terça-feira, 8 de setembro de 2009

A PRIMEIRA VISÃO

Braga, 6 de Setembro de 1990. Um homem sai de casa, na rua Nova de Santa Cruz, com uma faca de plástico no bolso. Dirige-se à redacção do já extinto jornal "Minho", cujo director o tinha desafiado a escrever um texto crítico acerca do hipermercado "Feira Nova", que tinha deixado de pagar a publicidade ao jornal. O homem, então com 22 anos, vinha de um concerto com a banda "Ébrios" na discoteca "Função Pública" e tinha recebido uma proposta do seu amigo Jaime Lousa para entrar num filme onde se deslocaria ao "Feira Nova" para comprar um ovo. O homem, em vez de escrever o artigo, decidiu distribuir panfletos anti-consumistas e a favor dos pequenos comerciantes no "Feira Nova", tarefa em que foi auxiliado por elementos indicados pelo jornal "Minho". Durante a tarde, começaram a correr pela cidade boatos, veículados pela comunicação social local, de que o Che Guevara tinha mandado fechar o "Feira Nova". O homem ia na rua e sentia que as pessoas o olhavam. Duas beatas largaram as compras e começaram a gritar apavoradas "é o Che! É o Che!", velhotes faziam-lhe continência na avenida, operários largavam as obras à sua passagem. O homem começou a convencer-se de que era mesmo o Che Guevara. Dirigiu-se à "Brasileira", onde começou a dar vivas à revolução. O homem estava convencido de que estava a fazer a revolução. E esta foi a primeira visão.

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