sábado, 27 de fevereiro de 2016

DEMOCRACIA EM VILAR DO PINHEIRO

Aqui chegados, sentimo-nos reis. Os patetas do "Governo Sombra", até o grande Manuel Alegre, tudo isso soa a pequeno perante a genialidade de William Blake, de Shakespeare, de Nietzsche. E depois há os mesmo pequenos, os que se bicam como as galinhas, com os seus pequeninos poderes, os seus lares, os seus carros, as suas televisões, os seus telemóveis. Claro que ainda há gente boa, pura, espontânea, autêntica, gente que dá e que se dá. No entanto, os merceeiros desconfiam logo da sinceridade dessas gentes e colocam-nas de lado e dão-lhes patadas. Quão desprezíveis são esses pequenos merceeiros, mais até que os grandes merceeiros. Mas ainda há gente que ilumina como esta mulher do café. Pena ser casada. E o homem, afinal, fala. E eu até já bebo cerveja. É mais forte do que eu. Poeta bêbado. Poeta maldito que vai aos bares vomitar poesia. Poeta do Porto e de Braga. Poeta à mesa do canto como Pessoa no "Martinho da Arcada". Poeta não alinhado, fora das convenções e dos prémios. Poeta que vai ser lembrado. Poeta rejeitado com visões e iluminações como Blake, salvas as devidas distâncias. Poeta que fareja a fêmea, mesmo estando comprometida. Poeta que quer cobrir, que ama a àguia e a serpente. Poeta do antigamente. Poeta a cambalear no palco como Morrison, Ginsberg ou Sebastião Alba. A mulher faz-te beber, ó poeta, faz-te criar. Até te sentes em Braga. Fala, fala, minha cabra. Enquanto falas eu subo. E enquanto subo eu bebo e rio-me das vossas vidinhas sempre iguais. Já nem vou conseguir ler. A não ser Blake. Até sois boa gente mas mereceis ser provocados, acordados. Se não continuais a deixar-vos comer. Se não continuais a votar nos mesmos gajos. Contudo, aqui no "Vip" até se ouvem conversas interessantes. Fala-se de bruxedos e de cemitérios. O ex-farmacêutico é um bom homem. Dialoga com o patrão. E a tarde prossegue. Afinal aqui há vida! Há vida em Vilar do Pinheiro! Blake está aqui, Morrison está aqui, Pessoa está aqui, o Ribeiro está aqui. Mas a gaja vai embora. A coisa perde a piada. Restam ainda o Lopes e o ex-farmacêutico. Haja saúde, respeito e boa disposição-dizem. E democracia.

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