quinta-feira, 2 de abril de 2015
O FADO
Esta gente vive no tem que ser, no fado, no fatalismo. É o trabalho, as horas de trabalho que se cumprem, o ir para casa, o trabalhar em casa, o sentar-se em frente à TV, o dormir. Depois o aceitar dos governos capitalistas e do capitalismo, o aceitar de uma vida sem novidades, quase sempre igual, o perder para sempre da juventude e da infância. Tem que ser. Não lêem livros. Nunca leram Platão, Nietzsche ou Henry Miller. Nunca tiveram curiosidade. Até se julgam satisfeitos desde que não caiam na miséria. Mas, de facto, que vida é esta? Cumprem-se os dias, nada mais. Para quê estar vivo assim? Para quê levantar-se da cama? Sim, há umas graçolas aqui e ali, e depois? Que leva esta gente da vida? A família? E daí? Porra! Foi para isto o milagre da vida? Era para isto que brincávamos na infância, que inventávamos personagens? Foi para isto que discutíamos a vida com os nossos colegas de liceu? Não, nós não somos assim. E outros também não são. Nós ainda temos curiosidade. Nós rejeitamos o poder e procuramos o conhecimento. Nós não somos do tem que ser. Preferimos ser poetas, eternos jovens, eternas crianças. Viemos para a vida em abundância mesmo que momentaneamente estejamos tristes ou sós, viemos para a criação, viemos fazer a hora. Não somos dos merceeiros nem da morte. Viemos completar as nossas vidas.
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