sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

UM HOMEM DE DOMINGO


Manhã de domingo em Braga. Um bracarense, de novo. Um bracarense, como nunca. Manhã de sol em Janeiro. O escritor escreve. É essa a sua missão. Mesmo que não chegue às luzes da ribalta, essa é a sua missão. À sua frente, a capela. Os carros passam na estrada. O escritor já esteve em muitos lados. Já viu o bom e o pior. Já esteve mergulhado na depressão. Tinha medo das pessoas. Não conseguia comunicar. Felizmente, esses tempos estão longe. Há uma luz que brilha em si. Acredita no homem, num certo tipo de homem, num homem a construir. Um homem que até pode ser amável com os comerciantes mas que desconfia do comércio e da circulação da moeda. Um homem que é do espírito e da emoção, que rejeita os cavacos e a economia. Um homem que é da vida interior, que procura a beleza e a poesia. Um homem que sabe que o tempo joga a seu favor, que não gosta de pressões nem de pressas. Um homem de domingo, que não se preocupa com o avançar dos ponteiros do relógio, que observa os católicos a sair da missa. Um homem no domingo. Que até poderia vender livros na praça. Um homem que não se maça. Um homem que se preocupa com a Gotucha. Um homem do mundo, que pertence ao mundo e que tem à sua frente a chávena de café, como Pessoa. Não vai receber 1500 euros por esta crónica mas vai cantar Braga como poucos o fizeram. Sim, é desta cidade. É aqui que se sente em casa, no café snack-bar "S. Cristóvão", na Ponte. Já não tem o sectarismo e a intolerância de outros tempos. Já não pensa que a extrema-esquerda é a dona da verdade. Acredita fundamentalmente na vida. Na vida que também corre nesta folha de papel. Na vida que vale por si mesma. Na vida que tentam domesticar. O homem, ao fim destes anos, não se deixou domesticar. Várias vezes o têm tentado mas ele regressa sempre a si mesmo. É egocêntrico. Talvez se devesse dar mais ao mundo. Mas também é uma forma de defesa. O mundo não o satisfaz. Mas não há dúvida que é melhor que o céu esteja azul.

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