domingo, 28 de fevereiro de 2016

ENTRE AS GATAS

Entre as gatas me passeio. Beijo-lhes os pêlos púbicos. Ao mesmo tempo olho as misérias do mundo. Do ecrã vêm mulheres de sonho. Há abraços na grande mercearia. Enquanto elas trabalham eu gozo. Sou poeta a tempo inteiro. Tenho um pacto com a liberdade e com o marquês de Sade. Vejo-vos sofrer, cumprir ordens, obedecer ao papão. Mesmo os partidos de esquerda têm dirigentes e dirigidos. Deixei-me disso. Entreguei-me de corpo e alma à anarquia. É preciso destruir para construir. Os mercadores não entregarão o poder de mão beijada. Esses merceeiros, esses carniceiros não merecem a vida porque são inimigos da vida. O império deles começa a ficar em cacos. Sei-o. Eu assisti à morte de Deus com Zaratustra. Eu sou o homem da liberdade.

The Doors - The End (original)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

DEMOCRACIA EM VILAR DO PINHEIRO

Aqui chegados, sentimo-nos reis. Os patetas do "Governo Sombra", até o grande Manuel Alegre, tudo isso soa a pequeno perante a genialidade de William Blake, de Shakespeare, de Nietzsche. E depois há os mesmo pequenos, os que se bicam como as galinhas, com os seus pequeninos poderes, os seus lares, os seus carros, as suas televisões, os seus telemóveis. Claro que ainda há gente boa, pura, espontânea, autêntica, gente que dá e que se dá. No entanto, os merceeiros desconfiam logo da sinceridade dessas gentes e colocam-nas de lado e dão-lhes patadas. Quão desprezíveis são esses pequenos merceeiros, mais até que os grandes merceeiros. Mas ainda há gente que ilumina como esta mulher do café. Pena ser casada. E o homem, afinal, fala. E eu até já bebo cerveja. É mais forte do que eu. Poeta bêbado. Poeta maldito que vai aos bares vomitar poesia. Poeta do Porto e de Braga. Poeta à mesa do canto como Pessoa no "Martinho da Arcada". Poeta não alinhado, fora das convenções e dos prémios. Poeta que vai ser lembrado. Poeta rejeitado com visões e iluminações como Blake, salvas as devidas distâncias. Poeta que fareja a fêmea, mesmo estando comprometida. Poeta que quer cobrir, que ama a àguia e a serpente. Poeta do antigamente. Poeta a cambalear no palco como Morrison, Ginsberg ou Sebastião Alba. A mulher faz-te beber, ó poeta, faz-te criar. Até te sentes em Braga. Fala, fala, minha cabra. Enquanto falas eu subo. E enquanto subo eu bebo e rio-me das vossas vidinhas sempre iguais. Já nem vou conseguir ler. A não ser Blake. Até sois boa gente mas mereceis ser provocados, acordados. Se não continuais a deixar-vos comer. Se não continuais a votar nos mesmos gajos. Contudo, aqui no "Vip" até se ouvem conversas interessantes. Fala-se de bruxedos e de cemitérios. O ex-farmacêutico é um bom homem. Dialoga com o patrão. E a tarde prossegue. Afinal aqui há vida! Há vida em Vilar do Pinheiro! Blake está aqui, Morrison está aqui, Pessoa está aqui, o Ribeiro está aqui. Mas a gaja vai embora. A coisa perde a piada. Restam ainda o Lopes e o ex-farmacêutico. Haja saúde, respeito e boa disposição-dizem. E democracia.

DIVINO E MALDITO

Elas, a partir de certo momento, não se controlam. Elas têm o marido, os filhos, mas começam a insinuar a cona. Porque tu és a liberdade que elas invejam, que os maridos não lhes dão. Porque tu és Deus e Jesus e sei mais lá o quê. E bebes sem limites, sem ficar bêbado, como Sócrates. Sim, eles e elas invejam-te. Sim, tu és divino, não és daqui. E elas querem roçar-se em ti e até falam do teu pai. E tu és o rei. E esses escritorzecos são uns ignorantes imbecis. Tu pertences a Nietzsche, Blake, Rimbaud, Henry Miller. Mas esqueceste-te de beijar o teu irmão amado que foi para o Panamá.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

BAKUNINE E "O BANQUETE"

Regresso ao "Pinha Doce", do sr. Alberto, junto à estação de Vilar do Pinheiro. De facto, não nos devemos preocupar com coisas secundárias. Ou devemos, pura e simplesmente, secundarizá-las. O que importa é viver plenamente a vida. Com festa, com criação, com estudo. Nada de perder tempo com castradores, com opinadores vendidos, com lixo mediático. O que importa é gozar a vida. Desfrutá-la ao máximo. Também com momentos de solidão, de recolhimento, de reflexão. Mas na plena posse das nossas faculdades. Aliás, ir além, ir sempre além. Caminhar para o divino. Porque, de facto, não há limites. É absurdo que nos venham impor regras ou limites. Só seremos guiados pela nossa consciência. Ah, como acho ridículo o economismo desses políticos, a prisão dos números, dos gráficos, das estatísticas. Como acho isso assexuado, tão sem vida. De facto, depois de ler Nietzsche, Platão, Henry Miller vejo tanta gente tão perdida. Gente que não faz a mínima ideia do que isto é nem do que faz aqui. Limitam-se a deixar correr o tempo, a sofrer e a competir. Vida absurda. Vida estúpida. Olha, à falta de melhor, bebe-se. Ao contrário do que dizem as psicólogas, a bebida acende a alma e aguça a escrita. Aliás, não foi por acaso que Platão escreveu "O Banquete". Estou farto de moralismos. Aliás, estou farto de muita coisa. Estarei a inaugurar a filosofia ébria? No entanto, neste café ainda reina uma certa democracia, uma certa polis, não sei explicar. Já era assim há uns anos. E ainda se vêem umas miúdas bonitas. Bom, estamos nas nossas quintas. 
Prossigamos. Essas mulheres de sonho que se exibem na TV, nas revistas parecem distantes, querem os ricos e os poderosos, as vedetas, os futebolistas, parece que não apreciam a iluminação, a inteligência. Pelo menos por enquanto. Coitadas, também andam perdidas. É um mundo de cegos e de cegas, este. No fundo, estão na caverna de Platão. Ou nem isso. Nem sequer discutem as sombras. Coitados, estão cheios de dinheiro mas não passam de uns pobres ignorantes. Nunca lêem um livro. Não sabem o que perdem. E, olhai, que o apocalipse está próximo. Se não for através de tragédias naturais, grupos armados se levantarão. Destruir para construir, dizia o velho Bakunine. Até porque o capitalismo destrói a vida. Porque é que havemos de ser pacíficos? Sim, poderíamos ir pela via de Proudhon ou de Kropotkine, a via pacífica, construir federações de comunas livres. Mas sinceramente não sei. Estes gajos querem escravizar-nos e já escravizam muitos. Que humanidade devemos ter para quem não tem humanidade alguma? Filhos da puta. Não tenho pena nenhuma deles.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

CELEBRAÇÃO

Esta tarde avancei 1000 anos. A sabedoria veio ter comigo. Todo eu sou vontade de conhecer. As musas sorriem para mim. Como vos acho pequenos, ó escribas, perante a minha louca sabedoria. Há explosões, iluminações no meu cérebro. Lanço-me como uma águia sobre os carneiros, pobres carneiros que nada sabeis da vida. As portas abrem-se. Meu pai, eu renasço. Eu volto à criança. Estou enamorado de ti, ó vida! Vida que és única, que és a única verdade, o único centro! Vida que não és escrava de ninguém! Eles não sabem o que fazem aqui, eles estão perdidos. Eu encontrei o tesouro. Eu encontrei o reino. Vede como danço, como sou de outros mundos. Todo eu sou celebração, fogo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

HÁ QUE ACORDAR!

Segundo o filósofo  Noam Chomsky, existe uma política deliberada que conduz o mundo para uma espécie de modelo terceiro-mundista com sectores ultra-abastados, uma imensa multidão a viver na miséria e "uma ampla população supérflua, a quem não cabem quaisquer direitos porque em nada contribuem para a obtenção de lucro, que se tornou o único valor humano." As pessoas são convertidas em "átomos consumidores" e "instrumentos de produção obedientes", isoladas umas das outras e desprovidas de qualquer ideia de vida humana decente. A escravatura está instalada em favor dessa casta de privilegiados: os detentores das maiores fortunas, os banqueiros, as grandes corporações, os especuladores, os mais poderosos. Essa gente não nos trata como humanos, trata-nos abaixo de cão. Aliados a governos fascistas ao seu serviço, como foi o de Passos Coelho, fazem-nos perder direitos sociais elementares e aumentam-nos o tempo de trabalho, o que faz com que tenhamos uma vida mais miserável, com menos tempo livre, com menos tempo para os nossos filhos. Isto não é mais suportável. Há que acordar. Há que abrir os olhos. O homem não nasceu para ser escravo. Nem para ser controlado por meia-dúzia de macacos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O HOMEM MORIBUNDO

A sociedade mercantil consome os cidadãos com trabalho e isola-os através do medo. Estou na confeitaria, as pessoas ainda falam mas não discutem o essencial, a condição humana, perdem-se em futilidades. As pessoas aceitam o patrão, o governo, a União Europeia, as grandes corporações, a máfia financeira. Não questionam. Parece que apenas se preocupam com os seus problemas particulares, com o futebol, com as vedetas. Não vivem a polis. 
Felizmente, ainda ouço pessoas revoltadas com isto. Pessoas que se insurgem contra a desumanização e a escravização. Contudo, ainda não estamos suficientemente unidos para fazer a revolução. A revolução que instaure uma nova forma de vida sem dominação nem trocas monetárias. A liberdade que rejeita qualquer força que possa interferir com as nossas vontades ou desejos. Isto não é nenhuma quimera. Está tudo na mente e no coração. É uma questão de nos libertarmos desta sociedade odiosa e castradora. Em vez de falarmos de banalidades e de coisas estúpidas, discutamos a vida e o sentido da vida. É uma questão de filosofia. Em vez de ouvirmos esses patetas a fazer-nos a cabeça e a falar economês na TV, discutamos nós a polis e a vida. É o começo. Depois partiremos para a acção. Isto atingiu um estado miserável. Não sei como ainda riem. O homem está moribundo.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

POR QUE RAIO TEMOS QUE NOS SUBMETER?

"Os homens não podem evitar as suas determinações físicas e psicológicas, tal como não podem evitar os desastres naturais, mas podem, em contrapartida, recusar-se a obedecer como escravos às instituições ou a outros seres humanos", afirma George Woodcock. Com efeito, pode não parecer, mas muitas das imposições que a sociedade determina são meras convenções, são tigres de papel. Por que raio tenho que aceitar que o Américo Amorim, o Soares dos Santos ou o Belmiro de Azevedo sejam superiores a mim ou sejam milionários? Por que raio tenho que aceitar o Cavaco ou o Marcelo se nunca votei neles? Por que raio tenho de aceitar o reinado destes e de outros imbecis? Não nasci livre e único? Não ouvi e li os mestres? Por que raio temos medo? Por que raio temos que nos submeter?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O LADO MÁGICO DA VIDA

Ontem, à porta do "Candelabro", um bêbado veio ter comigo e elogiou as minhas performances no Teatro Campo Alegre de há uns anos atrás. De facto, às vezes um gajo sente-se só e, afinal, há uma data de gente que nos conhece na cidade. Cidade onde vou aprofundando amizades, discutindo a polis e novos projectos, onde não mando nem obedeço. 
"Os homens passaram a ser desiguais não só por aquilo que eram mas também por aquilo que tinham", afirma Fernando Savater. Os filhos dos reis eram reis ou príncipes, os filhos dos ricos tendem a ser ricos, os filhos dos pobres tendiam a ser pobres. No entanto, os gregos antigos inventaram a polis, a comunidade de cidadania em cujo espaço não reina a necessidade da natureza nem a vontade dos deuses mas a liberdade dos homens, ou seja, a sua capacidade de raciocinarem, de discutirem, de escolherem e revogarem os dirigentes, de construirem a democracia. Isto, entretanto, deu muitas voltas. A democracia de hoje não é a democracia de Atenas, que era directa. A democracia de hoje é completamente manipulada pelos media, pelos seus opinadores vendidos, pelas grandes corporações e pela alta finança. Contudo, apesar de tudo, há uns bêbados que nos vêm abraçar pois recordam-se da nossa actuação de há cinco ou seis anos no Campo Alegre, apesar de tudo há amigos e amigas com quem estreitamos laços e compartilhamos estórias. Sim, ainda há um lado mágico na vida que eles não conseguiram derrotar. Por isso prosseguimos viagem.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O CAPITALISMO É O CONTRÁRIO DO AMOR

Aqui chegados. Apoiamos o governo de António Costa, suportado pelo PCP e pelo BE, mas apenas como uma solução transitória. Apoiamos as suas medidas sociais e condenamos a ingerência de Bruxelas e das agências de "rating" no Orçamento. Somos um país soberano, não uma colónia da Comissão Europeia. Posto isto, declaramos que, numa segunda fase, não aceitamos ser governados por ninguém nem aceitamos que ninguém esteja acima de nós. O capitalismo é o contrário do amor. Amor que é divino, amor que une e não separa, amor que é dar e receber, sem preço nem moeda. Acreditamos também em todos aqueles que, ao longo dos séculos, lutaram pela liberdade e pela justiça. Em todos os que quiseram instaurar o Paraíso na Terra. Em todos os que transmitiram a sua sabedoria. Há algo de bom no ser humano. Contudo, esta sociedade mercantil tende a castrá-lo. Alguns elevam-se, ultrapassam-se na bondade, na criação, na sabedoria. Mesmo que sejam insultados, perseguidos, presos. Outros limitam-se a escrever umas coisitas engraçadas. É a sociedade do consumo.