sábado, 28 de janeiro de 2012
MÉDICO DE SI MESMO
O problema da tristeza e da alegria, da depressão e da euforia, o problema fundamental da vida. O que é necessário para se ser alegre? Alguns contentam-se com a família, com o dinheiro ao fim do mês, com umas conversas. Não creio que sejam felizes mas vão vivendo. O artista, o intelectual, não se pode contentar com o mesmo, aliás desespera com a rotina. O artista vive da curiosidade, da descoberta, quer dentro de si, quer no mundo. Quando consegue ultrapassar as horas da depressão, o artista vê surgir em si o fogo interior, o fogo da criação. É claro que o artista precisa de comer e de beber. Mas o artista não pode passar a vida a pensar na próxima refeição. Talvez o artista ultimamente tenha desprezado demasiado os seus semelhantes. Ele ainda vibra com as brincadeiras das crianças. Ele vibra com as descobertas do seu espírito. Com aquilo que a sua mão e a sua caneta acrescentam ao mundo. Com aquilo que, para lá da compra e venda, ele consegue pensar, reflectir, sem que esteja sempre obcecado pela mesma ideia. O artista hoje, através do acto da escrita, conseguiu afastar a tristeza. Nem sempre é assim. Não está eufórico mas vive, ultrapassa a economia. Consegue ser médico de si mesmo.
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