segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A VIDA PELA VIDA


A VIDA PELA VIDA

“Não existe nada a não ser a vida. (…) Viver, estar vivo, é partilhar do mistério. (…) (Heraclito) pretendia dizer que a vida é tudo, a vida é o único privilégio, a vida não conhece nada, não significa nada, a não ser a vida.”
(Henry Miller, “Os Livros da Minha Vida”)

A vida. O impulso vital. O estar vivo. Eis o que realmente conta, o que está para lá e para cá dos mercados e dos seus seguidores, eis o que estes querem matar.
O mexer dos dedos, o acto de escrever, de criar sem esperar recompensas. A vida, simplesmente a vida. A alegria do renascimento permanente mas também a revolta contra tudo o que nega a vida. A defesa da Criação, a relação do Homem com o Criador, o simples facto de o homem estar à mesa sem pressões nem obrigações. A vida pela vida de que fala Miller, de que fala Nietzsche. O poeta (Jim Morrison) que sobe ao palco para dizer aos que o escutam que deixem de ser escravos, que existe outra via- a via da celebração do milagre da vida. Não mais lágrimas, não mais depressões, não mais castrações. O poeta diz-vos que tudo isso- e também a descrença, o niilismo- são coisas que os mercados e os poderes vos espetam na mente, são também coisas do homem pequeno, do macaco que trepa para cima dos outros e mercadeja. O poeta diz-vos que tendes sido escravos de vós mesmos e da não-vida da economia e da linguagem da economia. O poeta pergunta-vos quanto tempo mais ides deixar que vos ponham a cara na lama, quanto tempo mais ides deixar que vos digam o que fazer. O poeta diz-vos também, com Henry Miller, que está a chegar a hora de vos autolibertardes. Para isso, tendes de matar o instinto de compra e venda, o cálculo dos custos e benefícios, a mentalidade mercantil. Porque tudo isso é primário, pobre, inimigo da vida. Porque tudo isso permitiu edificar esta sociedade podre e sem saída que é preciso derrubar. Em nome da vida.

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