terça-feira, 7 de abril de 2009

NA BRASILEIRA- PARTE 1


A "Brasileira" foi remodelada. Até o Cãndido anda de gala. "O melhor café é o d' A Brasileira", diz a chávena. E o café é mesmo bom. Sabe bem estar aqui em Braga. Gosto da nova "Brasileira" como gostava da velha. Aqui é que deveria fazer uma sessão com poemas dedicados à "Brasileira". As pessoas passam lá fora. A Gotucha foi tratar do concurso. Esperemos que as coisas corram bem àquela menina. Na mesa em frente passam-se anedotas sobre o primeiro-ministro. As conversas multiplicam-se. O homem das cautelas. O Cãndido de bandeja. Salvo seja. Ninguém conhecido à vista. Vou pedir uma cerveja. Aqui, ao menos, há dinheiro. Não tenho que andar a contar a merda dos trocos. Viva a vida! E amanhã vou queimar a nota. Cerveja. Matéria-prima do poema. E que se fodam os psiquiatras! Escrevi eu há uns anos. E com razão. A cerveja empurra a escrita. Fá-la dançar. E o poeta bebe. Sacia-se. Chega o velhote da república. Senta-se a um canto. Abre o cardápio. Gostava de morar aqui. Vir aqui para a "Brasileira" passar as horas. As pessoas agarram-se aos filhos, à descendência. E depois os filhos dão no que dão. Podem seguir vias completamente diferentes. Como é o meu caso. Aparentemente comporto-me em consonância com a sociedade, mas na prática não. Na prática estou no contra, no lado subversivo, no lado da revolta. Tremo. Continuo a não avistar ninguém conhecido. Ainda é cedo. Os casais trazem os rebentos. A mão treme. Quase deixa cair a cerveja. Não sei o que é. O Cãndido continua o mesmo Cândido. E o poema não sai. Espera por melhores dias. O poeta escreve. Não sabe para quem. Talvez amanhã apareça nos jornais. Talvez continue na mesma e venda uns livros. As pessoas continuam a fazer bebés. Para que mundo? Daqui a pouco peço outra cerveja. "O melhor café é o d'A Brasileira". E eu vou bebendo. Talvez isto soe bem no "Púcaros". Ontem não estive lá. Precisava de uma pausa. Desde Agosto que não falhava. Sou o que sou. Nada a fazer. Mamas à vista. Bem diz o Carlos que, se tiver a hipótese de continuar a beber, eu não páro. Minha mesa de café. És minha. Aqui prossigo viagem. Aqui permaneço quer queiram, quer não. Aqui nasce o poema. Sabe bem estar aqui em Braga. No dia 22 de Maio cá estarei na "Centésima Página" para apresentar o livro. Aqui já ninguém me conhece. A não ser o Cândido. E não vou votar no Bloco de Esquerda. Desta vez não. O Bloco tem vários blocos. TEm desde trotskistas, leninistas, ex-maoístas a social-democratas como Ana Drago ou Miguel Portas. O Bloco não fala da revolução. O Bloco não fala na transição para o socialismo. O Bloco não se assume como anti-capitalista só para satisfazer os interesses dos sociais-democratas. O Bloco limita-se a fazer, bem, o discurso da situação. Neste tempo de crise do capitalismo é necessário assumir o discurso da ruptura, não o discurso da reforma, da melhoria do capitalismo ou da democracia burguesa. Por isso não voto no Bloco. Só vejo bebés. Bebés por todo o lado. Façam-se bebés! Leitinho em vez de cerveja. E a "Brasileira" está mais cara. E o braço continua a tremer. E a Gotucha continua no sindicato. Na "Brasileira" a tarde inteira. Na "Brasileira" a vê-las passar. Na "Brasileira" sou o maior. E chega o Marques. E o Carvalho. Agora vamos todos para o caralho. O poeta ri. Há cacau nos bolsos. E que se foda o Rocha! Que fique com a "playstation" e as suas futebolices! Não preciso de ti, ó Rocha! Estou para lá. Dispenso as tuas análises!
Não tenho a linguagem das contas. Não entro nos negócios do senso comum. As palavras "investimento" e "empresário" metem-me nojo. Não sou merceeiro, nem executivo, nem empresário!

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