sexta-feira, 29 de abril de 2016

PASSIVIDADE E PASMACEIRA

Ontem só saí da cama para ver o Mário de Sá-Carneiro. Tinha estado a beber no Pátio, em Vila do Conde, com a Ana e com o António e, não sei o que me deu, estive na cama o dia (quase) todo. "Ah, que me metam entre cobertores e não me façam mais nada...". A verdade é que não li nem produzi. O que é certo é que volto à rua e esta gente está sempre na mesma. Sempre as mesmas conversas. Nenhum rasgo. Nenhum golpe de génio. Nenhum episódio digno dos romances de Henry Miller. Esta gente satisfaz-se com esta merda, com esta pasmaceira, contenta-se com a porra da rotina, não quer explosões nem revoluções. Eu, pelo contrário, quero isto a arder, a rebentar, não me conformo com "as risadas e as doces mentiras". Sinceramente vejo muita passividade nos meus semelhantes, culpo-os por aceitarem o "Big Brother" e o capitalismo. Culpo-os por, em dada altura, não se terem questionado, não se terem revoltado. Só uma pequena parte o faz. De resto, levam uma vida sem brilho, uma vida sempre igual, sem elevação, sem imaginação. São macacos que trepam em busca do dinheiro e do poder. São macacos que intrigam, que se invejam. Não, mil vezes estar só. Mil vezes permanecer a escrever. Mil vezes ser como Nietzsche. Mil vezes ser Zaratustra, o solitário. Se eu fosse pregar para o meio deles o que me aconteceria? De resto, eu até estou a apurar as minhas qualidades de pregador. Mas o que me aconteceria? A grande maioria mandar-me-ia passear. Seria? Veremos. Por outro lado, é chegada a hora de falar às multidões. Tenho consciência disso. Sou um pensador e tenho sido um pregador na escrita. Tenho pena desta gente. Sempre com a sua vidinha de compra e venda. Nenhuma novidade. Nenhuma curiosidade. Nenhuma filosofia. Eu posso ter os meus defeitos mas o mundo está quase perdido. Guerras, offshores, terrorismo, pilhagens, sacanagens, capitalismo. Aqui nada há de novo. Nem mulheres bonitas. As pessoas estão mortas. Quase todas. Não se passa nada. Absolutamente nada. A não ser na minha cabeça.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

MENINO E BAILARINO

Creio que já sou capaz de expor as minhas ideias em público fluentemente, sem recorrer à cábula, como ontem no "Rés-da-Rua". Obrigado, "Rés-da-Rua"! Sim, já não é só dizer poemas, é ser o profeta do apocalipse, modéstia à parte, diante da menina bonita. Penso que chegarei lá, a Jesus, a Marx, a Bakunine, a Jim Morrison, a Nietzsche. As minhas capacidades mentais e espirituais estão intactas, até se estão a alargar. E depois aparece este anjo a varrer. Pedro, és uma estrela. E já não estás teso. Aprendeste na selva com alguns amigos, com algumas amigas. Aprendeste nos livros e nas canções. Aprendeste na noite, nos bares e com as putas. És mesmo uma puta do rock n' roll. Não és do sucesso, do mainstream, não vendes aos milhares. No entanto, sabes que a tua hora chegará. Normalmente até és boa pessoa mas tens aquele jeito dionisíaco, demoníaco que te faz gritar e partir vidros. És o mais louco dos poetas. Brindas ao caos, bebes até cair. A dama chama-te. É linda. Varre o chão. E eu sou Satã. Sade. Maldoror. As gajas belas fazem-me beber. Especialmente quando servem o Senhor. Eu era um puto tímido e inocente que pensava muito. Dava a mão à Gina, a minha namorada do Colégio da Trofa. É um mundo que já não existe. Ganhei vícios. Apanhei patadas. Tornei-me uma estrela do rock n' roll. Mesmo não reconhecida. Eles e elas vêm ter comigo nos bares, nas discotecas. Eh, pá! Sou diferente. Sou uma puta. Sinto-me no céu entre as mulheres. E, aliás, o que é que tenho a perder? Nada! Absolutamente nada! Posso reinar. Tenho a vida toda à minha frente. Ainda não parti como tu, Jim. Sou louco divino. Felizmente tenho amigos e amigas do coração. Atravesso a melhor fase da minha vida, à parte os problemas físicos, Gotucha. Ando de bar em bar à procura. Santa loucura, como tu, António Manuel Ribeiro. Como tu, Jaime. Como tu, Zé Pacheco. Farto-me da maioria dos homens. São uns atrasados mentais. Só quero mulheres bonitas. Danço com os deuses e com os espíritos. Sou Xamã, sou Dionisos. Louco, em delírio, como Hamlet. Shakespeare está aqui. Dostoievski está aqui. Morrison está aqui. A vida é um experimento permanente, como dizia Nietzsche. Sou o menino e o bailarino. O resto é conversa.

domingo, 17 de abril de 2016

O HOMEM PRÁTICO E O HOMEM DAS IDEIAS

Os homens vivem em dois mundos. O mundo prático, material, do dinheiro, do trabalho, da sobrevivência e o mundo a que chamo superior, das ideias, da criação, da iluminação. Os homens que vivem no mundo "prático" jamais serão capazes de se ultrapassar, de voar e até de se compreenderem. Pelo contrário, os homens que criam alcançam um nível de prazer, de satisfação muito superior uma vez que tocam a maravilha e atingem o infinito. Os homens pequenos, "práticos", desdenham dos homens das ideias pois consideram-nos utópicos, fantasistas. No entanto, agarrados à terra, jamais atingirão a beatitude, os reinos de luz que os homens das ideias e dos ideais são capazes de alcançar. Os homens das ideias, por seu turno, como são da liberdade e não conhecem limites, conseguem desvendar os mistérios do homem e do universo e voam nos céus da hybris e da sabedoria.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A EDUCAÇÃO EM LIBERDADE

Segundo Leonardo Coimbra, "compete à educação tornar o homem livre. (...) Para isso, a educação tem de ser integral, não desprezando nenhuma das necessidades do espírito humano, nem se escravizando a qualquer preconceito. Assim, ela será científica e filosófica. A educação deve dar o homem a si mesmo, à família, à Humanidade, ao Universo."
Com efeito, compete à educação, em vez de formatar/domesticar os jovens, proporcionar-lhes o máximo desenvolvimento das suas capacidades. Não pode haver qualquer tipo de castração. A criança e o jovem devem estar integrados num processo de descoberta permanente, de experimento permanente, como falava Nietzsche. Só assim, e através da fraternidade universal, uniremos os tesouros interiores aos tesouros exteriores. Só assim seremos seres humanos integrais, plenos. Só assim passaremos do caos reinante à harmonia.

domingo, 10 de abril de 2016

"PANAMA PAPERS": A PODRIDÃO VAI REBENTAR

Que podridão imensa esta dos "Panama Papers". Assim funciona o capitalismo actual. A evasão fiscal, a roubalheira dos offshores significam receita perdida para os estados porque são os impostos dos trabalhadores que sustentam os orçamentos dos países. Tu, leitor, neste momento estás a ser roubado por esses abutres. Políticos, milionários, banqueiros, empresários, futebolistas, artistas coexistem nos paraísos fiscais com as elites da delinquência global, da corrupção, do terrorismo, do tráfico de armas. David Cameron, Vladimir Putin, altos dirigentes chineses, o presidente da Argentina, o já demitido primeiro-ministro da Islândia, Marine Le Pen, a irmã do rei de Espanha fazem parte de uma extensa lista de bandidos sem quaisquer valores, cujos únicos objectivos na vida são perpetuarem-se no poder a qualquer custo ou então acumular riquezas e riquezas e explorar os outros. 
Ao que se sabe, os portugueses têm 69 mil milhões de euros em paraísos fiscais, dos quais 36 mil milhões estão na Suíça. Aquele valor corresponde a cerca de 40% do PIB português de 2015! Há hoje 43 empresas offshore activas que tiveram participação de portugueses no escândalo financeiro dos Documentos do Panamá. Luís Portela, dono da Bial, Manuel Vilarinho, ex-presidente do Benfica, e Ilídio Pinho, empresário, estão envolvidos. O já extinto Grupo Espírito Santo (GES) de Ricardo Salgado manteve em segredo no Panamá durante 21 anos um gigantesco "saco azul" por onde passaram mais de 300 milhões de euros. Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo não disseram a verdade à comissão parlamentar de inquérito do BES.
Enquanto isso, o Estado português gastou nos últimos 20 anos tanto com o Rendimento Social de Inserção (5,6 mil milhões de euros) como com a falência do BPN. Nos últimos cinco anos o número de beneficiários do RSI diminuiu drasticamente. Segundo os números da Segurança Social, em 2010 eram 525 mil. Em 2015, apenas 295 mil. A pobreza e as desigualdades aumentam a olhos vistos. Que país. Que mundo. Para lá do que é a máquina de propaganda mercantil, somos governados e controlados por vigaristas. Os vendilhões do templo e os agiotas estão por todo o lado. O dinheiro que poderia ser aplicado em alimentação, escolas, hospitais, cultura, esbanjado em negócios sujos, em especulação, em ostentação. Isto não pode continuar. Isto vai mesmo rebentar.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

QUE VIDA É ESTA?

O capitalismo vai-nos negando a vida e vai-nos lavando os cérebro. Com efeito, se formos a ver a vida da maioria das pessoas resume-se a isto: nascem, são lançados no mundo, brincam durante uns anitos, depois vão à escola, aprendem umas coisas mas a máquina começa a domesticá-los, a fazer-lhes a cabeça, depois continuam a estudar, chegam à adolescência, os media, a escola e a família castram-nos, encaminham-nos para o mercado, cortam-lhes as asas e a imaginação, depois vão trabalhar, ainda fazem umas asneiras, ainda saem ligeiramente dos trilhos, no entanto, continuam a meter-lhes a droga do sistema no cérebro, assim assentam, casam ou não, têm ou não filhos, vêem TV, envelhecem, morrem. Que vida é esta? Que porra de vida é esta? Mais vale dar um tiro nos cornos. O que é que realmente viemos fazer aqui?