus que vai atrás da loucura. Quero a grande liberdade, a vida autêntica. Quero errar pelo mundo, sem destino definido, sem objectivos de eficácia ou mercantis. Não quero que nenhuma lei, que nenhum governo, que nenhuma Igreja, que nenhum filho da putame venha dizer o que fazer. Sou o homem da liberdade. SOU O HOMEM DA LIBERDADE.

JUSTIÇA!

Mais um jovem negro e pobre assassinado pela polícia.

A plataforma Gueto não pode deixar de denunciar mais uma execução sumária, com pena de morte, dum jovem negro por parte da polícia, e um julgamento injusto feito no tribunal dos media, que condenou o nosso irmão e absolveu mais um assassino.

Uma perseguição policial do passado domingo, 4 de Janeiro às 21h, ditou a morte de Kuku, com apenas 14 anos.
Segundo a versão "oficial" de fontes policiais os agentes identificaram o carro furtado, onde seguiam 4 jovens, no bairro de Santa Filomena. Por não terem respeitado a ordem para parar, a polícia iniciou uma perseguição que só acabou no bairro da Quinta da Lage quando os jovens abandonaram o carro e continuaram a fuga a pé. Depois de terem disparado tiros para o ar, a polícia alega que Kuku, que foi o último a sair da viatura, apontou uma arma de calibre 6.35 a um agente, tendo este, em legítima defesa, disparado um tiro que o feriu mortalmente na cabeça. Outro irmão foi ainda atingido com uma bala na perna.

Ainda na sua versão oficial a polícia declara que o agente não atirou para a matar. Quem não quer matar não aponta uma arma à cabeça, portanto a intenção do agente era matar ou teria apontado a outra parte do corpo.

Na manhã seguinte os media iniciaram a sua propaganda, usando apenas as fontes policiais, para sujar a imagem do jovem e legitimar a acção do polícia, alegando que se tratava de um jovem referenciado por crimes violentos.
Com esta propaganda os media conseguiram transmitir a ideia de se tratar dum jovem violento que era uma ameaça para os agentes, e para a sociedade, bem como glorificar a polícia por mais uma "missão cumprida": assassinar um negro.

Como se não bastasse a idade de Kuku, 14 anos, para que este não pudesse ser considerado um criminoso violento, o mesmo foi referenciado como tal apenas por furtos, dos quais não resultou nenhuma condenação. Ainda que tal tivesse acontecido, em nenhum dos casos houve uso de violência. Tendo em conta aquilo os media têm propagandeado nos últimos meses como "criminalidade violenta" só prova que esta usa e abusa de tais critérios sem nenhum rigor para operar a sua propaganda racista e continuar a fomentar o medo dos imigrantes seus descendentes na opinião publica.

Segundo os jovens envolvidos na fuga, o carro em que seguiam já tinha sido furtado anteriormente, tendo estes, sabendo que estava abandonado, aproveitado o facto para nele se dirigirem ao bairro de Santa Filomena onde iam ver um jogo de futebol. Os mesmos disseram ainda que Kuku não trazia nenhuma arma consigo.
Tal como os restantes ocupantes do carro, vários amigos que estiveram com Kuku naquele dia, negam tê-lo visto com qualquer arma, e acrescentam ainda que nunca viram Kuku armado quer com faca, quer com pistola, e duvidam bastante que ele fosse capaz de apontar uma arma a outra pessoa e muito menos a um agente "Kuku era um puto.. ainda que tivesse uma arma, jamais a apontaria a um bófia". Eles descrevem-no como "calado, tranquilo, talvez até um pouco tímido".

Estes afirmam ainda que Kuku estava marcado desde um episódio em que, logo após acordar, e tendo dormido em casa, foi abordado pela polícia na sua porta, alegadamente por ter sido visto a conduzir um carro roubado nessa madrugada. Indignado negou qualquer relacionamento com o que quer que fosse que tivesse ocorrido naquela madrugada e ao ser agredido e arrastado pelo chão Kuku resistiu à detenção apelando aos seus direitos. A sua resistência originou ainda mais agressividade da polícia. Kuku tentou resistir e só a intervenção da mãe e outros familiares demoveu os agentes de quaisquer que fossem as suas intenções.

Kuku foi julgado e executado pela polícia à semelhança de Angoi, Tony, Tete, Corvo, PTB, etc. Nos últimos meses vários irmãos foram perseguidos e agredidos nas ruas, nas carrinhas e dentro das esquadras. Este não foi um acidente, nem um acto isolado, foi o desfecho que já esperávamos. Destes assassinatos e agressões nunca resultou uma única condenação. Pelo contrário a polícia têm sido aplaudida pelo Ministro da Administração Interna e pela opinião pública manipulada, pela propaganda racista dos media. Resta uma conclusão: face a esta impunidade a polícia tem "luz verde" para matar jovens negros em Portugal. Já não acreditávamos que fosse feita qualquer justiça nos tribunais mas agora sabemos mais que isso.
Num país que nem aplica a pena de morte, até um "criminoso violento" teria direito a um julgamento antes de ser executada qualquer pena. Mas para nós negros, a pena de morte está em vigor e a "justiça" não é lenta, é veloz feita na hora pela polícia. O nosso julgamento é feito todos os dias na imprensa matinal e no noticiário das oito.
Apelamos à mobilização de tod@s os irm@s contra a violência policial, a propaganda racista e contra a opressão autoritária. Se a impunidade, o conformismo e o silêncio continuarem os assassinatos continuarão também.

Apelamos também ao apoio à realização dum funeral digno para Kuku na compra do Cd dos Mentis Afro, duma T-shirt do Kuku, ou através de donativo para o NIB 0010 0000 27703050 0022 0. Para mais info escrevam para o mail indicado em baixo.

Plataforma Gueto. Sem Justiça não haverá Paz.
Plataforma.gueto@gmail.com

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO À RUA DE BAIXO EM 2006


Visuais & BarulhosEdição Nº36, Outubro, 2006 António Pedro Ribeiro

O que tem a ver José Socrates com os Doors, Nietszche ou H. Miller?Por vezes, ao observarmos uma fotografia antiga de Oscar Wilde, de Ernest Hemingway ou um qualquer outro mestre da literatura, somos invadidos por uma vaga de nostalgia; a da figura romântica do escritor, despreocupado pelos pormenores secundários de uma vida passada nas boémias tertúlias de café, por entre o tabaco, o ópio e o álcool, em viagem recreativa por entre as paisagens paradisíacas de países estrangeiros ou em comunhão telúrica com a terra em qualquer esconderijo pessoal no meio da Natureza.

Quem nunca teve um secreto ensejo de ser um Fernando Pessoa a escrever na esplanada d’A Brasileira, um Sebastião da Gama a colocar por palavras a beleza da Serra da Arrábida ou um Almeida Garrett a inspirar-se nas paisagens verdejantes do Douro, que atire a primeira pedra.

Claro que estou a exagerar, esta é apenas uma visão romântica do escritor. No entanto, é uma imagem que já não colamos aos autores contemporâneos. A culpa é da sociedade moderna e de conceitos como o capitalismo ou a globalização. Actualmente, existem demasiadas coisas com que nos preocuparmos, demasiada informação para assimilarmos e bastante pouco tempo livre para desfrutarmos.

O poeta portuense António Pedro Ribeiro parece não querer acreditar nisso e poderá vir a ser o último poeta romântico português. Isto apesar de “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas – Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário”, o livro que acaba de editar pela Objecto Cardíaco, ser uma obra política, irónica, satírica e algo surrealista, directa e quase panfletária.

“Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro…” é ainda uma obra influenciada pelos situacionistas, que não se furta a utilizar a técnica da colagem, ao utitilizar machetes ou excertos de notícias da comunicação social escrita misturadas com palavras suas.

A Rua de Baixo decidiu dar a conhecer um pouco mais sobre o poeta (e músico) António Pedro Ribeiro, que fez furor na recente edição do festival Paredes de Coura com as suas declamações. Foi sobre isto, sobre o seu inusitado amor pelo primeiro-ministro, sobre os The Doors e sobre muitas outras coisas que conversámos. Para conferir nas linhas seguintes.

Confessou-se apaixonado pelo primeiro-ministro. Pelo actual em particular?

A “Declaração de Amor…” não se aplica só a um primeiro-ministro, aplica-se a todos os poderes que estão podres, como dizem os surrealistas, os situacionistas, os anarquistas e outros esquerdistas. É claro que José Sócrates merece uma menção especial pela sua postura mecânica, robótica, arrogante e intolerante. Julga-se um super-homem, um homem-providência, cheio de rigor e competência como Salazar, mas é uma grande treta. Aliás, tal como a maior parte dos dirigentes dos partidos portugueses. Além disso, faz o jogo do imperialismo e do capitalismo mundial. Nada faz para combater a pobreza ou o desemprego. Os únicos primeiros-ministros portugueses que estimo são Afonso Costa, Vasco Gonçalves e Maria de Lourdes Pintassilgo.

Depois de algumas edições de autor, “Declaração De Amor Ao Primeiro-Ministro…” é o seu primeiro livro publicado por uma editora. Como surgiu o encontro com a Objecto Cardíaco?

A “Declaração de Amor” não é o primeiro livro publicado por uma editora. Em 2001 publiquei “À Mesa do Homem Só. Estórias” através da Silêncio da Gaveta, uma pequena editora sedeada em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim, dirigida pelo João Rios e pelo José Peixoto. Ainda assim, em Maio desse ano, surgiu uma boa crítica na revista do “Diário de Notícias” [DNA] que já falava numa certa “descida aos infernos do álcool”, só que como nem eu nem a editora éramos conhecidos, a coisa caiu no esquecimento. Eu e o Valter Hugo Mãe, da Objecto Cardíaco, já nos conhecíamos das andanças dos bares e da poesia. Contudo, no ano passado o Valter ouviu-me recitar no café Pátio, em Vila do Conde, o “Poema do Défice” e o texto “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”. Perguntou-me se eu tinha mais coisas do género e eu disse que tinha quatro ou cinco coisas antigas e inéditas. Depois, de Julho a Setembro, escrevi o resto, até porque encontrei na casa da minha avó em Braga uma antologia do surrealismo francês e a “Arte de Viver para a Geração Nova” do situacionista Vaneigem. Foi mais uma volta à cabeça. O livro, no fundo, é um manifesto surrealista situacionista libertário em linguagem poética.

É o A. Pedro Ribeiro um autor exclusivamente político, de intervenção, ou o seu próximo livro poderá muito bem ser sobre outra coisa qualquer?

Não me considero um autor exclusivamente político. Até porque, na senda de Breton, a política não existe separada da vida. O amor, o sexo, a liberdade e a revolução são todas uma coisa só que as máquinas castradoras do sistema sempre tentaram dividir. Mas, ao fim e ao cabo, felizmente nunca o conseguiram no que respeita a alguns homens e mulheres. Nietzsche fala no espírito livre e em Dionisos e eu acredito.

Eu tenho um livro para sair há um ano chamado “Saloon”, através das Edições Mortas. O problema é que o editor - António Oliveira, mentor da livraria “Pulga” no Porto - anda teso e eu também. Esse livro é diferente. Tem a ver com a atmosfera dos bares, com as mulheres que estão do lado de cá e de lá, com o sexo que espreita mas raramente vem, com o engate, com as mulheres que amamos e com as outras que passam, com a noite e com os copos até cair, com o pistoleiro que entra no saloon a gingar e que assusta toda a gente, ou então é ostracizado. O meu próximo livro talvez se chame “Um Poeta a Mijar” e terá talvez duas partes ou dois livros: uma das partes vai ser estilo Dada e humorística com textos já conhecidos mas nunca editados em livro, como “Borboletas”, “Futebol Dada” ou “Mamas2″. A segunda parte ou livro poderá conter as tais iluminações, delírios ou alucinações - a fronteira é ténue -, estilo “Eu vi a morte nos olhos de Deus”, os tais textos que não sabemos de onde vêm. Contudo, não deixarei nunca de tomar posições políticas, talvez até funde uma coisa nova, mas não um partido, não suporto mais ver a coisa dividida entre dirigentes e dirigidos.

Não teme que não o levem a sério?

Eu já fiz muitos disparates. Mas se não tivesse feito alguns deles teria apodrecido de tédio ou de depressão. Mesmo quando estou a brincar ou com os copos, penso que as pessoas inteligentes entendem que já escolhi o meu lado da barricada. Há quem me ame e quem me odeie. Isso é natural quando dizemos ou cantamos determinados textos ou tomamos determinadas posições. É claro que custa não reagir às provocações quando insultam aqueles que amamos.

Sente-se um “poeta maldito”, como o eram Rimbaud, Baudelaire ou Sade?

Não me coloco ao nível de Rimbaud, Baudelaire ou Sade. No entanto, tenho a certeza que sou deles, que venho dessa linha de malditos onde incluo também Blake, Lautreamont, Jim Morrison, Nietzsche, Henry Miller, Bob Dylan, Allen Gingsberg, Péret e tantos outros. Não nasci para os empregos das 9 às 5 - dou-me mal neles, a rotina mata-me. Léo Ferré disse que o artista aprende a profissão no inferno. Eu vou lá muitas vezes e gosto, porque o céu, muitas vezes, é uma seca, com todos aos beijinhos, aos abracinhos, aos boatos, aos mexericos, às panelinhas e eu detesto. Serei um poeta maldito, mas isso não significa que não ame a Humanidade, as mulheres bonitas, o sol, as crianças. Esta merda que nos querem impingir é que eu não aceito. De qualquer modo, não sou, não quero ser, o versejador da corte.

São eles as suas referências ou existem outros?

Antes de falar em mais artistas queria elogiar todas as mulheres bonitas que amei e continuo a amar (mesmo quando nos chateiam a cabeça…). O meu amigo António Manuel Ribeiro, dos UHF, dizia que “a mulher é fundamental para o homem na sua criatividade”. Além do mais, tudo quanto nos rodeia, tudo quanto nos vem à cabeça, são referências. Posso também falar de Salvador Dali, Mário de Sá-Carneiro, Pessoa, Herberto, Cesariny, António José Forte, Led Zeppelin, Deep Purple, Breton, Artaud, Monty Phyton, Lucky Luke, Obélix, Eurípedes, Dioniso, Afrodite, Sócrates (o filósofo), Agostinho da Silva, Jack London, Henry Miller, Jack Kerouac, Platão, Marx, Bakunine, Rosa Luxemburgo, Hugo Chavez, Trotsky, Proudhon, Pasolini, Fellini, João César Monteiro, Marlon Brando, Bárbara Guimarães, Merche Romero, Minka, Sharon Stone, Kim Basinger, Pamela Anderson, Zapata, Pancho Villa, Marcos e Che Guevara. E tantos outros e outras…

O A. Pedro Ribeiro foi um dos grandes destaques das sessões de leituras realizadas este ano no festival Paredes de Coura, promovidas pela Objecto Cardíaco. Sentiu-se como uma estrela de música?

Essa coisa da estrela do rock n’ roll… da fama… é muito perigosa. Já me aconteceu antes por motivos políticos enquanto candidato do PSR, do Bloco ou à presidência da República. Os gajos põem-nos nos píncaros e depois, no fim, dão-nos porrada. Todos nos vêm cumprimentar, somos os maiores, mas passado um mês ou dois tudo se esquece no altar do tédio e da rotina. É uma ilusão. É claro que eu sempre tive a noção de que esta é uma sociedade de imagens. Mesmo quando cantava numa banda chamada “Ébrios” em Braga em 1990 e fui acusado de mandar fechar o hipermercado Feira Nova com um bando de guerrilheiros imaginários. Delírios, né? Às vezes temos de utilizar os “media” a nosso favor, sem os desprezar como fazem alguns dos meus camaradas anarquistas. Não nos podemos fechar num “ghetto” elitista, onde somos os detentores da verdade. O Rui Reininho fala em “subir ao povo”. Agora só me falta que o povo suba até mim… a coisa tem de ter uma sequência, senão torna-se uma viagem sem regresso. De qualquer modo, se vier a ser uma estrela (se não for preso ou internado antes…) acho que me vou retirar para o deserto ou para a montanha, para um sítio onde ninguém me conheça, ou então… talvez vá ter com os meus camaradas revolucionários da América Latina.

Ainda Paredes de Coura: um dos poemas que declamou foi «When The Music’s Over», de Jim Morisson. Porquê essa escolha?

Aos 16/17 anos, um amigo do Liceu Sá de Miranda, em Braga, – o Jorge Pereira – emprestou-me o disco “Strange Days” dos Doors, banda que eu só conhecia muito vagamente. À primeira audição estranhei. À segunda, sobretudo quando ouvi a canção «When The Music’s Over» parecia que o mundo recomeçava ali. Eu já percebia as letras críticas do Roger Waters, dos Pink Floyd, mas ali foi uma porta que se abriu, uma luz que veio ter comigo e nunca mais foi embora. “We want the world and we want it…Now!”, gritou o Jim Morrison e todos os sinos, todas as missas, todas as convenções, todas as ilusões, todas as falsas convicções, todas as aparências, todas as conveniências, todas as normas, todas as infâncias acabaram ali, naquele momento. E depois veio o “The End” e o “Apocalipse Now” do Coppola com o Marlon Brando no papel de xamã, como o Jim era. E, a partir daí, tive de ir sempre atrás da loucura… até hoje.

A música é também um dos seus prazeres? Houve algum grupo que tivesse gostado particularmente de ver em Paredes de Coura?

“Music is your only friend”, canta outra vez o Jim. A música sempre foi fundamental na minha escrita e na minha alma. Lembro-me do “boom” do rock português em 80/81 com os «Cavalos de Corrida» dos UHF, o «Chico Fininho» do Rui Veloso, a «Chiclete» dos Táxi, os Jafumega. Mais tarde, os Xutos, os GNR, os Mão Morta. E depois, claro, os Pink Floyd, os Doors, os Velvet Underground, a Nico e o Lou Reed, os Bauhaus, os Joy Division, os Led Zeppelin, os Rolling Stones, a Patti Smith, os Who, o Freddy Mercury, o John Lennon e o Bob Dylan. Ultimamente, ando mais virado para o punk (Clash, Sex Pistols), porque a linguagem directa do punk é a que melhor se aplica a estes dias de tédio e imbecilidade militante, e também para os blues – B.B.King, Muddy Waters, John Lee Hooker –, mas continuo a ouvir o José Mário Branco, o Zeca Afonso, o Fausto e o Pedro Barroso.

Em Paredes de Coura adorei os Panico, os Yeah, Yeah, Yeah, os Cramps e os Bauhaus – embora tivesse gostado mais deles no Coliseu em 99, estavam mais “iluminados”. A minha maneira de escrever sempre foi muito musical, muito rítmica. As letras que escrevo para a minha banda – Mana Calórica & Las Tequillas, que inclui o Rui Costa (guitarra), o Henrique Monteiro (guitarra), a Betânia Loureiro (baixo) e o Hélder Sottomayor (bateria) –, reflectem isso mesmo e são cada vez mais directas.

E quanto ao futuro, pode-nos adiantar algo sobre o seu próximo livro, ou sobre os seus planos para o futuro próximo?

De futuro espero estar vivo e inteiro, com ou sem as mulheres que amo, fazer concertos e performances com a Mana por todo o país e pelo estrangeiro e viver disso. Conto também escrever mais livros/fanzines “underground” como o “Sexo, Noitadas e Rock n’ Roll” (2004) e participar activamente na revolução mundial.

Comentários (0)Por Pedro Soares

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