domingo, 27 de abril de 2014

O NOVO MUNDO

Com Henry Miller redescubro a vida, a vida autêntica. Olho as mulheres. Desejo-as. Se lhes pudesse contar o que sei agora ficariam confusas, poriam as suas ideias em causa. Algumas delas, claro. Não vinguei como professor. Só dei aulas durante um mês em Lagos. Ainda assim devo ter deixado algo de mim naqueles putos. A tal educação libertária. Enfim, gostava de voltar a ensinar as crianças e os jovens. Deixar-lhes a mensagem do novo mundo. Do novo mundo que aí vem sem capitalismo, sem dinheiro, sem polícias. É claro que para lá chegar atravessaremos o caos e a barbárie. Eles estão aí com o capitalismo. A minha missão é esclarecer as consciências. Vem aí o novo mundo. Preparai-vos. Andais perdidos, enganados com o capitalismo, com a máquina. Sois reduzidos a sub-homens, a escravos. Mas haja esperança. Vem aí o novo mundo. Acabou o tempo das risadas e das doces mentiras, cantou Jim Morrison. Vem aí o novo homem. Dancemos. Chegou a hora.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

HOJE, NA CASA AMARELA, GUIMARÃES, ÀS 22h







   A Noite de Poesia da Casa Amarela de 23 de Abril terá o seguinte formato:

1ª parte 
«À conversa com ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO» - Poemas do autor ditos pelo próprio 
«Microfone aberto» - para quem quiser dizer textos seus ou de outros poetas

2ª Parte
Actuação do grupo «FOTOCÓPIAS» - Rock Português anos 80

   Apareçam! Começa às 22h00. Vai ser uma grande noite!



segunda-feira, 21 de abril de 2014

O DRAMA DO POETA

"Que tinha para dizer ao mundo que fosse tão desesperadamente importante? Que tinha para dizer que não tivesse sido dito antes, e milhares de vezes, por homens infinitamente mais dotados do que eu? (...) Em que sentido era eu único?"
(Henry Miller, "Nexus")

Eis o grande drama do poeta, do escritor. Não as futilidades que muitos escrevem. Seremos únicos? Vêm-nos à cabeça coisas que os outros não pensam? Não estaremos sempre a trabalhar? A mente e o espírito produzem continuamente. Neste momento sou um bêbado inspirado. Saí da caverna. Vejo claramente a luz. O que tenho a dar pertence ao mundo inteiro. Outros foram ou são muito mais dotados do que eu. Outros mudaram o mundo com a sua arte, com a sua palavra. Eu sou apenas um aprendiz de filósofo. Caminho entre os homens. Venho ao café beber cerveja e ler Henry Miller. Só tenho conversa para alguns, normalmente na cidade. Ultimamente tenho-me sentido mais solto, especialmente com as mulheres. Tenho o tal paleio do caos, do fim do dinheiro, do poeta alucinado. Enfim, conversas com copos. Há quem ache piada aos meus ditos e principalmente aos meus escritos. Aprendi contigo, Jaime. Arranjam-se uns trocos, bebem-se umas cervejolas. E já nos julgamos imortais. De qualquer forma, não temos de nos andar sempre a lamentar, não temos de nos auto-culpabilizar como os cristãos. Fizemos o que havia a fazer. E ainda temos muito a fazer aqui na Terra.

sábado, 19 de abril de 2014

EM BRAGA À SOLTA

Estou em Braga. De novo n´"A Brasileira". Espero a Gotucha. Observo as gentes. O louco que entra. As pessoas passam na rua. Está sol. É Primavera. Namorados vêm abraçados. Entra a patroa bonita. Foi aqui que me descobri. Foi aqui que me fui tornando poeta. Aqui os mexericos incomodam-me menos. Aqui reino. Apesar de já não conhecer quase ninguém. O menino chora. Há muitos anos que já não vejo a Natércia. Ensinou-me muita coisa, ensinou-me a dizer poesia. Também nunca mais vi o Rui e o Jorge. Já não sou o rapaz dos 18 anos. Estou mais sábio, sem dúvida. Li muitos livros entretanto. As barbas estão brancas. Estou em Braga à solta.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

PAZ PODRE

Tenho os dias para mim. Isso ninguém me tira. Posso ler, estudar, vadiar. Posso escrever o novo livro. Não tenho de submeter-me a chefes nem a horários. De certa forma, estou fora do capitalismo. As pessoas ainda riem, conversam, trocam delicadezas mas, de facto, fazem parte do rebanho, daqueles que obedecem. Vão à escola, à faculdade mas não problematizam o sentido da vida. Sabem é comerciar, fazer negócio. Vivem presas. A maioria não é capaz de um comentário elevado, digno de um ser humano livre. Não é capaz de vociferar contra o sistema que faz deles escravos. São simpáticos, é certo. No entanto, falta-lhes alma, nobreza, grandeza. São os homens pequenos, os homens das meias-medidas, contentam-se com as pequenas coisas, não anseiam pelo super-homem, não querem conquistar a Terra. Na verdade, querem que o mundo permaneça tal qual é. Preocupam-se com o seu sustento e pouco mais. Não têm iniciativa. A única iniciativa que têm é a defesa dos seus e dos seus negócios. Não pensam em dirigir-se aos demais, em denunciar a situação, em lançar um jornal. Deixam ser-se influenciados pelos outros, só influenciam no sentido da normalização. Ah! Como me irrita esta paz podre, esta simpatia plástica. Como me irrita esta aceitação da lavagem ao cérebro, das vedetas televisivas. Não há nada de profundo. Não há Shakespeare, nem Dostoievski, nem Nietzsche. O amor reduz-se a círculos muito restritos. Não se alarga. O capitalismo é o contrário do amor. Reduz tudo à tecnologia, à bolsa, à eficácia. Daí que muitas vezes fiquemos deprimidos, vencidos, sem saída. Daí que não sejamos quem somos.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A REGRESSÃO DO ESPÍRITO

Gente que vai passando os dias, que vai sobrevivendo, que quer moldar os filhos para o sucesso a qualquer preço. Assim não se vive. Cumprem-se os dias, cumprem-se as horas. Não há um rasgo, um grito, uma blasfémia. Há uma grande preocupação com as notas escolares, não com a busca de sabedoria, muitos aspectos desta são postos de lado, só interessa o saber instrumental, útil. Raros são aqueles que filosofam à mesa. Raros são aqueles que discutem a verdadeira vida. Raros são aqueles que se reúnem no "Banquete" de Platão e Sócrates. Não se trata apenas de discutir umas palavras de ordem como fazem os partidos de esquerda. Trata-se de discutir tudo. Do nascimento até à morte. O homem, a criança, vem ao mundo cheia de potencialidades. Só que a família e a escola começam a impor-lhe preconceitos, a empurrá-la para a competição e para o mercado. Daí que haja muitos adolescentes frustrados, infelizes. A escola não lhes ensina a verdadeira vida. Não lhes diz que a vida pode ser uma autêntica festa e uma busca da sabedoria. Os jovens até podem ter uns anos de festa, de embriaguez mas logo são empurrados para o trabalho, para o assentar, para a obrigação. Acaba-se a festa, perde-se a curiosidade pelo conhecimento, mata-se a vida, a verdadeira vida. Vivemos, quando muito, a prestações. Não seguimos os xamãs, não revelamos curiosidade pelos deuses e espíritos interiores. Levamos uma existência castrada. Só a tecnologia progride e, por vezes, é limitadora. O espírito parece ter regredido.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

AGOSTINHO DA SILVA

Segundo Agostinho da Silva, ter um trabalho é diferente de ter uma ocupação. Um trabalho é algo de imposto, de obrigatório, de desgastante. Uma ocupação é algo que se escolhe, uma vocação, algo de livre. Agostinho defendia que os desempregados deveriam frequentar uma universidade inteiramente livre para combaterem o tédio. É o tal menino da vida gratuita, que não está sujeito a nenhuma espécie de disciplina. As pessoas de hoje estão muito ansiosas, obcecadas pelo dinheiro, muitas perderam o gozo de brincar, de criar, o espírito de vadiagem que também se faz por dentro. Com Agostinho temos o homem livre, o homem sábio, o homem que desenvolve todas as suas potencialidades.

domingo, 6 de abril de 2014

EU VIVO O QUE ESCREVO

Agora que caminho em direcção à sabedoria, agora que sou o poeta, o escritor, o quase filósofo, as coisas parecem-me mais claras. De facto, ao longo destes anos, tenho procurado uma espécie de luz, de sagrado, que vivi nas minhas fases eufóricas, nas minhas trips, mas também nestes estados de hipomania. O pensamento acelera e eu sou alma em busca da virtude, da beleza. Nunca experimentei os ácidos mas esta mistura de álcool com medicamentos e com a própria criação poética produz o tal "efeito coca". Durmo muito menos, estou muito mais desperto e confiante em mim próprio. Na verdade, penso que estou a chegar onde queria em termos de escrita. O Rui Azevedo Ribeiro diz que a poesia é superior mas eu estou convicto de que a prosa está mais solta, menos repetitiva. Neste momento, sou mesmo o criador à maneira nietzscheana. Sem falsas modéstias. As minhas leituras produzem efeito. Como Henry Miller tento aumentar a vida. Procuro chegar às pessoas. Influenciá-las. Dizer-lhes que não têm de ser escravas. Que há um mundo para lá da "realidade", do útil, do "prático". Um mundo de invenção e descoberta. O reino da liberdade absoluta. A minha vida está aqui. Eu vivo o que escrevo. Não faço floreados nem grandes remendos. Talvez fale demasiado sobre mim. Talvez devesse inventar outros personagens. No entanto, não tenho sido capaz. Mas com a produção que levo hoje tudo é possível.

terça-feira, 1 de abril de 2014

9 ANOS DE "TRIP NA ARCADA"

Este blogue faz nove anos. Agradeço a todos que me visitaram, que me visitam, que me comentam. E que a trip continue na Arcada.