sexta-feira, 15 de maio de 2015

47 ANOS

47 anos. O percurso de uma vida. Cometi as asneiras, os erros que cometi. Tive que cometê-los. Não me arrependo. Foi um longo percurso desde o menino tímido da escola primária até aqui. Os meus pais esperariam de mim outra carreira quando eu estava no liceu e tinha boas notas mas depois veio a doença e veio a minha mudança quase total. Os Pink Floyd, os Doors, Nietzsche, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa. As saídas à noite em Braga, a rádio, os concertos. A revolta contra a Faculdade de Economia, contra a economia em si mesma. A Faculdade de Letras, as listas R e Z para a associação de estudantes, o JUP, a luta anti-praxe e anti-propinas, o Piolho das tertúlias, a noite do Porto, o Luso, a política, o PSR. Sim, fui crescendo. A Leonor em Braga. A casa da Rua Nova de Santa Cruz. Sim, fui construindo. Hoje sou poeta, escritor, pensador, cronista, diseur, performer. Ainda não cheguei onde quero chegar mas já produzi 13 livros, já dei muitos espectáculos, já cheguei a muita gente. Sim, hoje sinto-me mais senhor. Vejo muitos a caírem na droga, no alcoolismo, na depressão. Vejo um mundo cruel de servos e senhores. Vejo-me à mesa a beber. Sou o poeta marginal, maldito, não sou do mainstream. Ainda que apareça nos jornais.

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