quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A LEI DA ROLHA

"Acto de medo e de censura" que origina "suspeição" e "desconfiança". É assim que os subscritores do Manifesto Anti-Silêncio na Câmara de Coimbra classificam a decisão do executivo municipal de afastar a comunicação social das reuniões camarárias fechadas, às quais, nos últimos 20 anos, os jornalistas sempre tiveram acesso. O documento de protesto, que foi tornado público ontem, é assinado por várias figuras políticas de esquerda da cidade, que dizem que a autarquia se está a transformar num bunker. Paulo Ricca


Jornalistas passam a assistir apenas a reuniões abertas ao público
O primeiro subscritor do manifesto é o ex-vereador do PS na Câmara de Coimbra João Silva, que assume a iniciativa como uma "tomada de posição cívica" que reúne "várias vozes da cidade". O objectivo é "censurar publicamente" a decisão aprovada pelo executivo camarário, liderado por Carlos Encarnação. "Este manifesto é um acto de cidadania devido a Coimbra. Não sabemos como vai evoluir, mas o objectivo principal é não deixar passar em claro uma decisão como esta", defende João Silva.

Entre os cerca de trinta assinantes há várias figuras ligadas ao PS, como o ex-presidente da autarquia, Manuel Machado, a ex-vereadora Teresa Alegre Portugal e o actual vereador no executivo, Carlos Cidade. Mas há também outras figuras ligadas à política e à sociedade civil, como o actual líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), José Manuel Pureza, o professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, José Reis, e a presidente da direcção da associação cívica Pró-Urbe, Ana Pires.

José Manuel Pureza, líder parlamentar do BE, considera que a posição da autarquia "não faz qualquer sentido" e mostra-se preocupado com os efeitos que pode ter "na saúde da democracia local". "O debate público sobre as questões municipais já é reduzido. Esta decisão ainda vem agravar mais esse fechamento do poder local em Coimbra que se tem acentuado muito nos últimos anos", lamenta. Por não perceber as "razões" que estão na base da posição da autarquia, José Manuel Pureza considera que a decisão do executivo liderado por Carlos Encarnação "é estranha" e "pouco saudável".

Uma opinião partilhada pela presidente da associação Pró-Urbe, Ana Pires, que olha para a decisão como uma atitude de "desrespeito em relação a todos os cidadãos" de Coimbra. "É uma atitude inadmissível. Do que é que têm medo? O que é que se pretende esconder? Porquê fechar a porta aos jornalistas?", questiona Ana Pires, dizendo estar "incomodada" e "desgostosa" com a decisão.

A deliberação que decretou o afastamento da comunicação social das reuniões camarárias fechadas, colocando Coimbra numa situação idêntica à da esmagadora maioria das autarquias do país, rompe com a tradição que vigorava na autarquia desde o início da década de 1980. A partir de agora, os jornalistas podem apenas assistir às reuniões públicas - as primeiras de cada mês -, abertas a todos os munícipes. E, no final de todas as reuniões, o presidente da autarquia passa a realizar encontros com a comunicação social para falar sobre as principais decisões.

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