sexta-feira, 7 de outubro de 2016

CERVEJA

cerveja
uma após outra
é só levar o copo
à boca
às vezes treme-se
mas agora está-se melhor
também para levar
essa vida de escravos...
deixa-me rir
há dias em que bate mais
depressa
bastam quatro ou cinco
outros em que é preciso
ir até às doze
cerveja
estou como Bukowski
esta gente não evolui
sempre na rotina
eu acordei aos 17,18
com Morrison
com os UHF
hoje iria de copo em copo
noite fora
desculpa lá, ó Rocha,
agarra-te à lituana
são todos tão lentos
e eu rebento
estoiro
vou à velocidade da luz
patetas,
não vos entusiasmais
não celebrais a vida
é só publicidade
e treta
falta o grande xamã
a hybris
a velha liberdade
quando falais
eu já estou no infinito
não vivo aqui
só a minha loucura
é real.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O PINGUIM E OS INFINITOS

O público do Pinguim não é aquele que agarro mais. Há uns entusiastas, claro. Mas noto alguma frieza. De qualquer forma, eu vou representar, não vou ler poesia. Contudo, o Pinguim, pela sua história, por alguns grandes actores como o Joaquim Castro Caldas ou como o Rui Spranger, é um local de referência. Nós é que nos tornámos exigentes, talvez demasiado. E depois há o livro. Temos motivos para festejar. Ontem recebemos o dinheiro da Feira do Livro e fartámo-nos de beber. Hoje não será assim. Há que produzir. Há que escrever. Há que prosseguir a obra. Alegria. Euforia. Zaratustra berra e salta. E eu invento o Natal sobre a Terra. Explosões no meu cérebro. É minha a festa permanente. Como sou diferente de vós, ó normais. Como voo. Não, não sou desses poetas menores que por aí andam. Tenho asas, tenho a minha loucura. Percorro infinitos. 
Não, não me satisfaço com o banal, com o útil, com a economia. Sou dos céus, das estrelas. Já toquei Jesus, Zeus, Dionisos. Agora sou dos anjos. Brilho. Canto. Como explicar-vos? Não sou bem daqui. Venho de reis malditos. Não que não dê amor...eu sou fogo. Mulheres, por que me temeis?

domingo, 2 de outubro de 2016

O CONTROLE

Toda esta rede mundial de smartphones, de computadores, que contêm todos os nossos dados pessoais, é controlada pelo governo dos Estados Unidos, como denunciou o valoroso Eduard Snowden. São as nossas liberdades fundamentais que são postas em causa. São as nossas vidas que eles jogam. Além de mercadorias, somos autómatos nas mãos do império norte-americano. Temos de tomar consciência de que estamos a ser manietados. Temos de tomar consciência de que os nossos telemóveis e computadores não são inofensivos. Revoltêmo-nos contra a mercantilização e o controlo das nossas vidas. Reclamemos a Vida.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

NUNCA TRABALHEM!

"Nunca trabalhem" e "trabalhadores de todo o mundo, diverti-vos!", são máximas do Maio de 68 e do movimento surrealista que põem em causa toda a lógica do funcionamento da sociedade mercantil. Ou então "trabalha-se melhor dormindo, formai comités de sonho". Deste modo se goza com a lei do cálculo e da eficácia: "Aspiro a ser eu, a caminhar sem entraves, a afirmar-me só na minha liberdade". Apela-se à abolição do dinheiro. Toda uma lógica cruel, ridícula e imbecil é desmontada com palavras de ordem e apelos à acção."Nunca trabalhem" e "trabalhadores de todo o mundo, diverti-vos!", são máximas do Maio de 68 e do movimento surrealista que põem em causa toda a lógica do funcionamento da sociedade mercantil. Ou então "trabalha-se melhor dormindo, formai comités de sonho". Deste modo se goza com a lei do cálculo e da eficácia: "Aspiro a ser eu, a caminhar sem entraves, a afirmar-me só na minha liberdade". Apela-se à abolição do dinheiro. Toda uma lógica cruel, ridícula e imbecil é desmontada com palavras de ordem e apelos à acção.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

COMPETIÇÃO E SABEDORIA

O homem sábio é aquele que não se deixa governar nem quer governar os outros. Platão acrescenta que "a única moeda verdadeiramente boa e pela qual convém trocar todas as restantes, é a sabedoria". Ensinar o homem, ensinar todos os homens, eis o máximo desígnio. Émile Zola vê cada escritor "como um criador que tenta, depois de Deus, a criação de uma terra nova". Contudo, eu ouço esta gente referir-se às entradas na faculdade e só ouço falar em médias. Poucos se preocupam com a verdadeira sabedoria. Com a busca do conhecimento. Aliás, vejo pouca gente a puxar realmente pela cabeça. É só o útil. O sentido prático. A competição.

domingo, 25 de setembro de 2016

POESIA DE CHOQUE

Hoje regresso à Poesia de Choque. Presentemente encontro-me a beber cerveja e a ler "Música para Água Ardente" de Charles Bukowski em pleno Candelabro. Uma mulher escreve à minha frente. Atende o telemóvel. Vai embora. O Candelabro está quase às moscas. Em frente, uma farmácia. Entra uma miúda estrangeira. Prova vinho tinto. A velhota espreita à porta. Acabou o Verão, como dizia o meu pai. No Facebook há alguns gajos que me irritam. E bebo. Sobretudo bebo. O álcool alimenta-me, dá-me forças. Aqui no Candelabro sempre me dão umas cervejas de borla. Malta porreira. Mesmo que não se passe nada de relevante. Bom, agora começam a aparecer umas miúdas jeitosas. Umas miúdas que me fazem escrever. O poeta do anarquismo, da boémia e das mulheres. O poeta em silêncio. O poeta doido. O poeta há tantos anos por aqui. No entanto, as pessoas parecem mais distantes. Não se aproximam. Não entram em contacto. Fecham-se em grupos ou isolam-se. Não há comunicação. Há uns anos não era assim. Havia mais espontaneidade. Agora tudo parece mais frio. Os contactos são fugazes. Há muito pouca fraternidade. Há medo até, não sei. Esquizofrenia. As pessoas têm medo umas das outras. Não arriscam. Não se insinuam. Há demasiado artificialismo. Demasiado produtivismo. Dionisos é afastado. A vida está podre. Não morde.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

BEBE, POETA, BEBE

Afinal, posso beber mais ou menos à-vontade. A psicóloga bem diz que o cérebro é afectado mas eu não acredito. Bukowski e Henry Miller continuaram geniais. De qualquer forma, já tremo pouco. Foi só um susto, ó poeta. Afinal de contas, o que é que isto nos dá? Dá-nos o direito a admirar umas mulheres belas, dá-nos o direito a filosofar e a apanhar tédio. Nada mais. A revolução parece distante. Com quantos contamos para fazê-la? Bebe, Pedro, bebe. Ao menos mantens-te em cima, ao menos segues a sabedoria selvagem. O que levam daqui os sóbrios? Tédio e rotina. Até Platão escreveu "O Banquete". Bebe, poeta, bebe. Mica as gajas belas. De qualquer forma, o teu lugar é à mesa como o de Mário de Sá-Carneiro, como o de Fernando Pessoa. Curte a vida, ó poeta. Curte as mulheres. Diz-lhes coisas elevadas e coisas estúpidas. Já andaste por tantos lados. Já foste este e aquele. Precisas de uma mulher com garra. De uma mulher que balance as ancas.

domingo, 18 de setembro de 2016

PRIMAS-DONAS

Agora que até tenho algum cacau nos bolsos as gajas deveriam vir ter comigo. Para falar. Não peço mais. Claro que eu também sou exigente. Quero primas-donas, quero gajas belas e atraentes. Mas, por outro lado, quero mulheres que me compreendam. Eu preciso que me compreendam. Que entendam as minhas ideias, os meus ideais. Porque eu não tenho uma conversa banal. Nem sei como as gajas belas não se aproximam mais. É a tal história: querem segurança, querem garantir a descendência. Eu não sou desses. Eu sou do álcool, da noite, da poesia. Eu como Morrison, Baudelaire e Rimbaud. Não sirvo para pai de família.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A PREGAR AOS PEIXINHOS

Merda. Estou a cair. Limito-me a olhar para as gajas. Os livros, hoje, não me entusiasmam muito. Não tenho com quem falar. Não me interessa falar com qualquer um. Também é a falta do álcool. Merda de sistema que castra, que controla. Mesmo resistindo, ele mói o cérebro. Não sou a estrela do rock n' roll. Seca. Tédio. A TV mata. A net também. E esta gente, sempre igual, sem reagir. A entreter-se com merda, com a vidinha, a fazer contas. Porra. Aborreço-me de morte. Valha-me a cerveja. Há gente que parece que se aguenta. Nem sei como. Lá se agarra à família, à casa, ao frigorífico. Eu só suporto esta merda quando algo me eleva. De resto, vejo as gajas boas irem parar a outros, inacessíveis. De resto, vejo uns a foderem-se aos outros. De resto, vejo tudo atrás do dinheiro e do sucesso. Não vejo grande espécie. Não vejo Deus, pelo menos o deus bom. Jesus, se viesse, seria internado. E eu ando a pregar aos peixinhos.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A FORÇA DO ROCK

A vida rola com a força do rock. Quero uma mulher. Não sou quadrado. Tenho a força do rock. Não tenho esse paleio normal, melado. Danço ao som da guitarra. Não do tem que ser, do cálculo. Eu sou da hybris, do poeta maldito. Odeio burgueses e engravatados. A mente cavalga. O livro está a caminho. Amanhã estarei na Feira do Livro. Não pertenço ao rebanho. Estoiro. Rebento. Subo à montanha com Zaratustra, com o profeta, com o mago.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

MULHERES

As mulheres gostam de me ver sobressair, de me ver em palco, de recitar, de gritar, de cantar até. Na vida normal passarei muitas vezes despercebido mas no palco já não sou eu, como dizia Léo Ferré. No fundo, no palco sou a estrela. Elas vêm ter comigo, dialogam, abraçam-me, apesar da minha barriga. Quanto mais envelheço mais me pareço com o meu pai. As barbas vão ficando cada vez mais brancas. No entanto, como me dizem, sou jovial. Não me visto como um burguês. Não me converto à máquina. Sim, sou um sucessor de Jim Morrison, de Charles Bukowski e de Henry Miller.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

INTEIRO

O meu pequeno paraíso
os patos os gansos
os cães ladram ao longe
pouso os óculos
agora nem sequer preciso
deles para ler
nem para escrever
as tremuras estão melhor
graças ao novo medicamento
e aos cortes no álcool
ainda me tereis aqui inteiro
por mais uns tempos.

sábado, 3 de setembro de 2016

MÓNICA

Vi a Mónica. Tão linda. Disse que eu era o melhor poeta que conhecia. Pena que ficasse tão pouco tempo. Tão querida. Enamorei-me dela. No meio dos broncos da bola. E dos outros imbecis. Que país! Valha-nos a beleza da Mónica, da Goreti e da Fernanda. I love women/ I think they are great/ they're a blessing to the eyes/ a balm to the soul/ what a nightmare if there were no women in this world- cantava o velho Lou Reed. Nem sei como as mulheres bonitas podem gostar destes grunhos, das vedetas cor-de-rosa, dos futebolistas. Deus meu. Os gajos não têm nada na cabeça. Têm a inteligência nos pés ou na ponta da pila. Que bando de macacos, de primatas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A EDUCAÇÃO ALTERNATIVA

O filósofo anarquista inglês William Godwin defende que a sociedade que nós reclamamos exige "um estado de grande aperfeiçoamento espiritual" e só será possível mediante um grande desenvolvimento do intelecto. A única riqueza é a riqueza intelectual, a da cultura, a da mente. E, uma vez liberto da propriedade, "resta apenas o homem livre, o homem em si mesmo", como diz o poeta Shelley. Com efeito, não será com robots, com multidões domesticadas que ergueremos a sociedade socialista. Grande parte dos homens, aliás, está irremediavelmente perdida. Quanto aos outros, temos de ser capazes de construir uma educação alternativa, uma cultura alternativa. Uma educação que se oponha à desinformação e à lavagem ao cérebro. Uma educação, uma cultura, uma informação que actue junto das crianças, dos jovens, dos adultos, que os agite, que os provoque, que os motive, que os faça pôr em causa todos os dogmas e as regras do instituído. Sim, precisamos enriquecer-nos. Sim, precisamos evoluir. Esta é a via.

MANIFESTO ANTI-CANEÇAS

Por A. Pedro Ribeiro e Maria Goreti Pereira
O Caneças escreve para a "Caras"
O Caneças agora dá-se com a Lili
O Caneças escreve cartas ao Cavaco
O Caneças faz chichi
O Caneças é um sapo
O Caneças é um chato
O Caneças está em cacos
O Caneças grama o Lopes
O Caneças desprezou Eurídice
O Caneças diz-se de intervenção
mas faz parte da situação
O Caneças é um aldrabão
O Caneças vai a Plutão
O Caneças não lê Platão
O Caneças quer o novo "Orpheu"
O Caneças furou um pneu
O Caneças mete veneno
O Caneças é um estafermo
O Caneças é megalómano
O Caneças tem paleio
O Caneças é um prolegómeno
O Caneças, agora, é vedeta
O Caneças tem cheta
O Caneças é uma treta
que nem escrever sabe
O Caneças sobe
O Caneças pode
O Caneças é um batráquio
O Caneças é supersónico
O Caneças é o que faço dele
O Caneças é um vendedor
O Caneças é uma pasta de dentes
O Caneças é um estupor
O Caneças é um detergente
Alô, Canetas! Daqui Lápis,
diz o Alberto
O Caneças é machista
não leninista
pois é, Caneças,
é a "Caras"
o socialismo
ficou na gaveta
fica tu na retrete
o Caneças é um frete
o Caneças é um traque
o Caneças usa fraque
o Caneças vai à lua
o Caneças está com tusa
o Caneças é um croquete
o Caneças é uma chiclete
não penses que me humilhas
caneta uso eu
o Caneças queria o "Orpheu"
o Caneças é um pigmeu
o Caneças é sideral
viva o Caneças imperial!
Viva o Pato Donald
e o Lopes editorial!
Dança, Caneças
nesse cagaçal
dança, Caneças,
para o mundial!