terça-feira, 28 de setembro de 2010

O BIG BROTHER E OS MACACOS

O BIG BROTHER E OS MACACOS



António Pedro Ribeiro



"Big Brother is Watching You". George Orwell no seu esplendor. Contas bancárias vigiadas, todos os passos vigiados, um fiscal em cada esquina. Só falta pagar o ar. À parte uns lampejos de liberdade controlada, que homem é este que estamos a criar? Um homem servil, cheio de medo e, por isso, cheio de invejas e ressentimentos. Um homem pessimista, niilista, o homem da "grande náusea face ao homem" que Nietzsche descreve magistralmente em "Para a Genealogia da Moral". Um homem que não cresce, que não evolui, que se agarra á carteira e à moral do mercado e da mercearia. Um homem mesquinho, pequeno, que se vai adaptando, que vai sobrevivendo, que vai vigiando e maldizendo os seus pares, que não suporta o homem livre, nobre, criador porque o inveja. Chega mesmo ao ponto de se colocar ao lado daqueles que o roubam, que o saqueiam, que o empurram ainda mais para baixo. Não, não é com um homem (e uma mulher) assim que construimos a vida. Não é com macacos vigilantes e mercadores que chegamos às alturas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ÀS VOLTAS, SEM CHETA

ÀS VOLTAS, SEM CHETA



António Pedro Ribeiro



Velhos conhecidos a deambular pelas ruas de Braga. Velhos conhecidos meus a cumprir o dia, às voltas, sem cheta. Da "Brasileira" à Arcada, da Arcada à "Brasileira", às voltas, sem cheta. Nos cafés já mal tolerados, às voltas, sem cheta. Por onde anda a dignidade humana, às voltas, sem cheta? Eis o que o mercado dá, às voltas, sem cheta? Que sociedade é esta que nega o homem, que o atira para a valeta? Quantos Sarkozis há por aí, quantos matam a vida, às voltas, sem cheta? À procura de um canto para dormir, às voltas, sem cheta. Pela cidade à deriva, às voltas, sem cheta. Quanto vales na Bolsa, às voltas, sem cheta? Porque não te fizeste à vidinha, às voltas, sem cheta? Porque não te adaptaste à máquina, às voltas, sem cheta? Quem fez este mundo, às voltas, sem cheta? Quem és tu hoje, às voltas, sem cheta?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

MANIFESTO POR UM PAÍS LIVRE DE POBRES

MANIFESTO POR UM PAÍS LIVRE DE POBRES

POBRES, NÃO! ESTRANGEIROS, NUNCA! ANARQUISTAS, JAMAIS!

Acabou, finalmente, a pobreza, a pedincha e a anarquia dos mesmos de sempre.
Nasce uma Nova Sociedade, inspirada pelo pequeno grande Sarkozy e regida pela ciência aritmética dos mercados, pelas inspiradas leis da indústria, comércio e finança!
Agora, todos os pobres, todos os estrangeiros, os anarquistas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados terão um rumo a seguir. Criaremos novas normas, uma nação nova, leis que todos terão de seguir, de forma ordeira e exemplar, segundo o modelo 2177-A do Diário da Republica - IIª série. Os pobres, os estrangeiros, os anarquistas e os demais, serão examinados cuidadosamente nos Laboratórios da Direcção Geral dos Assuntos Fiscais, para avaliar do seu estado físico, mental e, sobretudo, financeiro.
Os que merecerem a aprovação dos Serviços serão devidamente normalizados, desinfectados e hermeticamente fechados!
O critério fundamental para a aprovação prende-se com a saúde financeira de cada espécimen, de acordo com as seguintes regras:
1 – Só é permitida a estadia em Portugal, aos estrangeiros com emprego, que não tenham dívidas de qualquer espécie, como por exemplo, renda de casa, merceeiro, água, luz, telefone, prestações de carro e electrodomésticos. Também incorrem em expulsão os indivíduos de nacionalidade estrangeira que procurem eximir-se ao pagamento do transporte colectivo, da quota do seu clube de futebol ou qualquer outro pagamento.
2- Todos os pobres nacionais que não tenham emprego, ou incorram em dívidas descritas no ponto 1, perderão a nacionalidade portuguesa.
3 – Não é permitida a estadia em Portugal a indivíduos sem nacionalidade definida.
4 – Todos os anarquistas, iconoclastas, ateus, revoltosos e inadaptados, serão submetidos a exames periódicos por parte do Observatório de Segurança.
5 – Todos os indivíduos referidos em 4, que não corresponderem aos parâmetros estabelecidos pelo Observatório de Segurança, particularmente por representarem um perigo para a ordem pública e a tranquilidade dos espíritos ou se revelarem pobres, perderão a nacionalidade portuguesa.
Todos os indivíduos que sejam expulsos do país, terão direito a uma passagem de avião, só de ida.
Os processos de expulsão democrática serão integrados num nível de gestão industrial, organizada e gerida como uma fábrica de enchidos!!!
Expulsões sim; mas muito humanas, com licença e autorização.
Expulsões, sim; mas homologadas pela ASAE e restantes organismos oficiais
Expulsemos os pobres, os heréticos, os anarquistas e demais espécimen deste tipo e marchemos, cantando e rindo, com as carteiras recheadas!
Mais uma vez daremos o exemplo ao mundo. Construiremos um mundo asséptico e inodoro, onde não cabem os pobres, os estrangeiros se forem pobres, e todos os revoltosos. Todos aqueles que não dão garantias de solvabilidade não interessam à nossa Pátria.
Todos terão de se submeter às leis supremas do mercado.
Só importam os úteis, produtivos e rentáveis!!!

DIRECÇÃO GERAL DA COLONIZAÇÃO DAS MENTES