sexta-feira, 16 de setembro de 2011
DO VOSSO SOSSEGO
Crianças. Bebés. A pacatez familiar. Dentro em breve ireis para casa jantar em frente ao Telejornal. Eis a vida de tédio que levais. Não saís desse rame-rame. Posso ter as minhas fraquezas, os meus telhados de vidro, mas não sou como vós. Nasceis, ides à escola, trabalhais, casais, tendes filhos, envelheceis. É isto que vindes fazer ao mundo. Nada mais. Não criais, nada trazeis de novo. Limitai-vos a reproduzir a fórmula. Dia após dia. Não sou vosso. Não venho imitar-vos. Passo-me. Desato aos berros. Insulto a audiência. Não me deis a mão. Afastai de mim as vossas crianças. Não tenho de ser amável convosco. Não tenho que falar a vossa linguagem. Não sou como vós. Sou o solitário de Zaratustra. Não tenho de converter-me aos vossos valores. Deixai-me. Prefiro passar os dias a ler e a escrever. Estou mesmo farto do vosso sossego, da vossa tranquilidade, do Deus em que acreditais e que vos protege. Sou dos outros. Sou dos malditos, daqueles que vieram ter comigo falar-me da verdadeira vida. A vida que é aqui e não é aqui. Por isso, por vezes, sou insolente como Diógenes.
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