quarta-feira, 29 de novembro de 2006

PARA CESARINY

A MÁRIO CESARINY

ANTÓNIO PEDRO RIBEIRO

"O Maravilhoso exprime a necessidade de ultrapassar os limites impostos pela nossa estrutura, de atingir uma maior beleza, um maior poder, uma maior duração. Ele quer superar as barreiras do espaço e as do tempo (...) ele é a luta da liberdade contra tudo o que a reduz, a destrói e mutila; ele é tensão, isto é, qualquer coisa de diferente do trabalho regular e maquinal: a tensão da paixão e da poesia (...) ele é a estranha lucidez do delírio (...) ele inflama as multidões nas horas da revolta", escreveu Pierre Mabille ("O Maravilhoso"). Mário Cesariny, aparentemente desaparecido há dias, procurou sempre o "maravilhoso" na poesia, na pintura, na vida. Cesariny, fundador do Grupo Surrealista de Lisboa em 1947 com Alexandre O'Neill, António Pedro e Marcelino Vespeira, entre outros, colectivo que abandonou no ano seguinte para formar "Os Surrealistas" com António Maria Lisboa, Carlos Eurico da Costa, Cruzeiro Seixas e Pedro Oom, foi um Poeta, um Criador, um Espírito Livre, na acepção nietzscheana e surrealista dos termos. Um Poeta, repetimos, um mago da Cor e da Palavra, nunca um versejador da corte, um técnico da sílaba, um merceeiro/moedeiro romancista ou um imitador da forma como tantos que publicam livros e vende3m livros e vão às feiras do livro, aos colóquios e às conferências vomitar o óbvio e o conveniente.
Cesariny é um "poeta integral, irradiante" como disse Vítor Silva Tavares, um poeta de "Iluminações" como Rimbaud, como Blake, como Nietzsche, como Eurípedes, um poeta do amor, da liberdade, da revolução como Breton, como Péret, como Artaud, como Gingsberg. Os poetas de génio e, particularmente, os surrealistas, sempre andaram de mãos dadas com a loucura, sempre procuraram o "Maravilhoso" de Mabille, o "uno Primordial" das tragédias gregas, de Nietzsche, de Dionisos. "Caramba caramba António/ já estás muito mais parecido/ ou então era eu que não me lembrava/olha, hoje o teu clima está magnífico/olha, vamos sair desta cidade/ onde o teu clima é sempre para dividir por cinco/ vamos para as praias da alma arrebentar-nos vivos.", escreveu Cesariny em "Pena Capital" e acrescenta: "um pouco de certo modo por toda a parte/há homens desmaiados ou simplesmente mortos/O AMOR REDIME DO MUNDO diziam eles/ mas onde está o mundo senão aqui?"
Os poetas de génio como o autor de "Pena Capital", "A intervenção Surrealista" ou "O Virgem Negra" não suportam a vida burguesa, pequeno-burguesa ou mesmo proletária, rotineira, entediante, previsível, castradora. Vagueiam ou vadiam, na expressão de Agostinho da Silva, pela cidade, "á deriva", como os Situacionistas, pelas ruas, pelos tascos, pelos cafés (o "Gelo", o "lisboa", o "Rei Mar" dos travestis, das prostitutas), pelos bares, à procura da "Liberdade Cor de Hiomem" de Breton. "O Homem só será livre quando tiver destruído toda e qualquer espécie de ditadura religioso-política ou político-religiosa e quando for capaz de existir sem limites. Então o Homem será o Poeta e a poesia será o Amor Explosivo.(...) Para a Pátria, a Igreja e o Estado a nossa última palavra será sempre: MERDA!" Assim escrevia e era o autor de "Intensamente Livre". E é de liberdade e de aves livres que também fala Nietsche ("Assim Falava Zaratustra"): "Assim fala a sabedoria de ave (livre): Repara, não há alto nem baixo! Atira-te para todos os lados, para a frente, para trás, homem leve! Não fales! Canta!" Cesariny ficará para sempre associado ao canto da liberdade, aos poetas-magos, visionários, aos loucos divinos, aos xamãs.

terça-feira, 28 de novembro de 2006

MÁRIO CESARINY

Depois de ver com seus próprios olhos como é que o
ratazana
toma o seu cházinho
Emile Henri
escritor da literatura da dinamite
lança a segunda bomba à porta do café Términus
dado que: da má distribuição da riqueza e das coisas boas da Terra
TODOS SEM EXCEPÇÃO TÊM A MÁXIMA CULPA.

Rui Lage, Mário Pinto, o PÚBLICO e Nietzsche

Ao Rui Lage,


OfantasmadeNietzscheaparecenomeuquartoefala.doc (0.03 MB)
É assim mesmo, Pedro, e para provar a minha total concordância e empatia com a tua irritação, envio-te em anexo um poema do meu último livro (o qual já saiu da gráfica e será distribuído em inícios do próximo mês), poema esse intitulado, nem de propósito, "O fantasma de Nietzsche aparece no meu quarto e fala". De resto, o que é que estavas à espera do PÚBLICO? É o nosso jornal "neo-con"... Grande abraço, Rui L On 11/23/06, Pedro Ribeiro <apedroribeiro@hotmail.com> wrote:


Ex.mo Sr. Director do "PÚBLICO": O professor Mário Pinto, católico assumido, teceu, num artigo intitulado "Mas queremos mesmo valores", publicado no PÚBLICO de 20/11, considerações acerca de uma intervenção do professor Eduardo Lourenço acerca do filósofo e poeta F. Nietzsche no âmbito de uma conferência subordinada ao tema "Que valores para este tempo". Que Mário Pinto discorde da filosofia de Nietzsche nada de mais natural, uma vez que o filósofo alemão sempre combateu as doutrinas da Igreja Católica e do cristianismo que com a divinização do Céu, do Além e de um suposto Deus depreciam a vida terrena e convidam ao sacrifício, à resignação, à castração dos sentidos, ao tédio, à morte em vida, à repressão da vontade. Mas só quem nunca leu "Assim Falava Zaratustra", "A Origem da Tragédia" ou "Para Além do Bem e do Mal" é que pode cometer a imbecilidade e a injustiça de associar o mais genial dos filósofos ao nazismo. Nietzsche detestava a Pátria, o Estado, a mentalidade racionalista/materialista alemã, a polícia, o exército,. a autoridade, a ordem, a moral. Nietzsche amava a liberdade e a vida plena, estava para além do bem e do mal. O "Super-Homem" não é mais do que a superação do homem, que assim mata o Deus que há em si. O "Super-Homem" tem a ver com o espírito livre, com o artista-criador que já não tem preconceitos. Nietzsche está vivo, mais do que nunca, as suas profecias libertárias e dionisíacas andam por aí à solta. Quanto a Deus, M. Pinto e amigos que cuidem bem dele porque se não morreu, está gravemente doente, à imagem e semelhança do seu camarada Alá. António Pedro Ribeiro.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

MANA EM CONCERTO

A banda MANA CALÓRICA & LAS TEQUILLAS dá um concerto na sexta, dia 24, pelas 22.45 horas, na Casa das Artes em Famalicão, integrado na abertura da Feira do Livro naquela cidade. "1º Ministro", "Anjo em Chamas", "Submissão", "Droga", "Faca", "Sangue de Loira" e "She's Lost Control" (Joy Division) são alguns dos temas a interpretar.

MANA EM CONCERTO

A banda MANA CALÓRICA & LAS TEQUILLAS dá um concerto na sexta, dia 24, pelas 22.45 horas, na Casa das Artes em Famalicão, integrado na abertura da Feira do Livro naquela cidade. "1º Ministro", "Anjo em Chamas", "Submissão", "Droga", "Faca", "Sangue de Loira" e "She's Lost Control" (Joy Division) são alguns dos temas a interpretar.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

O AMOR LOUCO

DESEJO-VOS QUE SEJAIS LOUCAMENTE AMADA.
(ANDRÉ BRETON, O AMOR LOUCO)

terça-feira, 14 de novembro de 2006

ASTÓRIA

O Astória
voultou ao Astória
os velhos passam
os bancos chulam

os jornais circulam
como as mamas
os bebés mamam
os bancos também

os polícias controlam
vêm de Cabez
como as águias
outros
apreciam
a natureza.

APR, café Astória, Braga, 2006.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

UM CROFT EM LISBOA

Ao Changuito

um croft em Lisboa
voa voa
chuva chuva molha molha
até à hora de partir

um croft em Lisboa
dá-lhe dá~lha até partir
sempre o hino sempre o hino
a fazer o pino
nos colhões do Camões
que até nem tem culpa
do que faz dar o cu pela Pátria
ou a Pátria pelo cu

sei que vou subir
não tarda nada
a arder na garganta
na alma em transe
dança dança
até partir

como em 95 em Braga
cara feia
desfeita na tv

sou o que sou
sou o que me dão
o que me resta
não há cura
nem redenção

sou o homem que despeja
a cerveja
e se refaz
noite feita
mulher feita
minha irmã
Maldoror,
meu amor,
Satã na cortesã.

A. Pedro Ribeiro, Lisboa, 24.Out.2006, antes da "Barraca".

AURELINO COSTA

A CELEBRAÇÃO DE GENOVEVA

António Pedro Ribeiro

O livro do poeta e diseur poveiro e universal Aurelino Costa, "Na Terra de Genoveva" (Edições do Buraco), é uma espécie de cântico à mulher, à volúpia e também de celebração da maternidade, da vida, da luz, dos sabores e dos odores e, ao mesmo tempo, da rudeza da natureza, da mãe-terra. Mãe, teta, mama, úbere, mamilo, gema, vaca, luz, fruto, filho, neto, "as mães têm sempre razão" (p.18) são palavras e versos que falam por si e se entrelaçam com um certo misticismo/religiosidade sempre à flor da pele, sempre preso à terra: cruz, anjo, oração, sinal, Sinai e, claro, Baco, Eros, auréola, devota, glórias, eterno, lua, "um homem cravado" ou ainda "canções de caos menor ululam no céu" (p.35), "a teia (ateia?) do céu" (p.32).
Mas há também e sobretudo a celebração da deusa, por vezes puta, mulher, do corpo, bem como dos tais cheiros e sabores humanos, animais/animalescos, terrenos, de uma forma arrebatada, violenta, directa, sem meias-tintas mas com as tintas da criação. A mulher vem ter com o "apátrida guerreiro" (Ulisses? Aquiles?), sempre ao sabor de um movimento contínuo (o Eterno Retorno?), agreste, liberto que faz com que "a península e Letícia (se) abrem-se" (p.12), no "açucarado felino" da língua, no "latido das nádegas", na "sífilis perpétua", na garganta (funda?) que vibra. É talvez a mesma Letícia/Genoveva que (se) "despiu-se ao espelho" (p.29) e "mexe a chávena com a trança" (p.29), é "a eterna mulher sem roupa" (32), a "Susan Pensak no púcaros (...) a beber cerveja pensal"(29), a "estátua de pele" (42), a "vulva (que) fulmina o que vegeta" e sobretudo a fabulosa "viagem para o teu vestido de insana" (48) ou a "Lesma (...) /a lamber o teu adulto de mulher" (54). Em Aurelino há uma inquietação/exaltação/libertinagem constante dos sentidos e dos elementos que desemboca numa musicalidade sôfrega, sensual e selvagem: cuspo, sede/sal, lapa, "zumbem vespas", ácidos, fígado, "namorada/engolir", "tesoura na garganta", "vacas apascentam/defecam/fodem" (20), "cio in testicular", "mico o sol de ponta" (23), "debica um astro na boca" (25), "mortandade de facas".
Depois vem a própria música, "os broques da guitarra" (p.32, para Jorge Palma), violino, "esticar cordas", harpa. Por fim, chega o lado apocalíptico/dionisíaco/algo surrealista: "verme no vício", "malmequer de espátula alucina a noite quente/ aniversário do sol" (50), "arame/farpa o homem" (52), "late o mar e a velha", "Alexandre (O Grande?) teme o fim dos repórteres" (31), "velha viva mastigando um peixe morto" (42), "sobre a origem de macaco o homem nada" (24), "o génio faz batota" e o sublime "na ponta dos cais assobiam suicídios".

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

A SEGUNDA QUEDA DO MAJOR MOTA

COMUNICADO DA FRENTE GUEVARISTA LIBERTÁRIA

O segundo e recente derrube da estátua do major Mota, na Rua da Junqueira, na Póvoa de Varzim, leva-nos, a nós, Frente Guevarista Libertária (FGL) a tomar uma posição pública. A nossa postura em relação à estátua e à figura do major mantém-se inalterável. O major Mota, presidente da Câmara da Póvoa no tempo do fascismo, foi dirigente da Legião Portuguesa e da Mocidade Portuguesa e, portanto, directamente responsável e altamente conivente com o regime salazarista. Erigir uma estátua, seja onde for, a uma figura da ditadura do Estado Novo é insultar todos aqueles e aquelas que deram a vida e lutaram pelo 25 de Abril e pela restauração da democracia em Portugal, é insultar todos aqueles que foram presos, torturados e mortos a mando de Salazar, de Marcello Caetano ou da PIDE e respectivos lacaios, como o major Mota. Por este andar a Câmara da Póvoa ainda vai edificar estátuas a Salazar, Caetano e (porque não?) a Hitler, Franco, Estaline ou Mussolini.
Portanto, para nós, FGL, derrubar a estátua de um fascista não é um acto de vandalismo, não é um crime, nem tão pouco "uma nítida falta de civismo", como declarou o inefável vereador da Propaganda, o Goebbels da Póvoa, Luís Diamantino. Derrubar a estátua do major Mota é um acto revolucionário ou, pelo menos, um acto de rebeldia em defesa dos valores de Abril.
Acrescente-se ainda que o nosso camarada António Pedro Ribeiro, aderente nº 346 do Bloco de Esquerda, foi ouvido pela Polícia Judiciária, na sequência de uma queixa da Câmara da Póvoa de Varzim e a propósito da queda da estátua em Setembro de 2003, salvo erro em Fevereiro de 2004, tendo-lhe sido comunicado o arquivamento do processo por falta de provas.
Se a Câmara da Póvoa quer erguer estátuas, que erga uma ao saudoso Manuel Lopes, como de resto já sugerimos, esse sim, um defensor da cultura e etnografia poveiras e não só e também destacado miltante anti-fascista.

Com os melhores cumprimeiros,

Póvoa de Varzim, 7 de Novembro de 2006,

Pela Frente Guevarista Libertária,

António Pedro Ribeiro
Silvia Lopes
Jorge Barros
TEL. 229270069/913059471.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

APOIO DO PSSL À CANDIDATA LIBERTÁRIA NO NEVADA

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quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A VIDA E A MORTE

NIETZSCHE E OS PROFETAS DA MORTE

António Pedro Ribeiro

Vivemos num tempo de contabilistas, de economistas, de magos da finança, de usurários, de agiotas, de percentagens, de estatísticas. Vivemos em função do 4,6% do défice, dos 1,5% dos salários, dos 3,7% da SONAE, dos 0,2% do PSI-20, dos 7,8% das OPAS. Vivemos num mundo de mesquinhez, de números assexuados, de rapina. E muitos acreditam que a isto corresponde a vida. Mas a vida assim não é vida. Mas o homem assim não é homem. O homem e a vida não têm de ser assim. Homem que se preze não faz amor com percentagens nem com OPAS!
O grande poeta e filósofo Nietzsche ("Assim Falava Zaratustra") perguntava: "Não seria pregar a morte sacrificar tudo o que contradiga e desencoraja a vida?" E acrescenta, na voz do profeta Zaratustra:"A sabedoria cansa- nada vale a pena, nada cobiçarás- Quebrai, meus irmãos, quebrai esta nova máxima: foi lá colocada pelos que estão fartos do mundo e pelos pregadores da morte e pelos polícias: porque reparai que é também um apelo ao servilismo! A vida é uma fonte de alegria, mas para aquele em que fala o estômago estragado, pai da tristeza, todas as fontes estão envenenadas. Conhecer é uma alegria para quem tem a vontade do leão! Querer liberta, porque querer é criar!", conclui o filósofo alemão.
O mundo de hoje, com os seus apelos ao consumismo, com as corridas ao "Euromilhões", com a felicidade fabricada, com as mulheres de sonho que aparecem nos ecrãs mas já estão tomadas é, ao mesmo tempo, um mundo de castrações, de primeiros-ministros robóticos como Sócrates ou Blair e tantos outros, de profetas da morte que nos ameaçam cortar a mesada ou dar uma palmada se gastarmos uns tostões a mais nos livros ou nos copos, como se fossem os detentores da moral, da virtude e da verdade universal.
Os falsos virtuosos, os padrecas, os pregadores da moral e os seus lacaios e seguidores nacionais e internacionais pregam a morte, são inimigos da vida. É por isso que andam de mãos dadas com os economistas, com os contabilistas, com os banqueiros, com os empresários, com os mercadores. A eles os milhões e os impérios, aos outros uns trocos ou nem isso.
Eu, António Pedro Ribeiro, 38 anos, recuso-me a ser um número, uma nota, uma caixa de "Multibanco", o 1,5%, o 3,7%, o 7,5%, uma percentagem na bolsa! Eu como Nietzsche, como Blake, como Breton, como os criadores de todos os tempos, amo a vida, as mulheres, a beleza, o sol, a luz, a liberdade, a sabedoria, o canto. Amo tudo quanto corre livremente, tudo quanto vem da veia, do coração, da dança, do excesso, da criação, sem castrações, sem falsas virtudes, sem cálculo de percentagens ou de lucros, sem políticos robóticos, sem fronteiras, sem limites, sem trapaceiras, sem agiotas nem idiotas, sem os colunistas do óbvio e do conveniente. Canto, pois, a liberdade e o "Grande Meio-Dia" de Zaratustra.

Nietzsche e Deus

Tirai-nos este Deus! Mais vale não haver Deus, mais vale cada um fazer o seu destino guiando-se pela sua cabeça, mais vale tornarmo-nos loucos, mais vale ser cada um de nós o seu próprio Deus! (Nietzsche, "Assim Falava Zaratustra").