sexta-feira, 24 de julho de 2009

UM SENHOR, DE QUALQUER FORMA

Parlamento
Manuel Alegre: "Foi uma honra ter sido deputado durante 34 anos"
23.07.2009 - 18h55 Lusa
O socialista Manuel Alegre despediu-se hoje do Parlamento, manifestando-se honrado por ter desempenhado a função de deputado durante 34 anos e declarando que sai como entrou, a combater por uma democracia onde os direitos políticos e sociais sejam inseparáveis.

"Foi uma honra ter sido deputado durante 34 anos", afirmou o histórico socialista numa declaração na última sessão plenária da X Legislatura. Reafirmando que se despede da Assembleia da República por "decisão pessoal", Manuel Alegre garantiu que sai a combater pelas suas ideias.

"Saio tal como entrei, combatendo pelas minhas ideias e por uma República moderna, em que a democracia política se conjugue com a democracia económica, a democracia social, a democracia cultural e os novos direitos civilizacionais (...), por uma democracia onde os direitos políticos sejam inseparáveis dos direitos sociais consagrados na Constituição da República", declarou, lembrando que foi esse o sonho dos deputados constituintes.

Pois, acrescentou, tal como há 34 anos, é sua convicção que "o esvaziamento dos direitos sociais implicará sempre uma diminuição dos direitos políticos e um empobrecimento da democracia". Recordando que pertence a uma geração que nasceu em ditadura, quando existia "uma caricatura de Parlamento", o deputado e poeta Manuel Alegre deixou ainda alertas sobre as cedências do Parlamento ao populismo, sublinhando que, quando tal acontece, o populismo sai reforçado.

O crescente "divórcio" entre os cidadãos e os políticos mereceu igualmente uma referência por parte de Manuel Alegre, que alertou que o combate a esse problema só é possível com "uma intransigente prática republicana, com espírito serviço de público, com transparência e fidelidade à palavra dada perante os eleitores".

"Honrar e prestigiar Parlamento é honrar e prestigiar a democracia", enfatizou
Trinta e quatro anos depois, Manuel Alegre lembrou também o primeiro dia em que entrou no Parlamento, altura em que recebeu de Salgado Zenha uma brochura sobre "a mais bela função do mundo". "Tal como então, continuou a pensar que a função de deputado continua ser mais bela função do mundo", salientou.

Numa intervenção que apenas não mereceu os aplausos da bancada do CDS-PP, com os restantes parlamentares todos a levantarem-se para bater palmas a um dos fundadores do PS, Manuel Alegre deixou uma palavra especial para os seus "companheiros" da Constituinte e que ainda se encontram na Assembleia da República: os socialistas Jaime Gama e Miranda Calha, o social-democrata Mota Amaral e o comunista Jerónimo de Sousa.

Adelino Amaro da Costa, Francisco Sá Carneiro, Mário Soares, Francisco Salgado Zenha, Álvaro Cunhal, Carlos Brito foram ainda outros nomes destacados por Manuel Alegre, que recordou o sonho que tinha há 34 anos de, pela primeira vez na história, se construir uma "democracia socialmente avançada". "Tal como então, e perante a grande crise mundial, continuou a acreditar que esse projecto não é só possível, como cada vez mais necessário e urgente", disse, prometendo continuar fiel à liberdade e à democracia. "Como há 34 anos, saio desta casa, a casa da democracia, fiel à República, à liberdade, à democracia e ao socialismo e, sobretudo, fiel a Portugal e ao povo português", sublinhou.

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