domingo, 14 de março de 2010

PRIVATIZE-SE O AR!

"Um Governo que privatiza os correios não é socialista". Não é nem nunca foi e esse é só mais um motivo.


A rapina do serviço público de correspondência e transporte de volumes começou há bastantes anos com a chegada da multinacional DHL e, depois outras se seguiram.
Entretanto veio a saga do Banco Postal, com intervenientes vários e que continua sem desenlace; mas decerto que os CTT já arcaram com custos avultados em estudos para o efeito

Anos atrás (governo PSD/CDS) na gloriosa gestão de um tal Carlos Horta e Costa a privatização esteve na ordem do dia. A ideia era vender os postos dos correios aos empregados, podendo estes de seguida rendabilizar o negócio acrescentando ao negócio postal outros mercados, fosse a venda de hortaliça ou serviços de lavandaria. O importante seria desenvolver o espirito empresarial dos compradores.

O mesmo Horta e Costa e outros capangas estão envolvidos num processo judicial que dura há anos por causa da venda por x de um prédio dos CTT em Coimbra a uma empresa imobiliária que logo a revendeu por nx. Estão a perceber? Entaõ percebem também porque ninguém foi preso nem o processo acaba


A propósito, em 2008, o governo socratóide permitiu a entrada de uma empresa - Takargo - no transporte ferroviário de mercadorias, depois da entrada da Fertagus em 1999 no de passageiros.
Entretanto a dívida da CP aumenta e o seu prejuizo acumulado anda perto dos 4000 M euros.
Ah, um pequeno pormenor, a tal Takargo pertence à... Mota-Engil!!!

O mundo é pequeno, não é?

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Um Governo que privatiza os correios não é socialista



Abrir ao capital privado novos mercados praticamente protegidos da concorrência foi uma das linhas de orientação do Novo Trabalhismo de Blair e Brown. A degradação do serviço de caminhos de ferro que se seguiu é hoje um facto incontroverso.

O último episódio da saga privatizadora do Novo Trabalhismo é o serviço dos correios (Royal Mail). A privatização tem sido adiada porque, depois de muitas tropelias na liberalização de alguns serviços postais que dão lucro, encontrou uma forte oposição da opinião pública. Avaliando a fase de 'abertura do mercado', o relatório Hooper afirmava "não ter havido benefícios significativos da liberalização para as pequenas e médias empresas e para as famílias. Estes acreditam que o serviço da Royal Mail oferece uma boa relação qualidade-preço tal como está."

Contudo, a percepção do público é muito mais desfavorável que a linguagem cautelosa do relatório oficial. Em artigo no Guardian, Seumas Milne escrevia: "Longe de "funcionar" ou prestar o serviço, a abertura de alguns segmentos às empresas privadas está a destruir uma rede pública que está no coração dos negócios e da vida social da Grã-Bretanha."

Este último aspecto é central para compreendermos por que razão os socialistas nunca privatizariam os correios. Recordo aqui um livro de Jean Gadrey (Nova Economia Novo Mito, Instituto Piaget) onde se lê o seguinte sobre o serviço prestado pelos correios (p. 149):

"Em geral, esta organização é um serviço de proximidade que, em particular no quadro das suas estações e dos seus balcões, recebe "o público", todos os públicos. A qualidade deste acolhimento é diversa e por vezes problemática em termos de expectativas, mas algo de importante se desenrola ali, que de novo tem a ver com os laços sociais: os agentes no balcão consagram uma parte considerável do seu tempo a ajudar pessoas com dificuldades ou "deficiências diversas" (analfabetismo ou dificuldades de compreensão dos procedimentos, pobreza, isolamento...), ligadas a formas de exclusão identificáveis. (...) A organização tolera por enquanto estes comportamentos não rentáveis ... também porque o monopólio que ela detém sobre uma parte das suas actividades ainda lhe permite libertar os recursos necessários. Mas já surgem pressões para os reduzir. (...) Assim, esta empresa [pública] contribui para produzir integração social, que consideramos um bem colectivo a dois níveis, territorial por um lado, social por outro, a fim de manter a ligação da população às redes constitutivas da pertença a uma sociedade desenvolvida que são o correio, o vale do correio, a conta postal ou a caderneta A [serviços financeiros básicos em França]."

Se a coesão social está no âmago do pensamento socialista, então só posso esperar que os socialistas deste País não deixem passar à prática a anunciada intenção do Governo de privatizar os correios de Portugal. Há certamente outras fontes de receita. Apenas é preciso ver com atenção o que se passa com os rendimentos do capital e com os negócios da urbanização de terrenos.
Os socialistas têm de levantar-se e dizer "BASTA, os Correios de Portugal são nossos"!

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