segunda-feira, 19 de setembro de 2011
A LINGUAGEM DO INÍCIO DO MUNDO
A LINGUAGEM DO INÍCIO DO MUNDO
Pensar todo o pensável. Exercitar o pensamento. Poderia passar a vida a pensar. Mas depois há o amor, a liberdade. Acabo por não me fechar totalmente no meu pensamento. Lanço pontes para o mundo. Tenho necessidade de comunicar. Poderia passar os dias aqui em Braga com a Gotucha e dedicar-me ao livro. Ao livro que já está, em parte, em “Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller…” mas que importa continuar a construir. Ao livro que pretende construir o homem. O homem que, apesar das suas fragilidades, se eleva e se enobrece no café. O homem que aspira a ser santo. Que vê o mundo com novos olhos. Cujo pensamento se liberta. Que ainda é o poeta beat mas que dele se afasta. Sou feliz aqui em Braga. Posso dizê-lo. Não sinto isto em mais nenhum lugar. Espero a Gotucha. Ela dá-me o amor. Já não estou deprimido. Estou curado, ouço a voz do meu pai. Não te inquietes mais com o que tens de comer ou de beber. Segue a via. Continua na via que tens seguido e vai-te aperfeiçoando. Lê os mestres. Segue a via que conduz a si mesmo. Áquele que eras quando nasceste. Afasta-te da publicidade e da propaganda. Sê puro cada dia. Não ouças a voz da populaça. Bem sabemos que ainda ligas às glórias do mundo. Bem sabemos que amas o aplauso. Todavia, há em ti a sede de infinito. Há em ti o desejo de ser único. O desejo de beber o cálice sagrado, de o partilhares com as eleitas. Há em ti a vida abundante, a vida pela vida, fora do mercado, mesmo que aparentemente sejas apenas o homem à mesa. Vibras, explodes no acto da criação. Há espíritos que dançam em ti, ó poeta. Não, no fundo, nunca te deixaste enganar pelo ecrã. Não precisas de mediadores, tens-te a ti e à Gotucha. Tens um mundo dentro de ti. Estás inundado de vida plena. Hoje, 10 de Setembro, às 4:20 da tarde, no “Doce Convívio”. Compreendes a linguagem das crianças. Falas a linguagem do início do mundo. Tantas vezes não a conseguiste expressar, tantas vezes tropeçaste nas palavras e agora estás aqui com o olhar inaugural. Cedeste por vezes mas não caíste. Chegaste aqui. Estás no Uno. És único. Agarras a liberdade absoluta. Nada tens a ver, de facto, com os poetas menores. Conhecês-te-os, ouviste-os, mas não és deles. Nunca deste grande importância às flores mas agora começas a ama-las. És, de facto, o poeta. Aquele que vive a obra. Que não passa a vida a pensar na próxima refeição. Aquele que esquece as horas e está com a que esquece as horas. Aquele que toma café despreocupadamente porque está no início do mundo. Aquele que já não tem constrangimentos. Que pode ser aquele que realmente é, sem máscaras. Que tem o universo à sua mesa.
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4 comentários:
"Aquele que vive a obra. Que não passa a vida a pensar na próxima refeição."
Camarada, que fazias quando se pensa na próxima refeição, quanto, quando e como? que fazias tu?
Ansiavas, escrevias, fazias um hino à última cerveja indo-se o dinheiro do autocarro goela abaixo, e depois?
Eu, às vezes, tinha a sensação que se escrevesse algo preciso, e a precisão é beleza de certo modo, poderia fazer com que acontecesse eu ingerir algo mais tarde como recompensa, do género: eu trabalhei tászaver!, do género uma moeda pagaria o lanche, ou um amigo que aparecesse e convidasse.
esse poder da escrita..., eu acho que este poder nada tem de santo, quando muito tresanda a mago negro messias maléfico. tudo isto me cheira a fascismo em comunidade: o poder corrompe e é capaz de estar no adn, mas talvez porque eu tenho uma visão distorcida da realidade, cada pessoa tem uma visão distorcida da realidade pelo simples facto de a realidade não ser igual para todos os locais, todas as gentes, brancas negras ou qualquer cor que seja.
Mas como fazias tu antes? como comias e bebias? Não tinhas fome?
os expedientes não dão segurança, essa é que é a verdade. e é preciso meter buchas no papo.
Sem cinismo da minha parte, peço que expliques.
eu posso comer, almoçar, jantar, e não estar a pensar imediatamente da próxima refeição. hÁ uma vida para além disso, a vida pela vida, de Henry Miller e não a mera sobrevivência. Fascismo? Isso não é comigo, nunca foi.
Fascismo, quando falo em fascismo penso que todas e qualquer religião é fascista, a ideia do messias anunciado pelo profeta, a ideia do pescador de homens, do guardador de rebanhos. está no adn do homem ser feliz mas existe quem essa ideia de felicidade consiste em passar à acção política e converter aqueles que considera infiéis (Zaratustra falava do alto da montanha e o autor enlouqueceu, na sua loucura sentiu-se um infeliz, se ele soubesse que o sol não nasce igual para todos... ou talvez soubesse e por isso tivesse enlouquecido) e quem assim não for convertido é chutado para canto.
Esta ideia talvez a tenha por ser pessimista, ao contrário de ti não vejo redenção na vida humana.
Eu sendo humano luto pela minha redenção, sabendo que poucas hipóteses terei mas não pretendo construir um rebanho, quando muito serei o profeta e o rebanho de mim próprio. não tento converter ninguém. deve ser por isso que tenho poucos amigos. a minha política é a política de mim próprio, do meu ser, do meu Eu.
Luto numa sociedade fascista pelo meu direito a ter um canto sem incomodar ou de lá retirar o anterior ocupante, pelo direito a Ser simplesmente, como tu igualmente fazes. só que ao contrário de ti não penso em glória embora também leia os mestres, não me enobreço simplesmento vivo ou sobrevivo. é óbvio que imediatamente a seguir ao almoço não penso se vou comer logo à noite, mas também sei que a próxima refeição está garantida, trata-se então de trabalhar aguentando o nó no estômago quando ele aperta. a vidinha não presta mas só vejo uma solução: a que tu pareces ter, a tua Gotucha, faz a Obra com ela, que lhe dêm carinho e alimento, é o único rebanho que admito, ele é trino, no teu caso: a obra(filho), a Gotucha e tu, o poeta.
Saudações sinceras de alguém que se considerando teu amigo, te respeita sem necessariamente concordar com todas as tuas ideias.
seja. Mas Nietzsche não é nenhum frustrado como dizes. A vida sem exaltação não é nada. Antes ser profeta. Começo a ficar farto das conversas do senso comum.
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