segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

DA VIDA

E veio o poema. Tenho, de facto, o direito de passar o dia a pensar e de passar alguma coisa do que penso para o papel. A Constituição não me obriga a procurar emprego nem a andar atrás do dinheiro. Aliás, acho essas actividades absolutamente mesquinhas e primárias. O que importa é a vida por si mesma. Não as patranhas que nos impõem. A partir da adolescência começam a impor-nos o mundo do trabalho e da norma. Castram-nos com a economia. O que vale é que comecei a interessar-me pela literatura e pela filosofia.
Desde a infância que sou do pensamento e da vida interior. Esse pensamento e essa vida interior têm-se refinado. Quando estou perfeitamente lúcido acho os pressupostos da "vida prática" absolutamente ridículos. Sempre em busca do safar-se, do andar sofregamente atrás de uma tábua de salvação. A vida não pode ser andar permanentemente de calças na mão, permanentemente com medo disto e daquilo. A vida é ousar. A vida é desafiar o instituído. A vida não pode ser o tem que ser, nem o que está determinado por fora. A vida é mandar os deuses à merda. A vida é ser dono do seu próprio destino. A vida é andar à solta. A vida é certamente rir, gozar com os poderes e, se possível, acabar com eles. É claro que a vida também é poder, vontade de poder. Mas um poder interior que clama por liberdade. Um poder que rasga a timidez e as castrações. Um poder sem limites, dionisíaco, uma potência que quer saltar cá para fora, que, no artista, no criador, tem uma força impressionante. É da vida que tenho que viver, não do dinheiro, não do emprego, não do mercado. É da vida que venho. Não há que ter medo. Por isso, às vezes, rebento.

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