sábado, 6 de junho de 2009

HÁ UMA SEMANA


Há uma semana estava com aquele pedal
hoje nem por isso
podia ter ido ao Porto
mas não fui
vão pintar um poema meu na parede
e eu não vou ver
paciência
há uma semana estava com aquele pedal
hoje nem por isso
até escrevi cinco poemas
até voltei a escrever no quintal
hoje, nada
ou quase nada
as palavras custam a sair
as senhoras queixam-se que não têm
ninguém para conversar
a D. Rosa conversa comigo
sou o gajo solitário
que vem à confeitaria
há uma semana estava próximo do sublime
hoje nem por isso
apenas escrevo umas coisas
cumpro o exercício diário
nem sequer procuro ser incisivo ou mordaz
é o que sai
a D. Rosa conversa com toda a gente
e eu aqui a lamentar-me
está um gajo sempre a lamentar-se- já diz o Oliveira
mas há gente mesmo mesquinha
sempre a meter-se na vida dos outros
sempre a comentar
é certo que quando um gajo escreve
também está a comentar
mas não é da mesma forma
se toda a gente fosse como a D. Rosa
o mundo seria melhor
continuo a alongar-me muito nos poemas
são poemas filosóficos
Ah! Se isto me desse para viver
se me pagassem o que escrevo
se me comprassem os livros todos
deveria ter ido ao Porto
nem sei porque não fui
amanhã vou votar no MRPP
1% já não está mau
1% é um bom "score" para o partido revolucionário
era o que tinha o PSR nos bons velhos tempos
talvez até dê para eleger o Garcia Pereira
nas legislativas
1% é um bom "score", mais uns votos
e convertemo-nos ao sistema
foi o que aconteceu ao Bloco
há uma semana estava com aquele pedal
hoje nem por isso.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A GAJA BOA


um café agradável
uma gaja boa
mais nada
absolutamente mais nada
o mundo sorri ao poeta
mas parece que vai fechar
a gaja boa lê
o poeta escreve sobre ela
é bem bonita
oxalá lhe viesse parar aos braços
o poeta bebe e pensa
o empregado limpa o chão
isto está prestes a fechar
mas o poeta ainda escreve
se fosse a outro café
não via a gaja boa
não teria o prazer de partilhar
o mesmo espaço com ela
isto está a fechar
mas não deixa de ser uma bênção
poder olhar para as gajas boas e bonitas.

O REI


Escrevo, pura e simplesmente, escrevo
acabo de beber duas cervejas
e continuo a ler o "tratado do Estilo" de Aragon
observo a campanha eleitoral
nunca liguei tão pouco a uma campanha como a esta
só me interessam o POUS, o MRPP e o PPM
estes últimos dizem que está tudo mal
o que faz falta é um rei
não deixam de ter a sua razão
um rei sim, mas não um rei qualquer
um rei como Artur
um rei místico, um rei surreal
um rei que dance na pista
um rei que dê a volta
um rei que comande a revolta
um rei que mande foder
os direitinhos e os amigos da finança
um rei que dança
um rei que canta
um rei que espeta a lança
um rei com pança
escrevo, pura e simplesmente, escrevo
e isto não precisa de ter uma explicação lógica
por acaso até descendo de um rei
e não quero saber do politicamente correcto
quando dizemos os nossos poemas
certo tipo de poemas
expômo-nos mais
essa é que é essa
há gajos que estão sempre à defesa
não os suporto
nem às suas falinhas mansas
que se fodam!
O que é preciso é curtir
curtir a noite toda
sem papas na língua
não é questão de taxar as bolsas e o capitalismo
como defende o Bloco de Esquerda
há que dar cabo das bolsas e do capitalismo
dinamitar as bolsas e o capitalismo!
É a única solução que vejo para esta merda
se for preciso um rei para isso
que venha esse rei
de uma vez por todas
acabemos com isto
basta de conversa
acabemos com isto
basta de conversa
acabemos com isto
basta de conversa...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

DAI-ME NOTÍCIAS


O velhote demora uma eternidade a ler o jornal
e eu aqui ávido de notícias frescas
quero comer e beber notícias
sem notícias não existo
estou nas vossas mãos, ó jornalistas
jornalistas, alimentai-me!
Eu não como pão nem carne
como notícias
desespero pelo Telejornal
as notícias fazem-me escrever
são a minha matéria-prima
dai-me notícias!
Dai-me notícias que eu sufoco
o velhote nunca mais sai da página 7
e eu a precisar do jornal como de pão para a boca
dai-me notícias!
Não vivo sem elas
as notícias são a minha vida
dai-me políticos, desastres, crimes
alimentai o meu espírito consumista
dai-me notícias
de manhã até à noite
dai-me notícias
para eu me sentir gente
dai-me notícias
e eu até beijo o Presidente
dai-me notícias
senão fico doente
dai-me notícias
tenho de estar a par do mundo
dai-me notícias
senão vou ao fundo
dai-me notícias
as notícias são a minha vida.

INCISIVO

Tenho de ser incisivo
escrever com uma certa raiva
tenho de ser incisivo
matar com as palavras
deixar o público KO
mandar tudo às urtigas
tenho de ser incisivo
escrever frases curtas
provocar explosões
soltar as rédeas
tenho de ser incisivo
provocar gargalhadas
dizer maluquices
e algumas caralhadas.

A FELICIDADE É UMA MULHER


Há realmente livros que literalmente
nos abrem a cabeça
"Tratado do Estilo" de Louis Aragon
"A Economia Parasitária" de Raoul Vaneigem
e isto não é conversa de telenovela!
Há frases de Aragon, de Vaneigem, de Nietzsche
que nos fazem avançar anos e anos
o paraíso natural não existe
só existem paraísos artificiais
isto entra em contradição com o que tenho escrito
ultimamente
o futebol é uma droga, a religião é uma droga
os efeitos variam de pessoa para pessoa
é tudo uma questão de carência
há bocado aqui no café estava um gajo
a discorrer sobre os malefícios da Europa,
sobre os malefícios do capitalismo
e o homem tem razão!
Afinal nesta terra sempre há gente que pensa!
Nem tudo se resume ao comer e beber
e ao ram-ram da vidinha
há algo mais do que isso
eu acredito no paraíso natural, caro Aragon!
Não o paraíso dos cristãos ou dos muçulmanos
não sei se é preciso alguma droga para lá chegar
Pronto, chega uma loira
e cá temos o Paraíso!
E até agora só bebi uma cerveja!
A felicidade é uma mulher,
já dizia Nietzsche
é isso: a felicidade é uma mulher!
Mas não qualquer uma!
Há mulheres que estão cá para nos fazerem felizes
ou para termos a ilusão disso
há realmente livros que nos abrem a cabeça
e a felicidade aqui tão perto
aparentemente tão à mão de semear
mas é uma ilusão
a gaja é inacessível
foi somente um instante de felicidade
instantes de felicidade- é o que temos!
Mas continuamos a sentir aquela coisa
não sei
e eis que se arma uma bruta discussão!
A mulher não quer Seguro!
Os gajos dos Seguros são todos uns aldrabôes!
Porra! Mas a gaja era mesmo linda
era a felicidade
devia chamar-se Felicidade!
Eu vi a Felicidade
tive a Felicidade diante dos olhos,
meu caro Aragon!
A Felicidae é uma mulher.

O LONGO POEMA


Nos últimos dias tenho-me sentido particularmente bem
de bem com o mundo
apesar de não concordar com ele
a consciência está tranquila
o espírito leve
a escrita flui
as pessoas são simpáticas
sinto-me a caminho de uma nova Idade do Ouro
apesar dos telejornais
e das campanhas eleitorais
apesar da coscuvilhice das vizinhas
e da maledicência
sinto-me em cima
realmente em cima
não é que o poema seja brilhante
não é que ele mude a face da Terra
mas sinto-me realmente bem
em paz comigo mesmo
a caminho de qualquer coisa de novo
qualquer coisa de puro
uma nova fase na minha vida
e as pessoas vêm ter comigo
apreciam a minha poesia
dizem que o último livro é o melhor
apesar de, por vezes, me estender demasiado
como agora
parece que estou no psiquiatra
a expôr o meu estado de espírito
e apetece-me beijar a Joana
que limpa o cortador do fiambre
e eis a femme fatale cá do sítio
que entra com o namorado
estou numa fase em que me atiro a todas
apesar de ter namorada
e lá me vou contentando com os trocos que tenho
este poema talvez não seja grande coisa
para dizer em público
mas a coisa lá vai fluindo
no Sábado escrevi cinco
bem sei que tenho as minhas megalomanias
mas temos de ser algo narcisistas
senão começam a ter pena de nós
nunca liguei tão pouco a uma campanha eleitoral
como a esta
talvez esteja a ficar apolítico
como alguém já disse
talvez esteja a perder os preconceitos
não sei que importância isto terá para o cidadão comum
o que eu queria mesmo era que uma destas gajas bonitas
que não conheço de lugar nenhum
viesse falar comigo
isso é que era a vida
isso é que era a espontaneidade
mas isso não vai acontecer
já o sei
as pessoas fecham-se muito em grupos
só a D. Rosa é que meteu conversa comigo
o calor aperta
e as gajas descascam-se
até aqui em Vilar do Pinheiro
se começa a ver alguma coisa
e este poema está pouco incisivo
não é daqueles a matar
vai rodeando, rodeando
os poemas são o reflexo do nosso pensamento
a taxa de desemprego subiu para 9,3%
as notícias do país também interferem no poema
os poemas são o reflexo do nosso pensamento, dizia,
com uns cortes, com umas correcções
a verdade é que as gajas só vêm falar connosco
espontaneamente quando estão bêbadas
e nós também somos um bocado assim
em resumo: deveríamos andar sempre bêbados
e o mundo seria melhor
e depois vem a "Hallelujah" do Jeff Buckley
e o mundo fica melhor
até acreditamos que existe algo de superior
talvez até Deus
não, definitavamente acho, como Henry Miller,
que isso a que chamamos Deus está dentro de nós
e isso, efectivamente, nada tem a ver
com o que dizem os economistas, os eurodeputados, os eurocratas
não, este definitavamente não é um poema
para ser dito em público
não tem aquele ritmo
não é suficientemente mordaz
talvez já estejamos a falar demais
- como diria o meu pai-
o poema já tem um comprimento apreciável
não é que os poemas se meçam aos palmos
mas não me vou pôr para aqui a dizer poemas
de 15 ou 20 minutos
como a gaja que há dias aqui disse a "Tabacaria"
e pronto! Lá estou eu a falar para o público do "Púcaros"
quanto estou na confeitaria "Motina"
deveria falar para esta gente
mas esta gente não me ouve
está focada na vidinha de todos os dias
não me vou armar em profeta
talvez eu, no fundo, seja um pregador
como disse o Sindulfo
bem, acho que vou dizer só uma parte do poema
sempre posso usar esse truque
afinal de contas, venho aqui todas as semanas
gastar saliva
alguma coisa há-de ficar de toda esta prosa
ando a escrever textos muito longos
- já o diz a Alexandra-
não consigo dar a estocada final
vou rodeando, rodeando- já o disse
já me estou a repetir
e assim acaba.

É TUDO A MESMA TROPA

Queria que integrassem os órgãos sociais do Efisa
Mail de Abdool Vakil para Oliveira Costa revela critério de recrutamento de figuras socialistas
04.06.2009 - 07h28
Por Cristina Ferreira
Pedro Cunha/PÚBLICO (arquivo)

Abdool Vakil descreveu a Oliveira Costa vários nomes do universo socialista
Abdool Vakil, então presidente do Banco Efisa, sugeriu a José Oliveira Costa, no início da década, a pedido deste e segundo critério definidos pelo ex-presidente da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), um conjunto de nomes do universo do Partido Socialista (PS) para integrarem os órgãos sociais do Efisa, a instituição financeira que funciona como braço de investimento do Banco Português de Negócios (BPN).

O e-mail enviado a Oliveira e Costa por Vakil e que agora é matéria reservada à Comissão de Inquérito Parlamentar à supervisão ao BPN, foi trocado no início da década, quando era primeiro-ministro António Guterres.

O Grupo SLN/BPN evidenciava-se antes da nacionalização por ser um projecto difuso, sustentado em relações pessoais de Oliveira Costa e Dias Loureiro, e que funcionava como um pólo de atracção de negócios não financeiros. O grupo desenvolveu-se apoiado numa base política, ligada sobretudo a uma facção do PSD, constituída por ex-membros dos governos de Cavaco Silva e de Durão Barroso, e com ligações ao mundo dos negócios. O banco caracterizava-se ainda por ter políticos no activo nos órgãos sociais e a desempenhar um papel determinante nos destinos do grupo.

Para além de Oliveira Costa e de Dias Loureiro, pelos órgãos sociais do BPN passaram nomes como o de Daniel Sanches (ex-ministro da Administração Interna de Santana Lopes e antigo director dos serviços secretos no tempo em que Dias Loureiro era ministro), ou o de Lencastre Bernardo (ex-director dos serviços de estrangeiros e fronteiras). À frente do Conselho Superior esteve vários anos Rui Machete (presidente da Fundação Luso Americana) e dirigente do PSD. Entre os accionistas (e clientes), o grupo conta, por exemplo, com Joaquim Coimbra (da direcção de Manuela Ferreira Leite), Arlindo Carvalho (ex-ministro de saúde) ou Gilberto Madail.

Apesar dos vários nomes do universo socialista sugeridos por Vakil a Oliveira Costa, apenas José Lamego, Augusto Mateus e Guilherme Oliveira Martins chegaram a assumir funções, mais concretamente, no conselho superior do Banco Efisa.

O e-mail de Abdool Vakil para Oliveira Costa

Meu caro,

No tocante a este assunto, para além do nome que sugeriu que foi o do Doutor Oliveira Martins que julgo não ser o mais provável porque não é para Presidente, lembrei-me de alguns outros nomes que lhe submeto para uma apreciação prévia e para estabelecermos uma hierarquização para que eu possa então seguir a lista por essa ordem.

Os nomes que me ocorrem dentro do critério que foi definido são:

Vera Jardim - advogado com nome na Praça, Deputado pelo PS e ex-Ministro da Justiça; muito próximo do actual PR (e também amigo do Neto Valente dado que este foi há anos colega do escritório Jardim, Sampaio e Caldas);

João Cravinho - nome bem conhecido, Deputado do PS e ex-Super Ministro do Equip Social, etc, conheço-o bem, já fez o favor de dar alguma colaboração ao Banco Efisa a título gracioso porque quando saiu do governo achou que não devia logo trabalhar para o banco que era prestador de serviços ao Ministerio que comandou. Entretanto, como isso já foi há algum tempo, pode ser que já possa aceitar. (Disse-me na altura que tinha aceite um lugar no Conselho Consultivo do Banco do Rendeiro).

Prof. Augusto Mateus - PS muito bem inserido na máquina do Partido ; ex-Ministro da Economia; meu antigo aluno e com quem tenho excelente relação.

Dr. Fernando Castro que foi Ch de Gabinete e ao que se diz o Mentor do então Ministro Pina Moura, muito bem inserido dentro dos meios políticos onde se move com muita discrição mas com grande eficácia. Dou-me bem com ele; veio há dias almoçar comigo ao banco; está de momento ligado à General des Eaux em Portugal.

Alberto Costa - Deputado pelo PS, advogado e muito ligado ao António Vitorino com quem também me dou bem. Foi Ministro da Administração Interna e é também uma pessoa discreta.
Também o Mário Cristina de Sousa poderia ser um bom nome mas está neste momento ligado à CGD e daí que, mesmo sendo um bom amigo, não possa. Mas fica aqui como uma mera sugestão mas que não me parece viável.

Podemos falar sobre este assunto quando entender conveniente.

AV

terça-feira, 2 de junho de 2009

PIOLHO


Estou no "Piolho" e escrevo
uma vez mais
peço uma cervejola ao empregado
e lembro-me do Jaime Lousa
isto hoje só com cerveja é que vai
não estou como no Sábado
mas estou contente comigo mesmo
a cada gota de cerveja a palavra flui
olha! Aliás, o Estado deveria fornecer-me
cerveja gratuitamente, deveria pagar-me em cerveja
para eu escrever mais
o Fred foi renovar o passe
e eu aqui a olhar para o imbecil do Jorge Gabriel
vá lá que a televisão está sem som
aqui no "Piolho" é assim
faz 100 anos
e eu há cerca de 20 que venho cá
tertúlias, copos, reuniões políticas e literárias
namoros até
e cafés, muitos cafés
gajas boas
porque raio terei de falar sempre nas gajas boas?
Porque raio é que as gajas boas aparecem sempre?
Ainda hoje estive com uma
não, ela não ia gostar que a tratasse assim
pronto, estive com uma velha amiga
a conversar
nada mais
estivemos a conversar e eu nem sequer
lhe falei na Boa Nova que quero transmitir
às mulheres
às mulheres, especialmente às mulheres
talvez elas me ouçam
talvez ouçam este pobre rapaz
em conflito com o mundo
este rapaz que nos últimos dias
tem ouvido os Joy Division
e não deixa de ter uma certa tristeza
uma melancolia insolúvel
e que vai bebendo à medida que escreve
pensa que tem o mundo na mão
mas não tem
o mundo escapa-se-lhe
o mundo esgota-se
como a cerveja
Porra! Nunca mais fico bêbado!
Bebo e nunca mais fico bêbado!
Quero ficar bêbado como o Joaquim Castro Caldas!
Quero ficar bêbado como o Jim Morrison!
Mas não consigo
o dinheiro não chega para isso
vá lá que há amigas e amigos
que me vão emprestando uns trocos
e eu queria mesmo ficar bêbado!
Cantar na rua
dizer disparates
os gajos dos bares deveriam fornecer-me
gratuitamente álcool para eu produzir
e ficar bêbado
já há quem o faça
mas é só uma pequena percentagem
uma pequena minoria
já o disse! Não nasci para trabalhar!
O meu trabalho é este
e beber também faz parte do meu trabalho
é isto que não entendeis, ó teóricos!
É isto que não entendeis, ó poetas da corte!
Beber e escrever
beber, viver e escrever
e peço mais uma
o cacau ainda dá
e vou bebendo
o empregado já compreende a minha linguagem
até me dá cartões!
e agora até dizem que sou o poeta das gajas
Gajas? Até parece que sou um Casanova!
Enfim, quem tem fama quer proveito
mas esta é a história da minha vida
beber por beber
já bebi mais do que agora
quando trabalhava gastava 80% do salário em àlcool
o resto em livros
e lá ia levando a vida
não me tenho que me andar a orgulhar dessa merda
o que é facto é que a cerveja se vai esgotando
e chega o Fred
e a escrita esgota-se.

domingo, 31 de maio de 2009

ABSOLUTAMENTE LIVRE


Não me venhas falar do trabalho!
A vida foi-me dada gratuitamente
a vida é de graça- já o disse
e repito-o mil vezes
a vida é de graça
não me venhas com a conversa do sistema
o meu trabalho é este:
escrever e dizer o que escrevo publicamente
até pode ser que me perca
que me deixe levar pelo entusiasmo
quando as palmas são muitas
e as pessoas vêm falar comigo no fim
o trabalho é apenas um meio de ganhar dinheiro
de assegurar a sobrevivência
eu não vim ao mundo para sobreviver
sabes, as coisas que eu escrevo
não são apenas para ficar no papel
o trabalho é sacrifício
o trabalho é inimigo da vida
a vida não é sacrifício
a vida não pode ser sacrifício
"o trabalho encontra-se em toda a parte
onde as pessoas nada fazem da sua própria vida"
(Raoul Vaneigem)
eu faço, tenho feito alguma coisa da minha vida
eu tenho orgulho naquilo que faço, ouviste?
Eu estou a contribuir para mudar a vida
as coisas que eu digo, as coisas que eu escrevo
não são mera retórica
não são palavras em vão, espero eu
eu vim ao mundo para criar e destruir
não vim para vegetar
nem para falar dos vizinhos
nem da vidinha
nem do trabalho
nem do caralho que seja
eu vim para a vida
e isso nada tem a ver
com horários, regras ou disciplina
faço o que quero
vou fazendo o que quero
confesso que gostaria de ter mais uns trocos
no bolso
para beber e estoirar
para ficar noite fora
talvez esteja a entrar em contradição
mas sei que o melhor da vida é de graça
o divertimento
o amor
a amizade
a fraternidade
não têm preço
porque raio há-de tudo ter um preço?
DIz-se que Jesus Cristo e Sócrates não usavam dinheiro
eu quero ser como eles
quanto vale este poema?
Será que este poema tem um preço?
Provavelmente um dia será publicado em livro
e aí terá um preço
mas isso parece-me secundário
o poema tem um valor de uso
tem uma missão
mesmo que eu morra esta noite
alguém pegará neste caderno
e divulgará o que nele está escrito
a criação não tem preço
e é do lado da criação que eu me situo
porque raio me hei-de sujeitar aos horários
e sacrifícios de trabalhos que pouco ou nada me dizem?
Estou bem assim
estou bem assim a criar
sinto-me livre
ah!Ah! Sinto-me absolutamente livre
às cinco da tarde na confeitaria
a conversa das velhas não me perturba
a multidão de Serralves não me atrai
nem sequer me apetece ver muita gente~
talvez um dia tenha de enfrentar essa gente toda
num palco qualquer
mas esse dia não é hoje
hoje crio, hoje escrevo
isso basta-me
sou absolutamente livre
há uns tempos que não me sentia assim
há realmente livros que nos abrem a cabeça
ah, grande Vaneigem! Profeta situacionista!
A "Economia Parasitária" deu-me a volta à cabeça
é realmente nas mulheres que está o mundo novo
é certo que as mulheres dizem muitos disparates
é certo que as mulheres, de uma maneira geral,
ligam muito aos bens materiais e à subsistência
é certo que as mulheres são, muitas vezes, inacessíveis
mas também é certo que ligam menos ao poder e à glória
talvez elas me compreendam melhor
desde que não se deixem controlar pelo trabalho
desde que não se deixem contaminar pelo dinheiro
as mulheres criam a vida
e eu crio esta merda
não preciso de horários
para criar esta merda
não preciso de regras
para criar esta merda
não preciso de trabalhos
sou absolutamente livre
e isso basta-me
para me sentir absolutamente livre
nem sequer preciso de sair da confeitaria
para me sentir absolutamente livre
até aguento a conversa das velhas
para me sentir absolutamente livre
não preciso dos milhões do Belmiro
nem dos paraísos fiscais
nem dos chulos da bolsa
nem do cabrão cinzentão do primeiro-ministro
para me sentir absolutamente livre
nem sequer preciso das mamas das gajas
nem do "Jornal de Notícias"
nem do Pinto da Costa
para me sentir absolutamente livre
basta-me a paz
a viagem interior
o espírito livre

e estou bem assim
e nada me tira daqui
e vou continuar assim
mesmo que isso não te agrade
mesmo que isso te faça confusão
é a vida que me empurra
é a vida que me quer
venha quem vier
doa a quem doer.


Vilar do Pinheiro, "Motina", 30.5.2009

A GLÓRIA É UMA GAJA FODIDA


A Glória é uma gaja fodida
não se dá a qualquer um
nem a todo o momento
mas, neste momento, estou a tocá-la
mesmo sem sair de casa
mesmo a ouvir os concursos imbecis
da televisão
"Duelo Final", "Um Contra Todos",
é o apelo ao espírito predador dos concorrentes
comem-se uns aos outros
como se vão comendo na vida
e não estou a falar de sexo
já percebi que o sexo vende
sempre que se fala de sexo a coisa resulta
bem, mas estava eu a falar da Glória
ela hoje veio ter comigo
demos uma bela queca
de tal maneira que não páro de escrever
estou trôpego de tanto escrever
direi mesmo: estou embriagado
sem ter tocado numa gota de àlcool
e o concurso imbecil prossegue
agora falam dos jovens de sucesso
jovem de sucesso é que eu não sou
apesar de estar amantizado com a Glória
este mundo capitalista é que, de facto,
não me diz nada
e sabes que mais:
a Glória é uma gaja fodida.


Vilar do Pinheiro, 30 de Maio de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

EM COMUNHÃO

Sabes, eu sou daqueles gajos que é capaz do melhor e do pior
hoje basta-me dar uma volta pelo quintal
e as ideias vêm logo ter comigo
mas também há dias em que não sou capaz de criar
ou em que repito obsessivamente a mesma coisa
em que chego ao palco
e não consigo transmitir algo de novo
perco-me- como já disse alguém
não sou um gajo de regularidades
de picar o ponto todos os dias
de ter sempre a piadinha a propósito
há dias em que estou taciturno
e sou incapaz de passar a mensagem
hoje não, hoje fui dar de comer aos gatos
e até me esqueço do meu próprio jantar
hoje até seria capaz de dar
uma conferência de duas horas
sem chatear ninguém
escrevo como se estivesse a falar com alguém
e a linguagem é directa, simples
sem hermetismos
não gosto daqueles escritores e filósofos
complicados a escrever
não suporto rendilhados
a minha linguagem é directa
talvez por isso os empregados de mesa
apreciem os meus livros
e até os comprem
há dias, noites em que tudo me corre bem
em que as pessoas me aplaudem entusiasticamente
em que se riem dos meus textos
e vêm ter comigo
há dias em que estou em harmonia com o mundo
há outros em que a comunicação se torna difícil

a noite cai no quintal
uma folha cai
e eu continuo agarrado às folhas do caderno
as folhas do caderno são a vida
a vida a que me agarro
para combater o tédio
vou comer
estou em comunhão com o universo.

Vilar do Pinheiro, 30.5.2009

NO QUINTAL


Sabes, é nestes dias em que parece que não conseguimos
parar de escrever
que somos mais autênticos
até parece que estamos a dizer "a verdade"
de tal forma nos sentimos em comunhão
até com os animais cá de casa
sobre os quais raramente escrevo
o que é estranho
tenho um quintal cheio de gatos, cães e pássaros
e quase nunca escrevo sobre eles
e olha! Os animais não precisam de dinheiro
para sobreviver
precisam de comer e de beber
e bastam-se a eles próprios
para quê complicar a coisa com notas e moedas
e sacrifício e trabalho
se podemos ser livres como os animais?
Sabes, estou a escrever no quintal
e vou escrever até ser noite
em comunhão com os animais
hoje nem sequer vou olhar para o Telejornal
não quero saber da campanha eleitoral
nem dos políticos a insultarem-se
uns aos outros
a darem o cu pelo voto
vou votar no MRPP
mas é por saber que os gajos
não têm hipótese nenhuma
porque o marxismo primário
e os hinos à classe operária
já não me convencem
mas enfim,
talvez fizesse melhor se me abstivesse
sempre engrossaria a abstenção
e ficaria a rir nas barbas do Durão
mas vou votar no MRPP
até já foi o partido dele
faço um percurso completamente inverso
ao Durão Barroso
ele: do MRPP para a alta burguesia
eu: da aristocracia para o MRPP
tudo vai dar ao MRPP, afinal
o MRPP é o partido mais poético e filosófico
por isso voto nele
há que ser incisivo, querida,
no fundo também estou a fazer campanha
a minha campanha
a campanha que não passa nos telejornais
a campanha que vai aos tascos e aos bares
estava eu a falar dos animais
e onde já vou
estou a produzir, querida,
não produzo computadores nem automóveis
mas produzo versos
já estou como o Álvaro de Campos na "Tabacaria"
porque raio é que os versos
hão-de valer menos que os computadores
e os automóveis?
Produzo
e para tal só preciso de papel e de caneta
de resto, estou muito bem aqui
no quintal com os animais, as flores e as àrvores
não preciso de bancos nem de multinacionais
é claro que tenho de prestar homenagem
aos produtores de papel e de canetas
àqueles que produziram os meus instrumentos de trabalho
de trabalho, sim, minha querida
de trabalho livre, não alienado
criador
e tocam os sinos da igreja
até os sinos da igreja estão em sintonia comigo
os sinos da igreja abençoam o meu trabalho
os sinos da igreja abençoam o papel e a caneta
palavra de honra
há muito tempo que não me sentia assim
em harmonia com a natureza
pouso a caneta
as coisas rolam como nunca
até voltei a escrever em casa.


Vilar do Pinheiro, 30.5.2009

O SUBLIME


As coisas que escrevo não são só para ficar no papel
eu acredito nas coisas que escrevo
as coisas que escrevo fazem-me crescer
fazem-me ficar para além
deste aquém medíocre
desta existência de macacos e macacas
que trepam uns para cima dos outros
deste mundo do trabalho e do desemprego
é preciso que a vida mude
que volte a ser ela própria
como no início
acredito nas coisas que escrevo
acredito em mim
acredito nas coisas em que acredito
não tenho que me dar com toda a gente
não vim para agradar a toda a gente
já o disse e repito-o
não tenho de me andar sempre a justificar
sou eu que estou certo
não é o mundo
tenho a certeza
já tenho tido provas de apreço
apesar de os meus livros venderem pouco
com excepção de um
não escondo
que quero a glória
mas quero a glória
para a espalhar pelo mundo
há sempre um "hit"
eu sei
com as bandas também é assim
não podemos viver eternamente à sombra dele
embora ele se aplique perfeitamente
à conjuntura presente
"Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro"
não é o melhor livro
o melhor é o último
"Queimai o Dinheiro"
o mais completo
o mais honesto
o mais sincero
acho eu
já disse: acredito naquilo que escrevo
e escrevo, cada vez mais,
com o meu próprio sangue
como defendia Nietzsche
e estou próximo do mestre
se bem que Nietzsche não quisesse ser mestre de ninguém
nem conduzir nem ser conduzido
eis a máxima
e eu preciso de falar com as mulheres
com as mulheres que interessam
com as mulheres que me possam compreender
o presente é das mulheres
tenho de me identificar com elas
falar com elas no café, na rua,
em todo o lado
e assim ficarei bem
e assim me sentirei em comunhão comigo mesmo
e com as mulheres
e com o mundo
não este
mas com o mundo que quero
que sei que está aqui
dentro de mim
e, se calhar, dentro de mais gente
do que possa imaginar
e o rock rola na rádio
e eu vou ao ritmo do rock
estou sempre ao ritmo do rock
dos Doors, dos Zeppelin, dos UHF
eu próprio faço umas performances
disponíveis no Youtube
e entra uma gaja boa
há-de haver sempre uma gaja boa
esta vem ao pão
deveria ter sempre esta lata
quando as gajas boas estão junto de mim
assim a mensagem propaga-se
as gajas boas são o exército do poeta
é a elas que compete prosseguir viagem
só vi uma hoje
ontem, no Porto, fartei-me de ver gajas boas
quase me apaixonei por uma
esteve muito tempo sentada na mesa do lado
enquanto eu falava com os amigos
senti mesmo aquela coisa
aquela coisa indefinível
a gaja nunca mais acabava de beber o fino
não era só olhar para as mamas
que saíam da t-shirt
era algo mais, muito mais
a comunhão
a identificação
talvez mesmo o amor
mas ela depois desapareceu
quem sabe para sempre
talvez nunca mais a veja
mas houve qualquer coisa que ficou
- bem sei que a minha namorada não pode
ler isto, mas que querem?
É assim o homem livre
é assim o criador
não pode ter preconceitos-
qualquer coisa de sublime
- o próprio sublime
de que falava com o Sindulfo-
qualquer coisa que fica para sempre

Sabes, as coisas que escrevo
não são apenas literárias, são filosóficas
proféticas até
há coisas que eu escrevo
que são mesmo para ficar
cada vez me convenço mais disso
não são meros escritos
são uma forma de vida
e há dias como hoje
em que nada de relevante se passa lá fora
em que estou há horas, literalmente há horas,
a escrever na confeitaria
em que as palavras saem perfeitamente naturais,
perfeitamente espontâneas
em que são criação pura
de tal forma que me sinto, isso mesmo,
um criador
mesmo que só tenha dinheiro para o café
e é isto que te queria dizer
há forças irresistíveis dentro de nós
forças que quando se libertam
nos aproximam disso mesmo,
da felicidade
mesmo que sejamos o único cliente
da confeitaria prestes a fechar
mesmo que o resto do dia
não prometa gajas nem grande coisa
mesmo que ainda, ao princípio da tarde,
estivessemos consumidos pela angústia
mesmo que as empregadas da confeitaria
não compreendam a nossa missão na Terra
é isso mesmo, o sublime
estou a tocá-lo neste momento
estou a vivê-lo
queria compartilhá-lo contigo
não sei se sou capaz
a verdade é que este rapaz
alcançou a coisa
ou anda lá perto.

Vilar do pinheiro, 30.5.2009

AI O CAVACO, E OS GAJOS CORREM A DEFENDÊ-LO

Compra e venda de acções da SLN, ex-dona do BPN, entre 2001 e 2003
PCP, BE e PP vieram hoje defender Cavaco Silva
30.05.2009 - 19h41
Por Lusa
Pedro Cunha

Cavaco Silva registou uma mais valia de 147.500 euros
Os líderes do PCP, Jerónimo Sousa, e do CDS/PP, Paulo Portas, e o cabeça de lista do Bloco de Esquerda às europeias, Miguel Portas, já vieram defender o Presidente da República, Cavaco Silva, considerando “legitima” a operação de aquisição e de venda das acções da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), ex-proprietária do BPN. Hoje, o semanário "Expresso" noticia que o Presidente da República comprou e vendeu acções da SLN entre 2001 e 2003, tendo registado uma mais valia de 147.500 euros.

Trata-se de “uma questão do foro privado” de Cavaco Silva, afirmou Jerónimo de Sousa durante uma iniciativa da CDU que está a decorrer em Braga. Para o líder comunista “não há ali qualquer dose de ilegalidade ou de comprometimento no plano da corrupção”, salientando que “há que ter sentido da medida”, pois “foi um negócio privado”.

Do mesmo modo o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, classificou como “um facto normal” que o Presidente da República tenha tido acções da SLN, negócio que não se confundo com “o crime e a fraude” registada no BPN. “O facto de uma pessoa ter acções, comprar, vender, fazer uma mais-valia e declarar no seu imposto, que é o que sucedeu, é um facto normal”, declarou Paulo Portas, salientando que a operação não constitui um “delito”.

Por seu turno o candidato do BE às eleições europeias, Miguel Portas, no final de uma iniciativa de campanha, na Marateca, salientou que ter sido accionista do BPN não é “pecado” e que Cavaco Silva já vendeu as suas acções em 2003, pelo que a “história já é antiga” e não existe qualquer novidade. "É sabido que no BPN, muitas pessoas dos círculos do PSD e na altura do cavaquismo, quando o cavaquismo era Governo, se interessaram por esse banco, mas, também até prova em contrário ainda não é pecado ter sido accionista do BPN, coisa que actualmente o Presidente da República não é”, referiu Miguel Portas instado a comentar a notícia de primeira página do "Expresso".