quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A VIDA E A MORTE

NIETZSCHE E OS PROFETAS DA MORTE

António Pedro Ribeiro

Vivemos num tempo de contabilistas, de economistas, de magos da finança, de usurários, de agiotas, de percentagens, de estatísticas. Vivemos em função do 4,6% do défice, dos 1,5% dos salários, dos 3,7% da SONAE, dos 0,2% do PSI-20, dos 7,8% das OPAS. Vivemos num mundo de mesquinhez, de números assexuados, de rapina. E muitos acreditam que a isto corresponde a vida. Mas a vida assim não é vida. Mas o homem assim não é homem. O homem e a vida não têm de ser assim. Homem que se preze não faz amor com percentagens nem com OPAS!
O grande poeta e filósofo Nietzsche ("Assim Falava Zaratustra") perguntava: "Não seria pregar a morte sacrificar tudo o que contradiga e desencoraja a vida?" E acrescenta, na voz do profeta Zaratustra:"A sabedoria cansa- nada vale a pena, nada cobiçarás- Quebrai, meus irmãos, quebrai esta nova máxima: foi lá colocada pelos que estão fartos do mundo e pelos pregadores da morte e pelos polícias: porque reparai que é também um apelo ao servilismo! A vida é uma fonte de alegria, mas para aquele em que fala o estômago estragado, pai da tristeza, todas as fontes estão envenenadas. Conhecer é uma alegria para quem tem a vontade do leão! Querer liberta, porque querer é criar!", conclui o filósofo alemão.
O mundo de hoje, com os seus apelos ao consumismo, com as corridas ao "Euromilhões", com a felicidade fabricada, com as mulheres de sonho que aparecem nos ecrãs mas já estão tomadas é, ao mesmo tempo, um mundo de castrações, de primeiros-ministros robóticos como Sócrates ou Blair e tantos outros, de profetas da morte que nos ameaçam cortar a mesada ou dar uma palmada se gastarmos uns tostões a mais nos livros ou nos copos, como se fossem os detentores da moral, da virtude e da verdade universal.
Os falsos virtuosos, os padrecas, os pregadores da moral e os seus lacaios e seguidores nacionais e internacionais pregam a morte, são inimigos da vida. É por isso que andam de mãos dadas com os economistas, com os contabilistas, com os banqueiros, com os empresários, com os mercadores. A eles os milhões e os impérios, aos outros uns trocos ou nem isso.
Eu, António Pedro Ribeiro, 38 anos, recuso-me a ser um número, uma nota, uma caixa de "Multibanco", o 1,5%, o 3,7%, o 7,5%, uma percentagem na bolsa! Eu como Nietzsche, como Blake, como Breton, como os criadores de todos os tempos, amo a vida, as mulheres, a beleza, o sol, a luz, a liberdade, a sabedoria, o canto. Amo tudo quanto corre livremente, tudo quanto vem da veia, do coração, da dança, do excesso, da criação, sem castrações, sem falsas virtudes, sem cálculo de percentagens ou de lucros, sem políticos robóticos, sem fronteiras, sem limites, sem trapaceiras, sem agiotas nem idiotas, sem os colunistas do óbvio e do conveniente. Canto, pois, a liberdade e o "Grande Meio-Dia" de Zaratustra.

Sem comentários: