terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

NOBRE


Que tenho sido
depois dos 17, 18 anos?
Li Platão, Marx, Nietzsche,
os anarquistas
conheci alguns homens brilhantes
outros vulgares
conheci gente de coração
e gente sem alma
que deixo ao mundo?
Dez livros
umas performances poéticas
outras políticas
hoje, aos 43 anos,
sinto-me um senhor
contribuo para a evolução da espécie
sei perfeitamente o que não quero
apesar de, a espaços,
me deixar levar pelos media
pela ilusão do estrelato
desenvolvi as minhas potencialidades
sou capaz de as passar para o papel
tenho a minha loucura
e ainda bem que a tenho
sinto-me atraído por algumas mulheres
desejo-as
já passei a fase dos preconceitos
sei com quem quero estar
e onde quero estar
cometi erros
tive de cometê-los
andei em busca
durante anos, décadas
encontrei alguns paraísos
sou diferente daquele que era
não sou um bárbaro
mas sinto-me atraído pelo caos
isso distingue-me de outros poetas
estaria bem na Grécia antiga
apesar de tudo,
acredito na verdade e na virtude
não suporto os economistas
construí-me
sou este que sou
conheço o amor
mas sou capaz do ódio
embora hoje não esteja
para aí virado
passeio-me entre os homens
como entre os animais
sei ser cínico
como Diógenes
falo com a vida
discuto o sentido dela
sou um homem nobre.

Vilar do Pinheiro, "Pinha Doce", 19.2.2012

1 comentário:

rapaz disse...

Substância


Quando me convenço que sou alguma coisa
logo tudo cai sobre mim
vejo cobardias, comodismos, erros sem fim.

Com que pretextos me julgo
ser bom, ser correcto
não basta sentir-me vulgo
terei que ser por completo.

Mas não sou
apesar de parecer
nasci nobre
sem razão de ser.

E foi nesse engano fatal
que meu ser se criou
foi sem noção do mal
que todo o sangue se entornou.

Tenho então essa grave falha
que me é porém substância
meu ser é minha palha
que arde na inconstância.



Francisco
7 de Março de 2006
Rua do Almada
Porto


Abraço, Francisco