domingo, 31 de maio de 2015
A VIDA ABSURDA
Na verdade, a vida já em si é um absurdo. Mas o capitalismo ainda a torna mais absurda. Não faz sentido viver para sobreviver, ocupar o tempo todo em trabalhos, sacrifícios e obrigações ou ser escravo dos outros. O facto é que muitíssima gente leva a vida assim. Pior: não se interroga nem põe em causa a vida que leva. Ao longo da História surgiram alguns homens geniais que indicaram o caminho: Sócrates, Platão, Aristóteles, Jesus, Buda, Marx, Nietzsche, Bakunine, Sartre, Marcuse. Mas a sua influência não têm sido suficiente. Reinam a confusão, a barbárie, a ignorância. Creio que mesmo dentro da classe média as pessoas estão desorientadas, sem referências, com poucos valores, no fundo, no fundo, não sabem ao que se hão-de agarrar, com a crise da Igreja Católica e o caos capitalista. As pessoas ainda se comportam em sociedade, têm boas maneiras mas parecem perdidas, o homem está perdido, não vê futuro nenhum nem para si nem para os seus filhos. E depois é o que se sabe. Nos media reina o reles, o pimba e a fofoca. Tudo se faz para baixar o nível intelectual.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
FILOSOFIA E "VIDA PRÁTICA"
Certa gente das classes populares diz que somos uns teóricos, que não passámos pelas coisas, que só nos baseamos nos livros, nos médicos, nos cientistas e nos filósofos. É assim em relação ao álcool e às drogas. A verdade é que, para o bem e para o mal, temos a dupla experiência. Sobretudo em relação ao álcool. As psiquiatras e as psicólogas bem dizem para deixarmos de beber de um dia para o outro. Tal é impossível. Só se me começar a doer qualquer coisa ou se apanhar uma doença. Há dias em que beber cerveja é como beber copos de água. Vai uma e outra e mais outra, não pára, desde que não fique enjoado. Dizem-me que os ingleses bebem até cair, é a maneira deles celebrarem. É o “No Future” dos Sex Pistols. Será por isso que torço pelos clubes ingleses e pela selecção de Inglaterra? Será que tenho sangue inglês? Bom, de qualquer modo, muitos desses espertinhos que por aí andam, esses espertinhos que desprezam os livros e o saber livresco pouco ou nada sabem, pois não se interrogam sobre os verdadeiros problemas da existência nem problematizam a sociedade, dão uns palpites, mais nada. E, pior do que isso, recusam-se a aprender, quedando-se pela ignorância.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
É TEMPO DE ZARATUSTRA
Braga, casa da Patrícia. Bebo sangria. Queria passar uma mensagem de esperança no novo mundo. Apesar de ver muitos a cair. Quanto a mim, bebo e não fico bêbado. Um dia destes vou-me tramar. Mas também o que me resta? O mundo dos normaizinhos, daqueles que não são capazes de um pensamento elevado. Daqueles que dão o cu ao capital, daqueles que se vendem todos os dias. Não, mil vezes não! Não quero essa vida. Eu venho dos mestres. Eu bebo do cálice do excesso e da sabedoria. Não, não me confundas com eles, com os capitalistas. Eu não sou sequer da mesma espécie. Já na infância era diferente. O meu pai sabia. Eu posso ser igual aos maiores. Elegi como inimigos os que amam o poder e o dinheiro. Odeio os que castram e os que controlam. Sou o homem da liberdade. Eh, poderosos, daqui vos desafio! Não passais de um bando de um imbecis endinheirados encerrados nas vossas torres. A mim não me enganais pois nada tenho a perder. Aliás, começam a chegar os meus dias. Mas vós, vós aí, que só quereis sol, praia e boa mesa, que não vos importais, que não pensais, que não questionais, a vossa vidinha está a chegar ao fim. É tempo de Zaratustra. Do homem que voa e agita. Começamos a perder o medo. Enfrentamos os merceeiros e os agiotas. É nosso o Grande Meio-Dia. Amamos, sim, amamos. Somos espírito e coração. Rimo-nos de desprezo nas vossas caras. Venceremos, sim, venceremos.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
A PEQUENA MINORIA
A luta actual é uma luta pela posse da mente dos homens, escreve Erich Fromm. Uma luta desigual visto que que nós não controlamos os media, nem a família, nem a escola. Apenas publicamos uns textos aqui e ali em nome próprio ou do partido, apenas dizemos uns poemas em bares e noutros lugares, apenas temos umas discussões com amigos, conhecidos ou eventualmente desconhecidos. Sabemos que há pais e professores que ensinam aos seus filhos e alunos o caminho da sabedoria ou andam lá perto, mas são uma minoria, uma pequena minoria. É isso que somos: uma pequena minoria. Esta tarde, em Braga, n’ “A Brasileira”, onde desejaria passar o resto dos meus dias constato que somos uma pequena minoria. Uma pequena minoria que se apercebe, que apesar de nos ser permitido escrever livremente n’ “A Brasileira” e de publicar estes escritos no Facebook, no “Fraternizar” e, em alguns casos, na página do leitor do “Jornal de Notícias”, que a democracia burguesa é uma farsa, que apesar de depositarmos o boletim de voto na urna o nosso voto é apenas um entre 8 ou 9 milhões e quem manda realmente no país são personagens que não elegemos como os banqueiros ladrões, os especuladores, os capitalistas, a Ângela Merkel, o Obama, os burocratas de Bruxelas. Vejo, meus amigos, que apesar da aparente tranquilidade das pessoas, o medo impera e com ele os vários tipos de violência. Não, não estamos em Atenas nem sequer numa Roma sem escravos nem imperadores. Não há diálogo com o desconhecido. Há mulheres bonitas. Há crianças. Há brincadeiras. Há sorrisos. Há Braga. No entanto, a corrida prossegue. A luta pelo lugar, pela existência. A barbárie capitalista. Não faz sentido estar sempre a correr atrás do dinheiro. Não faz sentido ser escravo de coisa nenhuma. Não faz sentido ser prisioneiro do absurdo. Eu penso, porra! Eu tenho ideias próprias. Exijo o paraíso, exijo o céu na Terra! Nenhum polícia me impede de exigir o paraíso, nenhum capitalista me impede de exigir o céu na Terra! Esta tarde, aqui em Braga, n’ “A Brasileira”, renasço. Poderia ir gritar para a rua. Acordai, imbecis! O paraíso está à vista! Dêmos as mãos, companheiros, companheiras. O capitalismo é um tigre de papel. Tudo desaba. Podemos vencer a batalha da mente. Sim, podemos. Prossigamos a nossa viagem. Espalhemos a Boa Nova. Continuemos a escrever e a fazer política, a discutir, a dizer poesia. Continuemos a procurar os media. Precisamos deles mesmo que sejam nossos inimigos. Sim, estamos na estrada certa. Contudo, precisamos dos nossos companheiros, das nossas companheiras. Precisamos formar um movimento. E, sim, precisamos de dialogar mais com o desconhecido como Sócrates, como Jesus. Precisamos passar a mensagem.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
OBEDECE. ACEITA.
O êxito individual e o lucro financeiro a curto prazo, eis os valores do capitalismo de inspiração norte-americana. Salve-se quem puder, que os pobres e os doentes vão trabalhar em vez de esperarem auxílio do Estado, em vez de se entregarem ao vício e à preguiça. Não penses que os comentadores televisivos pensam por ti, que os actores das telenovelas vivem por ti, que o Passos, o Portas e os grandes empresários pensam por ti. Deixa-te levar. Estamos no paraíso. É uma maravilha. Toda a gente ama toda a gente. Ninguém se atropela. Sacrifica-te. Trabalha. Cumpre as horas e as tarefas. Não vieste cá para questionar nem para ler livros. Sê igual aos outros. Segue a felicidade da maioria. Obedece. Porque hás-de pôr em causa? Vê séries e filmes americanos, concursos imbecis. Para que te hás-de preocupar? Quem se preocupa? Segue o rebanho. Consome. Faz o teu trabalho. Sê uma máquina. Esquece os livros que leste. Adapta-te. Sê mais um. Não levantes ondas. Olha para a TV. Absorve as imagens. Engole. Aceita.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
O POETA DE AGOSTINHO
Sou reconhecido como poeta
Mesmo aqui em Vilar do Pinheiro
Vou falando com mais gente
Ontem estive com novos amigos
No “Pinha Doce”
Bebi bastante
Depois da reunião do partido
Partido que vai ter uma surpresa
Mas, afinal de contas,
Sou um homem livre
Preciso divulgar as minhas ideias
Não vou ficar parado
Sou um homem livre
Nada está acima de mim
Nem Deus nem Estado
Precisava, sim, de uma mulher
Que me amasse
Elas vão seguindo a minha carreira
Mas poucas se aproximam
Enfim, será uma questão de tempo
O poeta vadio
O poeta de Agostinho
sexta-feira, 15 de maio de 2015
47 ANOS
47 anos. O percurso de uma vida. Cometi as asneiras, os erros que cometi. Tive que cometê-los. Não me arrependo. Foi um longo percurso desde o menino tímido da escola primária até aqui. Os meus pais esperariam de mim outra carreira quando eu estava no liceu e tinha boas notas mas depois veio a doença e veio a minha mudança quase total. Os Pink Floyd, os Doors, Nietzsche, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa. As saídas à noite em Braga, a rádio, os concertos. A revolta contra a Faculdade de Economia, contra a economia em si mesma. A Faculdade de Letras, as listas R e Z para a associação de estudantes, o JUP, a luta anti-praxe e anti-propinas, o Piolho das tertúlias, a noite do Porto, o Luso, a política, o PSR. Sim, fui crescendo. A Leonor em Braga. A casa da Rua Nova de Santa Cruz. Sim, fui construindo. Hoje sou poeta, escritor, pensador, cronista, diseur, performer. Ainda não cheguei onde quero chegar mas já produzi 13 livros, já dei muitos espectáculos, já cheguei a muita gente. Sim, hoje sinto-me mais senhor. Vejo muitos a caírem na droga, no alcoolismo, na depressão. Vejo um mundo cruel de servos e senhores. Vejo-me à mesa a beber. Sou o poeta marginal, maldito, não sou do mainstream. Ainda que apareça nos jornais.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
NA CONFEITARIA DA CASA
Na “Confeitaria da Casa”
Às cinco da tarde
O poeta pensa
Pensa que há dias
Em que vive noutro mundo
Um mundo fora da vida prática
Do útil
Do dinheiro
Tal como Platão e Aristóteles
O poeta despreza o dinheiro
Acha que a avidez do lucro
Destrói o homem
O poeta pensa
Num grande banquete gratuito
Onde os homens se sentam à mesa
E discutem filosofia e literatura
O poeta pensa em Sócrates e em Jesus
Na bondade, na vontade, na liberdade
O poeta tem tido visões, iluminações
Trilhou o seu próprio caminho
Rumo à noite
Rumo aos bares
E, de vez em quando,
Tem conversas que elevam
Conversas que falam
Da alma, do espírito
Da vida interior
Na “Confeitaria da Casa”
O poeta cansa-se do tédio
Da vida previsível
Que os homens levam
Dos inimigos da vida
Que não nos querem
Deixar viver
Acha-os imbecis
Porque não vêem a flor
Porque não vêem o amor
O poeta é um criador
Tem em si
O belo
O maravilhoso
A divindade
E dança
Ah! Como dança!
Às cinco da tarde
O poeta pensa
Pensa que há dias
Em que vive noutro mundo
Um mundo fora da vida prática
Do útil
Do dinheiro
Tal como Platão e Aristóteles
O poeta despreza o dinheiro
Acha que a avidez do lucro
Destrói o homem
O poeta pensa
Num grande banquete gratuito
Onde os homens se sentam à mesa
E discutem filosofia e literatura
O poeta pensa em Sócrates e em Jesus
Na bondade, na vontade, na liberdade
O poeta tem tido visões, iluminações
Trilhou o seu próprio caminho
Rumo à noite
Rumo aos bares
E, de vez em quando,
Tem conversas que elevam
Conversas que falam
Da alma, do espírito
Da vida interior
Na “Confeitaria da Casa”
O poeta cansa-se do tédio
Da vida previsível
Que os homens levam
Dos inimigos da vida
Que não nos querem
Deixar viver
Acha-os imbecis
Porque não vêem a flor
Porque não vêem o amor
O poeta é um criador
Tem em si
O belo
O maravilhoso
A divindade
E dança
Ah! Como dança!
sábado, 9 de maio de 2015
O HOMEM AMEAÇADO
A somar ao caos e à barbárie capitalistas, o planeta está em perigo, o homem está em perigo. Como diz Leonardo Boff, nos seus discursos oficiais os chefes de Estado, os empresários e os principais economistas quase nunca abordam os limites do planeta e os constrangimentos que isso pode trazer para a nossa civilização. Não queremos que os nossos filhos e netos, olhando para trás, nos amaldiçoem porque sabíamos das ameaças e pouco ou nada fizemos para escapar da tragédia. Temos estado a destruir a natureza e a consumir ilimitadamente. Teremos que respeitar os ciclos naturais. Só temos feito remendos perante um caso de vida ou de morte. Daí que coloquemos a questão. Devido à incúria dos poderes nos próximos 10, 20, 30 anos poderemos assistir a grandes catástrofes naturais e a grandes epidemias que destruirão o capitalismo e obrigarão o homem a reorganizar-se. Talvez então caminharemos, ou então seremos forçados a isso, para o comunitarismo ou para o anarquismo. Como disse Sartre, o homem ou luta pela liberdade ou aceita ser uma coisa.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
O DEUS-DINHEIRO
Eis o que significa venerar o deus-dinheiro, segundo George Orwell. Arranjar uma ocupação estável, triunfar, vender a alma por uma moradia. Converter-se no dócil cidadão que chega a casa às 8 para comer empadão com carne e ligar a televisão. A maioria dos empregados é do tipo duro, americano e empreendedor- o tipo para o qual nada no mundo é sagrado, excepto o dinheiro. O dinheiro comanda tudo, divide os homens, divide-os em classes. Nunca uma sociedade adulou tanto o dinheiro. Não é justo que um homem pise a Terra para viver na miséria. Não é justo ver esses ladrões nadar em milhões. Temos o poder do pensamento, da ideia, de compreender o mundo, não é justo que estejamos aqui a contar os trocos. Nem temos que levar uma vida estúpida. Porque a vida é celebração, festa e também busca da sabedoria. Não queremos ser escravos do dinheiro, nem do que quer que seja. O dinheiro é o contrário do amor.
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