sábado, 6 de fevereiro de 2010

POETA MALDITO


Sou um poeta maldito. São os jornais que o dizem, não sou eu. Venho para junto da mulher. Não sou como os outros. Olho para ela. Mas não tenho aquele paleio fácil, aquelas frases a propósito. A palavrinha a encaixar no verso. Não sou desses poetas. Escrevo o que me vem à cabeça. Não invento. Sou cru e directo. Quero as mulheres bonitas. Quero mesmo. Não sou de palavras fáceis. Sou do céu e do inferno. É esse que sou. Não tenho de fingir. Sou um actor mas não tenho de fingir. Movimento, ajo, gingo. Sou aquele que esperas. Aquele que já foi ao fim várias vezes. Aquele que, mais tarde ou mais cedo, os media revelam. Sou um mau rapaz, como dizia o AMR. Deixei de fazer o que a mãe diz. Deixei aos 18 anos, há 23 anos. Estou à procura da revolução, à procura de uma estrela. Olha, até olho para as telenovelas. Para ver como vai o mundo. Preciso saber como vai o mundo, sabes. Preciso de me rir. Preciso de ser eu mesmo. Preciso de saber lidar com a fama. Sou o poeta maldito, dizem. Vou sê-lo até ao último dos meus dias. Sou também o animal de palco. Duas cervejas perdidas ao balcão. A menina esqueceu-se delas. A mulher protesta por causa do preço do pão. A menina é boa como as da televisão. A minha foto nos jornais com a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" na mão. Às vezes pegam, outras não. Há que saber aguentar. Só digo certas coisas em público porque me batem palmas. Se vier alguém falar comigo eu converso. Fico com o verso. O caderno do "Espero por ti, Goreti" está a terminar. Sou do mundo. Sou da porra deste mundo. Os negócios do mundo não me interessam. Mas há uma data de clientes a protestar contra o preço e a qualidade do pão. O negócio da menina bonita não corre bem. Ainda não provei o pão. Nem a menina bonita. As contas do mundo não me interessam. O homem livre não faz contas. Procura. Perfura. Faz-se feliz.

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