quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O POETA EM BRAGA
Para António José Forte
O poeta sai de casa às cinco da manhã
brilha
dirige-se ao único café aberto
lê o "Jornal de Notícias"
devora as notícias
quer pegar fogo ao mundo
o mundo não lhe agrada
perde-se em mediocridades
chora
o poeta arde
pega fogo
percorre as ruas de Braga
vai até ao café onde o pai ia
de seguida vai até ao cemitério
visitar a avó
chora
lembra-se da infância
voa
o poeta nada tem a perder
o país arde
o poeta incendeia
não tem deveres
não trabalha
percorre as ruas
passou a noite a escrever
brilha
nunca compreendeu o mercado
nem o ter de dar cacau
a este e a aquele
o pensamento voa
não discute banalidades
acende o rastilho
incendeia
o poeta é doido
vive dos seus fantasmas
não tem horas
já lhe chamaram muitas coisas
mas o poeta já não se importa
quer ir para o palco
gritar
assustar as meninas mansas
o poeta entra noutro café
bebe outro café
espera que a dona
ponha as mamas de fora
ri
goza
está na moda
as conversas do mundo
aborrecem-no
grita
chamam a polícia
o poeta identifica-se
tratam-no por doutor
sociólogo
jornalista
o poeta brilha
regressa a casa
come
almoça
sai de novo para a rua
ri
goza
diz que o mundo não tem cura
provoca
o poeta não tem leis
nem reis
dança
curte
incendeia
a mente rebenta
chamam a ambulância
o poeta alucina
resiste
cai
inventa estórias
recomeça
sai para a rua
com estrelas nos cabelos
insulta o mundo
possesso
o poeta olha
observa as jovens
quere-as
está dentro de si
não percebe
os jogos delas
canta
é um rei bêbado
incendeia as consciências
já não tem paciência
ouve o Quim
falar de contas
não as suporta
escreve
não tem cura.
Braga, "Flor do Lima", 7.10.2011
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