segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
CORRIDA E CONCORRÊNCIA
Em vez de nos orientar para a curiosidade, para o conhecimento, a escola orienta-nos para o sentido do negócio, para o lamber das botas, para o ganhar dinheiro. O que importa é pensar na vidinha. Daí que, segundo Max Stirner, para a maioria, todo o seu esforço resulte numa vida amarga e num trabalho sério e amargo: “a permanente corrida e concorrência não nos deixa respirar, não nos deixa gozar em paz o que temos: o que possuímos não nos torna felizes”. Com efeito, o capitalismo rouba-nos o tempo e a vida. Muitos de nós executam trabalhos estúpidos, repetitivos e muito mal remunerados e são alienados pelos programas imbecis da TV. Outros não são capazes de ler um bom livro, de ter uma conversa elevada, tal o grau de estupidificação a que a sociedade chegou. Colocam-nos numa corrida pelo emprego, pelo cargo, pela carreira, colocam-nos numa guerra de todos contra todos que nos vai destruindo e vai destruindo a amizade e o amor. Sim, é isso que esses fascistas que estão no governo e nos altos cargos financeiros querem: que nos destruamos enquanto eles reinam com os seus milhões. Temos de tomar consciência. Temos de derrubá-los. Temos de parar a lavagem ao cérebro. Temos de intervir na escola e nos media. Temos de furar o sistema.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
CULTURA E IGNORÂNCIA
Para muitos é difícil saber o que é o prazer de ter um espírito culto. Limitam-se ao divertimento rude. Uns não podem, outros pura e simplesmente não querem. Bem sabemos que há trabalhos duros, que há horários longos, mas em vez de embrutecer em frente à TV bem poderiam ter curiosidade pelo conhecimento, pela cultura. O homem não pode viver na ignorância, tem de estar atento ao mundo senão deixa-se ultrapassar. Atravessamos uma grande crise. O homem está em crise. Há guerras, exploração, alienação, epidemias, tragédias naturais. É preciso debater o homem. O homem tem capacidades mentais prodigiosas. Não pode desperdiçá-las. Por isso deve procurar o ensinamento dos mestres, deve debater com elevação com os outros homens. Há quem se contente com futebol e trabalho. Gente limitada. Não falo com essa gente. Segui o meu percurso. Vivi o "boom" do rock português. Ouvi os Pink Floyd. Ouvi os Doors. Li Pessoa e Sá-Carneiro. Li Nietzsche. Vi o "Apocalypse Now". Li Marx e os anarquistas. Houve quem me indicasse o caminho: pais, tios, amigos, colegas do liceu e da faculdade, professores, camaradas de partido. Tive curiosidade. Não me satisfiz. Continuo a não perceber Hegel e Kant. Mas leio Marcuse, Sartre, Edgar Morin. Acredito na vida pela vida, no gozar a vida, não na vida aprisionada.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
DO ENSINO
O ensino está cada vez mais nas mãos de especialistas. Não só o ensino como também os media. Como diz Raoul Vaneigem, "a especialização é um exercício abstracto, separado da vida quotidiana e dos afectos desta. Nela a técnica leva a melhor sobre o vivente, mecaniza-o, robotiza-o, informatiza-o, mumifica-o". Ou seja, o estudo separa-se da vida. A filosofia, as artes, a literatura, as humanidades são relegadas para segundo plano porque podem pôr em causa a civilização mercantil e tecnológica. Pensar livremente, ler Platão, Marx, Nietzsche ou Marcuse constitui uma heresia. Se queremos ser livres, o ensino deve deixar de estar orientado para a competição, para o ganhar dinheiro e para a servidão face ao poder.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
LAVAGEM AO CÉREBRO
A TV, a esmagadora maioria dos programas da TV, conduz-nos a uma vida passiva e imbecil que não exercita o raciocínio como, por exemplo, a leitura. Além do mais, há uma tentativa, muitas vezes conseguida, de lavagem ao cérebro, com os noticiários, o futebol, as telenovelas, os comentadores, os programas de entretenimento. O telespectador é infantilizado e imbecilizado, perde capacidades mentais. Ensina-se a corrida ao dinheiro, a competição, o passar por cima do outro, o ganhar ou perder, o sacar a qualquer preço, o choro e o riso fáceis, a manipulação dos sentimentos. Nada há de nobre, de elevado. Os grandes valores, os grandes autores são postos de lado. Não se discute a condição humana, a literatura, a arte, a História, a filosofia, não se promove o diálogo elevado, o esclarecimento, o conhecimento mas antes a ignorância, a mercearia, o homem pequeno. Bando de castradores. Filhos da puta.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
RITA
Olho
para ti
E
escrevo
Ao
balcão
És
rainha
Trazes
cafés
Cervejas
Bandejas
Sabes,
sou o mais
Louco
dos poetas
Já
apareci bêbado
Caído
na estrada
Já
ocupei hipermercados
Já
derrubei estátuas
Sabes,
não sou
Como
os outros
Já
quando era miúdo
Pensava
muito
Era
o mais inteligente
O
melhor aluno
Agora
só tenho pena
De
não ter mais uns trocos
Para
ficar de bar em bar
De
cerveja em cerveja
De
qualquer maneira,
Tu
já quebras
A
monotonia do dia-a-dia
Lembras
a Paulinha
E
eu deixei de ser
Um
poeta lírico
Escrevo
o que penso
E
o que sinto
Raramente
emendo
Sou
um mau rapaz
O
último dos poetas de café
O
último dos beats
Bebo
cerveja
E
desejo-te
Não
tenho aquela vida
trabalho-casa
Sou
um homem livre
Um
poeta só
Com
Nietzsche à minha frente
E
o rock n’ roll
No
centro comercial
Sabes,
eu era o menino de ouro
O
menino da mamã
Depois
apanhei umas patadas
Tornei-me
agressivo
Tornei-me
maldito
Insulto
Deus e o Poder
Procuro
a mulher
Talvez
venha a ser reconhecido
Como
poeta maldito
E
animal de palco
De
certa forma já o sou
Mas
ainda não tenho
Os
dias preenchidos
O
Natal na Terra de Rimbaud
Sim,
vou aos bares
Bebo
uns copos
Converso
com este e aquela
Mas
depois há dias como este
Em
que venho até aqui
E
depois regresso a casa
Ao
computador
Não
há aquele brilho
Não
há a celebração
Estás
aqui tu, é certo
Mas
tens os teus clientes
Os
teus afazeres
Não,
não me sinto
Como
Morrison ou Rimbaud
Reino
a espaços
Falta
algo
O
banquete
O
estarmos unidos à mesa
A
comemorar
Nada
além disso
A
ceia
A
primeira ceia
Nada
de homens médios
Nada
de homens pequenos
Nada
de medos
O
homem pleno
Na
hybris
Na
desmesura
Na
aventura
O
homem-deus
Que
cria
Que
se afasta
Dos
carneiros
Que
voa
Como
a águia
O
homem livre
Que
vai ao infinito
E
volta
O
homem
No
café
Que
bebe
E
te aguarda.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
MESTRES
Estamos perdidos no
Universo, não sabemos porque estamos aqui, porque existe o mundo, afirma Edgar
Morin. Ainda assim bebemos, prosseguimos viagem. Por vezes caímos, muitos de
nós não aguentam. A vida torna-se absurda. Outras vezes vamos à televisão ou
somos falados nos jornais. Ainda nos podemos expressar. Dizem-nos que as nossas
capacidades mentais vão começar a falhar. Mas o mesmo não aconteceu com outros
que levaram a nossa vida: o Jaime Lousa, o Joaquim Castro Caldas, o Sebastião
Alba. Sim, precisamos de mais gente com quem trocar as nossas ideias. Não nos
basta o Facebook. Por vezes temos ideias brilhantes, modéstia à parte. Também
temos aprendido com os mestres. Gostava de ser um mestre, um filósofo, como
Edgar Morin, como Zizek. Gostava de ensinar os jovens e as crianças. Gostava de
lhes dizer que há outro caminho, que a vida não pode ser só dinheiro, trabalho,
sacrifício. Que a vida deve ser festa, amor, comunhão. Sim, estamos perdidos no
Universo mas podemos dar a mão. Podemos começar a dialogar repentinamente com
desconhecidos no café. Sim, somos filhos do Universo. Podemos brindar à vida.
Podemos renascer todos os dias se vencermos a máquina castradora. Podemos
ultrapassar a rotina dos dias iguais. Podemos procurar o amor, o prazer e a
sabedoria.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
A GRANDE FESTA
Ser um intelectual, um príncipe das ideias,
como Sócrates, como Nietzsche, como Edgar Morin, eis onde queria chegar. Bem
sei que ainda me falta investigar muito, ler muito, tentar compreender o homem
e o mundo. Vejo esta gente a receber- quando recebe- e a pagar, a dirigir-se à
sagrada caixa registadora, a levantar-se para trabalhar. Depois trabalha,
eventualmente diz umas piadas, normalmente não questiona o sentido disto, vem à
confeitaria, lê o jornal- os que não lêem só os jornais
desportivos- , regressa a casa e instala-se em frente à TV a consumir imagens.
Leva uma vida sem sentido. Uma vida onde a festa rareia, onde uns se atropelam
aos outros. Não, não estou cá para isso. Sim, em tempos vi as séries e os
filmes americanos estúpidos, vi o "Rambo", os bons contra os maus.
Mas depois conheci outras coisas, outros mundos. O dinheiro e o mercado são
ridículos. As notas escolares são ridículas. É necessário um novo ensino,
voltado para a descoberta, para o conhecimento pelo conhecimento. É necessário
dar umas curvas, beber uns copos, descer aos infernos do rock n' roll. Assim
nos elevaremos. Assim saíremos dos dias iguais. Conciliaremos o gozo com a
sabedoria. Desenvolveremos a mente e o espírito. Não teremos deuses, nem medos,
nem patrões. Assim enfrentaremos a barbárie dos dias mecânicos, sem vida. Assim
nos juntaremos no grande banquete, na grande festa.
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