quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O MENINO


Poderia passar o dia a escrever. Pareço estar com pedal para isso. As notícias do país enfadam-me, tal como os futebóis. De qualquer forma, sinto falta da Gotucha. Vou fazendo a minha literatura. De vez em quando, há uns rasgos de génio. Não há que ter problemas em assumi-lo. Alimento-me dos génios. Gosto dos livros que explicam a vida. E, de facto, o que é a vida? A sucessão dos instantes, das noites, dos dias. Mas também o saber agarrar o instante, nem que seja a espetar palavras no papel e a olhar a vida dos outros, mesmo sendo esta previsível e monótona. Somos, de facto, captadores de instantes. Hoje não esperamos nada nem ninguém. Não temos horários a cumprir. Nem nos julgamos inferiores aos outros escritores. Lidamos com o tédio. Falamos com as amigas no Facebook, não nos vai aparecer agora nenhuma: "Olá, Pedro. Como vais? Etc." Bastava-nos isso. Conversar com as amigas. Já quase não pensamos em sexo. À falta das amigas ou de alguém que converse acerca do mundo, escrevo. Antes escrever do que deixar-me levar pelo paleio imbecil da máquina. Antes escrever do que engolir notícias. Antes escrever do que deixar-me moldar. Antes escrever. E assim vivo. O casal do café discute. Mas escrever, para mim, em certos dias é suficiente. É a própria vida. Não, não vou ceder. Acabo por regressar àquele que sou. Àquele que, já na infância, punha tudo em causa mentalmente. Continuo a ser o menino, como dizia a Paula, como diz a Alexandra.

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