segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
O PENSADOR
"A ambição e a alegria sem limites de decifrar o mundo" constitui o sonho essencial do pensador, segundo Nietzsche. Ainda de acordo com o filósofo alemão, "Platão e Aristóteles puseram-se de acordo sobre o que constituia a felicidade suprema (...); eles encontraram-na no conhecimento, na actividade de um intelecto bem exercido que descobre e inventa". E, de facto, que fazemos aqui senão decifrar o mundo, procurar o sentido da vida, conhecer, ter curiosidade. O trabalho do pensador não é duro, pode ser exercido no café, estudando os livros, tomando notas. Ainda segundo Nietzsche, "os seus dias e as suas noites não são estragadas pelo remorso; ele move-se, come, bebe e dorme, observando um comedimento que honra o seu espírito sempre mais calmo, mais poderoso e mais lúcido; (...) não tem necessidade da sociedade senão de tempos a tempos, para em seguida abraçar ainda com mais ternura a solidão". No trabalho do pensador não há stress nem pressas. Não há chefes acima de si, o seu trabalho é livre. Ele exercita o intelecto, lê, pensa, observa. Talvez tenha o melhor modo de vida. Enquanto pensador não se envolve nos negócios dos homens. De resto, acha o comércio uma actividade menor. Descobre e inventa. Não permanece estático. Constrói filosofias. Não se incomoda com a passagem das horas.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
VIVER LIVREMENTE
Viver livremente, poeticamente, sem coacções nem castrações, sem ninguém a dizer-nos o que dizer ou o que fazer. A partir de certa altura, 17, 18, 19 anos, procurei desesperadamente a liberdade, procurei desesperadamente a vida. Já antes, aos 15, 16, escrevia as letras em inglês do Peter Owne para a banda The Vikings: “Sometimes I’m Me”, “Everybody Needs Love”, “War”. Uma escrita “hippie”, já crítica em relação à sociedade, com preocupações sociais.
Hoje estou aqui nesta aldeia suburbana onde falo com duas ou três pessoas, onde dou a impressão de ser um estudioso tímido. Observo as mulheres que vêm ao pão e marcam a passagem. Cofio as barbas. Penso que, apesar das minhas quedas, sou um homem livre. Não tenho chefes a mandar em mim, a televisão não me domina, ninguém me impõe gostos nem comportamentos, ninguém me faz a mente. Apesar de ter apenas uns trocos no bolso vou levando a minha avante, publicando livros, publicando textos, intervindo, recitando nos bares e noutros locais. Abracei realmente a causa da liberdade, da vida poética e tento transmiti-la aos outros, a alguns outros, pelo menos. É muito mais fácil para mim fazê-lo na cidade do que na aldeia. Aqui na aldeia as pessoas estão muito fechadas na religião, na tradição, na família. Na cidade sempre há mais gente disposta a ouvir-me ou a ler-me. Gente que se farta de um quotidiano previsível, entediante, insuportável. Gente que se farta de um trabalho absurdo, repetitivo, imposto. Gente que se farta de imposições, coacções, castrações. Gente que quer viver poeticamente a noite e o dia. Gente que se farta do Passos, da TV, da máquina, do controle. Assim acreditamos verdadeiramente que temos uma missão aqui na Terra, acreditamos que, não obstante os desvios, temos seguido a estrada certa. Não precisamos de cartilhas, direcções ou comités centrais.
Hoje estou aqui nesta aldeia suburbana onde falo com duas ou três pessoas, onde dou a impressão de ser um estudioso tímido. Observo as mulheres que vêm ao pão e marcam a passagem. Cofio as barbas. Penso que, apesar das minhas quedas, sou um homem livre. Não tenho chefes a mandar em mim, a televisão não me domina, ninguém me impõe gostos nem comportamentos, ninguém me faz a mente. Apesar de ter apenas uns trocos no bolso vou levando a minha avante, publicando livros, publicando textos, intervindo, recitando nos bares e noutros locais. Abracei realmente a causa da liberdade, da vida poética e tento transmiti-la aos outros, a alguns outros, pelo menos. É muito mais fácil para mim fazê-lo na cidade do que na aldeia. Aqui na aldeia as pessoas estão muito fechadas na religião, na tradição, na família. Na cidade sempre há mais gente disposta a ouvir-me ou a ler-me. Gente que se farta de um quotidiano previsível, entediante, insuportável. Gente que se farta de um trabalho absurdo, repetitivo, imposto. Gente que se farta de imposições, coacções, castrações. Gente que quer viver poeticamente a noite e o dia. Gente que se farta do Passos, da TV, da máquina, do controle. Assim acreditamos verdadeiramente que temos uma missão aqui na Terra, acreditamos que, não obstante os desvios, temos seguido a estrada certa. Não precisamos de cartilhas, direcções ou comités centrais.
O ÚNICO
Tenho lido Max Stirner e sinto-me um espírito livre. Nada se sobrepõe à minha vontade. Danço com os deuses. Cada vez odeio mais os bancos, os mercados e os seus seguidores. Não jogo na bolsa. Não tenho conta bancária. Não alinho nas patranhas dos telejornais e das multinacionais. Detesto o "Continente" e o "Pingo Doce". Sou único. Não esperes de mim amabilidade nem gratidão. Fica com com a "Casa dos Segredos". Sou único. Ninguém é igual a mim. Nem os meus mestres. Penso que a essência do homem está a ser assassinada pela finança. Não esperes de mim protestos só contra os cortes. Eu procuro a essência. Eu sou o homem que sonha, que imagina, que tem visões, que tem fantasmas. Não esperes de mim o cidadão comum. Estou farto do cidadão comum. Estou farto das preocupações do cidadão comum. Sou único, sou proprietário de mim e das minhas ideias. Não me tentes convencer. Tentas-me convencer todos os dias. Vens com essa treta todos os dias. Mas agora já não me levas. Sou único. Sou soberano de mim e dos meus reinos. Tenho ideias próprias. Não sou do povo. Tenho direito a ter ideias próprias, ouviste? Sigo o meu caminho. Sigo sozinho se tal for necessário. Não ando a mendigar amizades. Nunca gostei de grupos. Sou único. Rei do meu pensamento. Princípe das ideias. Larga-me. Estou farto de ti. Estás sempre a chamar-me. Estás sempre a prometer-me coisas. Nada tenho a ver com os governos da Europa e do país. Aliás, os governos da Europa e do país estão em cacos. De qualquer forma, nunca os apoiei, nunca votei neles. Deixa-me. Estou farto de falinhas mansas. Estou farto de propaganda. Sou de mim. Absolutamente de mim. Não me atires futebóis. Não me atires as gajas da TV. Sou um rochedo. Aqui, no Piolho, proclamo o meu reinado. Reinarei para lá da morte. Não sou dos eléctricos, nem dos metros, nem dos autocarros. Sou de mim. Nem sequer deveria pagar nada por coisa nenhuma. Os outros também não me pagam. Nem sequer sou português. Nasci aqui, nesta cidade, ponto final. Não sou de ninguém. Larga-me. Deixa-me pensar. Observo o que me rodeia mas estou a sós com os meus pensamentos. A caneta desliza no papel. Ontem o caderno ficou encharcado por causa da chuva torrencial. Poderia ter sido uma tragédia. Poder-se-iam ter perdido páginas imortais. Mas, enfim, sobrevivemos. Cavalgamos a folha de papel. Estamos aqui. Somos daqui. Não me venhas vender nada. Não me dês concursos, lotarias, euromilhões. Sou único. Não sou de ninguém. Não tenho de obedecer ao governo nem aos imbecis que votaram nele. Não elegi nenhum deputado. Até fui candidato mas não fui eleito. Nunca apoiei o Belmiro de Azevedo nem o Alexandre do "pingo Doce". Nunca apoiei os gajos dos milhares e dos milhões. Cometi erros mas ninguém me pode acusar de conivência com o capitalismo. Sempre que pude ergui a voz. SEmpre que pude atirei pedras. Estou com os indignados da América e do mundo inteiro. Quero dinamitar os bancos e a bolsa. Não, não me venhas com conversa. Estou farto de conversa. Hoje assumo-me plenamente eu. Sou Deus e mais do que Deus. Desejo as mulheres. Algumas mulheres. Sou o poeta incendiário. Não me atires moderação. Não sou o filósofo de Platão. Digo-te não! Não quero mais esta farsa. Aliás, hoje nem sequer preciso de cerveja. Sou o homem que nasce outra vez. Sou único, meu rei, meu Deus. Triunfo sobre ti e sobre o mundo. Já não me podeis ignorar, ó críticos. Vou tão longe que já não me apanhais. Nem tu, ó leitor. Merda para os macacos da "Casa dos Segredos". Merda para vós que vos refugiais em casa. Merda para tudo e para Deus. Permanecei na escravidão. Eu não vos sigo. Eu nunca vos seguirei. Estou farto. Eu sou. Eu penso.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O mercado global controla tudo. Está nos media, nos poderes, na família, na escola. Faz de nós mercadorias, seres acríticos, de pensamento uniforme. Não quer deixar espaço para a verdadeira vida, para a celebração, para a festa. Aliás, grande parte das festas que existem inserem-se na lógica do consumismo e da compra e venda. O mercado e os mercados não querem que nos expressemos livremente, que desenvolvamos as nossas potencialidades, que sejamos crianças, de novo crianças. Mantêm-nos agarrados às drogas da televisão, do trabalho, do tédio. O mercado não quer que amemos, que nos apaixonemos.
Urge que nos levantemos. Que neguemos o mercado e o dinheiro. Que berremos nas praças. Que nos revoltemos dentro de nós mesmos. Que concentremos as nossas energias no essencial: queremos o mundo. O mundo é nosso, não é do mercado e dos seus agentes. As praias, os bosques e as cidades são nossas. Nascemos livres. Somos do mundo e da vida. Eles não nos podem roubar mais, não nos podem matar à fome. Não nos podem castrar. Somos soberanos. Somos reis. Como disse Holderlin queremos habitar poeticamente a Terra.
domingo, 23 de dezembro de 2012
ESTRELA
SEGUE A TUA ESTRELA
Os debates dos políticos e dos economistas incomodam-me. Só se fala de economia, não se discute o homem integral. O homem que quer crescer, que quer o paraíso na terra. O mundo está cheio de castradores, de forças que querem destruir a nossa individualidade, a nossa alma. Governos, especuladores, máquinas de propaganda. Todos eles nos querem roubar o amor, todos eles nos querem separar, isolar, impedir que dêmos as mãos. Entram nas mentes, nos corações das pessoas, tornam-nas falsas, dissimuladas, frias. E depois elas tratam-nos mal, enganam-nos, querem mandar em nós. O capitalismo e a sua máquina destroem as pessoas, tornam-nas competitivas, negociantes, merceeiras, manipuladoras. Convencem-nos também de que não há alternativa possível, que até é possível ser feliz debaixo das suas condições. Mas nós queremos realmente crescer no amor, na liberdade, na poesia. Queremos voltar ao xamã, ao grande espírito. Sabemos que é uma luta constante. Eles vêem-nos sós, deprimidos, desanimados e tentam apoderar-se de nós, mandar em nós. De forma a que aceitemos ser governados, submetidos, manipulados. Mas depois há uma estrela em nós, dentro de nós, uma estrela que nos diz que nós não somos como eles, que nós não viemos para servir nem para andarmos cabisbaixos. Não temos de andar atrás da selecção nacional, não temos de andar atrás da publicidade, não temos de seguir governo nenhum, não temos de andar atrás do grupo, nem da massa, nem da maioria. Não temos de ser direitinhos, alinhadinhos. Somos pensamento, somos vida. No papel expressamos o que somos. Somos também a música que nos eleva. "The End" dos Doors ou "Love Will Tear Us Apart" dos Joy Division. Estamos aqui para nos questionarmos. Estamos aqui para dizer que não aceitamos a vossa "felicidade", essa que nos vendeis todos os dias, mesmo que venha acompanhada das imagens das mulheres mais belas, mesmo que, por vezes, quase nos deixemos levar por ela. Não, a felicidade não é isso. A felicidade é poder dialogar com Jesus, Sócrates e Nietzsche, a felicidade é conversar, discutir com os amigos e as amigas, a felicidade é celebrar a noite e o dia, subir ao palco, dizer a palavra, a felicidade é amar livremente, sem castrações nem máquinas de propaganda, a felicidade é aumentar a alma e a vida, é tomar parte do banquete permanente. Vivamos o banquete, derrubemos a máquina. Aí seremos plenos, criadores, super-homens. As nossas potencialidades serão infinitas. Vive o homem livre, o homem nobre, companheiro, companheira. Apaga a televisão. Não te deixes mais levar pela conversa. Não te deixes tornar naquele que eles querem que sejas. Torna-te naquele que és. Naquele que se descobre, naquele que se encontra. Sê verdadeiramente revolucionário. Segue a tua estrela.
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PRISÃO
Que faço aqui?
Porque tenho de usar dinheiro?
Porque tenho de ter um trabalho?
Quem me meteu essas coisas na cabeça?
Que existe na cabeça senão o que penso?
Porque é que as pessoas são tão mesquinhas?
Porque não hei-de inventar ideias novas,
porque não hei-de atingir a Ideia de Platão?
Porque não hei-de ser sábio?
Porque há-de existir um governo?
Porque há-de existir Deus?
Porque há-de alguém mandar em mim?
Porque passei a questionar tudo isto?
Porque passo tanto tempo só?
Porque não me limito a agarrar os segundos?
Porque ainda acredito no amor e na liberdade?
Porque não sou apenas mais um?
O que é que me empurra?
O que é que me faz subir?
Porque me tornei diferente?
O que me afasta da vidinha?
Porque penso tanto?
Porque é o que os meus pais me puseram aqui?
Porque me fascinam tanto a loucura e a embriaguez?
Que tenho a ver com Dionisos e os xamãs?
Quem me ama?
Quem me dá a mão?
Porque fazem disto uma prisão?
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Edição 83, 14 Dezembro 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
FORA DA LEI
"Fora da Lei" é o décimo primeiro livro de A. Pedro Ribeiro. Poemas como "Bem-Vindo à Máquina", "Liberdade", "Homem Livre" ou "O Poema" celebram a liberdade que poderia ser ao mesmo tempo que denunciam um mundo onde o homem é violentado na sua essência, onde é privado da juventude e da infância para se colocar ao serviço de uma máquina que o obriga a trabalhar, a ir atrás do dinheiro, a procriar, a "subir na vida". Mas "Fora da Lei" é também o poeta maldito que vai às noites e aos bares, que tem iluminações, que segue a estrada do excesso, da hybris, da desmesura. É o poeta que sobe ao palco de "Paredes de Coura" ou de "Anjo em Chamas", que prova a glória, o fracasso e a ressaca, que desafia e provoca, que recusa a vida normal das pessoas normais e apela à revolução e à revolta. "Fora da Lei" é a rejeição de todos os governos, de todos os patrões, de todos os medos, de todas as castrações. É Dionisos, o xamã e a loucura mas também a procura do sonho, do imaginário, da magia, das estrelas, do amor, da alma. "Fora da Lei" é a história do poeta.
domingo, 9 de dezembro de 2012
A ESSÊNCIA DO HOMEM
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
O MEU PRÓXIMO LIVRO
A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto no Maio de 68. "Fora da Lei" é o seu décimo primeiro livro depois de, entre outros, "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" (Objecto Cardíaco), "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" (World Art Friends), "Queimai o Dinheiro" (Corpos). Licenciado em Sociologia pela Faculdade de Letras do Porto, é cronista, diseur e performer. Está "fora da lei" e exige o mundo, o amor e a liberdade aqui e agora.
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