segunda-feira, 26 de outubro de 2015
domingo, 25 de outubro de 2015
BORRACHEIRA
Ontem apanhei uma borracheira das antigas. Cada vez me identifico mais contigo, Charles Bukowski. Sinto-me superior a tudo isto. No fundo, sou uma espécie de rei. As gajas excitam-me. E que importa se beber mais uma? Vou gastando o cacau em livros e em copos. Também o que esperavam de um poeta maldito? Que esperavam que eu dissesse deste mundo burguês, capitalista? Que não o amaldiçoasse? Que não o insultasse? Merda, de facto, estou para além. Nada tenho a ver com a vidinha. Sou de Quixote e de Guevara. Bebo porque não aguento esta pasmaceira. Bebo porque procuro o outro lado. Estou no Ceuta, à mesa, como Pessoa. Gosto de permanecer em certos cafés como o Piolho, como o Ceuta. Aqui leio, escrevo, encontro-me, faço a minha vida. Encanta-me a mulher que passa. Persigo a verdadeira vida. Não aquela que nos vendem. Efectivamente, fui abandonando o rebanho. Definitivamente. Tenho horror à "felicidade da maioria". Sou dos malditos. Nem sequer sou daqueles esquerdistas direitinhos. Não suporto esta "realidade". Estou sozinho no Ceuta. A música vem da TV. Aguardo as amigas. Os praxistas berram.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
AS MENINAS NÃO VÊM
As meninas não vêm
o poeta desespera
há horas que está no café
a ler
a escrever
a beber cerveja
o poeta desespera
há horas que está no café
a ler
a escrever
a beber cerveja
agora sai mais um poema
o poeta observa
olha para a rua
as meninas não vêm
o poeta está triste
sente-se só
o barbudo entra.
o poeta observa
olha para a rua
as meninas não vêm
o poeta está triste
sente-se só
o barbudo entra.
sábado, 17 de outubro de 2015
O GOVERNO DE ESQUERDA
A vitória da direita transformou-se numa derrota. De repente, Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva e toda essa corja de comentadores comprados até sobem pelas paredes perante a possibilidade real de um governo de esquerda. Notável e histórica a viragem do PCP, construtiva e combativa a posição do Bloco de Esquerda, dialogante e despreconceituosa a postura de António Costa. Claro que ainda há um caminho a percorrer. No entanto, não há dúvida que 40 anos depois do PREC se assiste a uma grande viragem. Porque, de facto, a grande maioria dos portugueses votou contra a austeridade, contra os cortes nos salários e nas pensões, contra a destruição dos serviços públicos, contra o aumento da pobreza e das desigualdades sociais. Há, efectivamente, uma janela de esperança que se abre. Um novo caminho. Quiçá, uma nova era.
O HOMEM ASSASSINADO
O homem está a ser assassinado. Está a ser castrado pela finança, pelos mercados, pelos políticos ao seu serviço. É obrigado a lutar na arena, a disputar uma corrida, uma guerra com os seus semelhantes em busca do emprego, do cargo, do estatuto. As pessoas atropelam-se umas às outras sob a lei do dinheiro e do mercado. Aparentemente existe uma certa paz, uma certa harmonia mas, ao fim e ao cabo, reinam o caos e a barbárie. O homem é reduzido a um número, a uma coisa, a uma mercadoria. As relações humanas são cada vez mais superficiais e mecânicas. Estamos cada vez mais sós e deprimidos. A sociedade capitalista só traz infelicidade. É a lei do mais forte, do mais matreiro, do mais sacana. As próprias relações de amor e de amizade são postas em causa. É a esquizofrenia. Os donos das grandes multinacionais, dos bancos, das bolsas, dos impérios, dos grandes media controlam-nos e lavam-nos o cérebro. Os senhores do dinheiro nadam em milhões e exploram, enquanto outros contam os trocos e outros vegetam na miséria. Não é justo. Não é humano. Não é digno. Não pode haver seres humanos de primeira e de segunda. Trabalha-se mais horas em vez de menos. Há menos tempo para o encontro, para o ser humano dispor de si, para a alegria. O lazer é cada vez mais consumismo. Os jovens estão confusos, não sabem a que valores se agarrar, são empurrados para o safanço, para o sucesso a qualquer preço, por exemplo em concursos de talentos. A televisão atira-nos pimbalhadas, programas da tarde sentimentalóides e imbecis e matraqueia-nos com notícias repetidas que nos fazem a cabeça. É o "Big Brother" de Orwell. Sim, podemos deslocar-nos, vir até ao café, ler, conversar, mas há sempre algo que nos condiciona. Sejam as directivas de Bruxelas ou do imperialismo alemão, sejam os humores dos mercados e da corja financeira, seja esta maldita máquina, a que só alguns escapam, que reprime os nossos impulsos, as nossas forças vitais, a nossa liberdade. Revoltêmo-nos, pois.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
PUTA DE SOCIEDADE
Como já o
socialista utópico Charles Fourier lembrava a sociedade capitalista reprime as
forças vitais dos cidadãos. O homem não é feliz porque a sociedade impede o
mais que pode o desenvolvimento da vida apaixonada. A maioria de nós não é
livre, eis a verdade. Vivemos acorrentados a preconceitos judaico-cristãos, à
culpa e às castrações da máquina capitalista. Há sempre forças que nos impedem
de explodir. Damos uns beijos, uns abraços, soltamo-nos com o álcool e com as
drogas mas há sempre algo a conter-nos, a impedir-nos de desfrutar da
liberdade, de fazer a grande festa. Parece que a vontade e o entusiasmo esmorecem.
E depois não há pontes, não há ligação. É cada um no seu grupo, na sua ilha.
Puta de sociedade que construímos
sábado, 10 de outubro de 2015
VIRGÍNIA
A Raquel a vender erva
no Bairro Alto
alucinada
o Garcia a recitar Pessoa
tu e eu a distribuir panfletos
tu a catequizar os putos
eu a carburar, a provocar
chamaram-me comuna e filho da puta
hoje aqui a subir
no meio da ignorância
a curtir a música
esta gente elegeu o Passos
continuam lá os mesmos filhos da puta
não, não sou democrata
esta gente explora
esta gente escraviza
esta gente matou o Che
matou os meus camaradas
valha-me a arte
valha-me a música
para poder dançar
celebrar o dia
independentemente desses cabrões
esses cabrões não me fodem a alma
e esta gente continua aqui
sempre igual
sempre servil
sempre estúpida
a votar nos mesmos gajos
a máquina lava-lhes o cérebro
não, há um lugar para nós
um lugar livre
um paraíso
onde podemos ficar
a dizer poemas
a contar histórias
sim, façamos o banquete
definitivamente não somos como eles
somos de outra espécie
nascemos de outra estrela
percorremos outra estrada
temos pena
podemos até sorrir-lhes
mas não somos daqui
inventámos novos mundos
novos céus
novas galáxias
está tudo cá dentro
também estou farto de certos poetas, sabes
é só técnica e uns floreados
não têm verdadeiramente alma
nem sangue nem esperma
não transmitem uma mensagem
sabes, não sei como me hei-de dirigir
a esta gente
claro que há gente boa, honesta, simpática
mas, sabes, parece que me estou
a transformar outra vez
parece que a luz veio ter comigo
que a mente se eleva
mesmo sem LSD ou mescalina
e até parece que me esqueço das horas
e até das pessoas que me rodeiam
que importa a loira que já
não me fala?
Que importam estes cabrões
que castram?
Eu estou aqui vivo
inteiro
e vou prosseguir aqui
por uns anos
a escrever
a publicar
a lutar contra os moinhos
porque eu era esse menino
que brincava com os irmãos
eu era esse menino
que dava a mão à Virgínia
eu era esse menino
em quem os pais
depositavam muitas esperanças
e que se tornou um beatnick
um não-alinhado
e que agora nada tem a perder.
no Bairro Alto
alucinada
o Garcia a recitar Pessoa
tu e eu a distribuir panfletos
tu a catequizar os putos
eu a carburar, a provocar
chamaram-me comuna e filho da puta
hoje aqui a subir
no meio da ignorância
a curtir a música
esta gente elegeu o Passos
continuam lá os mesmos filhos da puta
não, não sou democrata
esta gente explora
esta gente escraviza
esta gente matou o Che
matou os meus camaradas
valha-me a arte
valha-me a música
para poder dançar
celebrar o dia
independentemente desses cabrões
esses cabrões não me fodem a alma
e esta gente continua aqui
sempre igual
sempre servil
sempre estúpida
a votar nos mesmos gajos
a máquina lava-lhes o cérebro
não, há um lugar para nós
um lugar livre
um paraíso
onde podemos ficar
a dizer poemas
a contar histórias
sim, façamos o banquete
definitivamente não somos como eles
somos de outra espécie
nascemos de outra estrela
percorremos outra estrada
temos pena
podemos até sorrir-lhes
mas não somos daqui
inventámos novos mundos
novos céus
novas galáxias
está tudo cá dentro
também estou farto de certos poetas, sabes
é só técnica e uns floreados
não têm verdadeiramente alma
nem sangue nem esperma
não transmitem uma mensagem
sabes, não sei como me hei-de dirigir
a esta gente
claro que há gente boa, honesta, simpática
mas, sabes, parece que me estou
a transformar outra vez
parece que a luz veio ter comigo
que a mente se eleva
mesmo sem LSD ou mescalina
e até parece que me esqueço das horas
e até das pessoas que me rodeiam
que importa a loira que já
não me fala?
Que importam estes cabrões
que castram?
Eu estou aqui vivo
inteiro
e vou prosseguir aqui
por uns anos
a escrever
a publicar
a lutar contra os moinhos
porque eu era esse menino
que brincava com os irmãos
eu era esse menino
que dava a mão à Virgínia
eu era esse menino
em quem os pais
depositavam muitas esperanças
e que se tornou um beatnick
um não-alinhado
e que agora nada tem a perder.
Vilar do Pinheiro, 3.10.15
terça-feira, 6 de outubro de 2015
A VITÓRIA AMARGA
A coligação de direita venceu as eleições sem maioria. Mas não deixa de ser uma vitória amarga. Agora tem de se haver com uma maioria de esquerda no Parlamento, sobretudo graças à subida estrondosa do Bloco de Esquerda (10%). Catarina Martins esteve em grande nível nos debates, nos comícios e na rua. O PS de António Costa, com uma campanha desastrada, é o grande derrotado. A CDU sobe ligeiramente. A esquerda, se Costa quiser, pode derrubar o novo governo em dois tempos. O PAN (Pessoas, Animais e Natureza) elegeu um deputado mas ainda não sabemos claramente quais são os propósitos deste partido. O PCTP/MRPP mantém sensivelmente a votação de 2011 (1,1%) e alcança bons resultados em Beja (2,6%), Portalegre (1,7%), Setúbal (1,6%), Faro (1,6%), Évora (1,5%) e Santarém (1,3%). O partido tem de mudar o discurso no sentido da crítica do capitalismo global, da corrida e da guerra diárias a que as pessoas se sujeitam, tem de falar mais nos fenómenos do suicídio, da depressão e da ignorância. A luta continua.
sábado, 3 de outubro de 2015
O NO FUTURE E A REVOLUÇÃO
A grande maioria dos jovens anda confusa. Não sabe bem o que quer. Agarra-se aos copos. Não há futuro. A vida tornou-se esquizofrénica. Uma sucessão de imagens, de smartphones, de facebooks, de publicidades, de propaganda. É um mundo louco que promete desemprego, trabalho precário, trabalho escravo, um mundo que outros vivem por nós. É um mundo que nos põe num atropelo, numa corrida louca, permanente, em busca do prémio, do troféu, da recompensa, ou seja, do estatuto, do poder, da carreira. Regredimos. Tornámo-nos mais animalescos. O capitalismo é mais feroz, mais feroz do que no séc. XIX. As pessoas estão cheias de medo, cheias de medo também umas das outras. Curiosamente, umas até gritam "vêm aí os comunas!Vêm aí os anarcas!". Cheias de medo. É claro que se somos revolucionários, viemos fazer a revolução, não viemos beber copos de água. No entanto, esta gente prossegue com o Porto e o Benfica, com a vidinha de todos os dias, sem uma visão de conjunto, a votar no facho do Passos e noutros que lhes têm roubado a vida. É uma barca de loucos. Onde a depressão e o suicídio aumentam assustadoramente. Onde, de facto, a vida normalmente não presta. Há pessoas. Claro, há pessoas de bem, de coração, que nos ouvem, que nos compreendem, que dialogam connosco abertamente, que fazem o banquete. Mas ainda somos poucos. No entanto, qual é o problema de apelar já à revolução? O que temos a perder, companheiros? O que nos dá esta vida de dinheiro e de intriga? O que nos adianta passar a vida a falar de números e de economia? O que nos adianta sermos iguais a eles? Porra, camaradas, sejamos os nossos próprios deuses, celebremos a vida na praça.
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