terça-feira, 30 de junho de 2009

THE REVOLUTION WILL NOT BE TELEVISED

The Revolution Will Not Be Televised

Ao longo da história sonegada do século transacto, o grande desejo das sucessivas administrações dos EUA, como império moderno, é o de dominar todo o continente latino-americano, não se contentando apenas em considerá-lo o “quintal da sua casa”.

O império é conquista e ataque, controlo e segredo.

Desde 1946, os Estados Unidos tentaram derrubar mais de 50 governos, muitos deles eleitos democraticamente.

Nessa guerra obscura, 40 países foram atacados e bombardeados, e no poder foram colocados ditadores ou líderes pró-americanos ao serviço dos EUA e das suas multinacionais, deixando um rasto de inúmeras vidas que se perderam iniquamente.

Dentro do seu domicílio, a justificação para a “guerra suja” era arrebatada com a psicologia das multidões: uma campanha para criar a sensação de terror, de ameaça constante, uma paranóia que se transformou numa super-cultura chamada “Anti-comunismo”.

No final dos anos 80, a política de Washington mudou. Ditadores como Pinochet passaram a ser vistos como uma vergonha desnecessária. Foi, então, lançada uma forma inovadora de controlar as nações da sua horta. Um programa com visão e propósitos nobres, o Programa Nacional para a promoção da democracia.










O estabelecimento deste programa é o principal objectivo dos ideais americanos e das suas instituições, uma ilusão de marketing. Esta flamejante “democracia” pressupõe que, seja quem for em quem se vote ou ganhe as eleições, as políticas vão ser as mesmas, e a economia do país vai ser moldada pela dos Estados Unidos. Washington vai ser um amigo íntimo, uma iminência menos parda, mais sofisticada e cínica, brandindo toda a arte de branding americana para vender a sua asquerosa e sanguinária marca: “democracy”. Franchising da política, carimbado pelo dólar, e com os logótipos das suas grandes corporações.

Nos anos 90, estas democracias substituíram as ditaduras na América Latina.

Retirado de uma música/poema de Gil Scott-Heron, The Revolution Will Not Be Televised é uma visão, com acesso ilimitado, ao golpe de estado ao governo de Chavez em Abril de 2002.

Os realizadores irlandeses Kim Bartley e Donnacha O'Brian viajaram para a Venezuela para filmar um documentário sobre o carismático e polémico presidente Hugo Chavez nos seus primeiros anos de presidência da 4ª nação exportadora mundial de petróleo e de importância vital no fornecimento a baixo custo aos EUA.

Retratam Hugo Chavez – por vezes, com um favorecimento notório – como um colorido herói popular, amado e idolatrado pela classe trabalhadora, pobre e miserável, e odiado por uma estrutura de poder de magnatas petroleiros e a alta classe que o adorariam ver deposto.





Na base desta dicotomia estão os seus planos sociais: educação e saúde sem custos, distribuição dos proventos do petróleo, e criação de um espectáculo da democracia popular, com a rábula televisiva semanal onde Chavez vende a sua imagem de patrono do povo.

Em Janeiro de 2002, Chavez lançou um novo plano de reestruturação da empresa estatal de petróleo, e a crise instalou-se. Volvidos três meses, estes realizadores acabaram por testemunhar o enredo maquinado, culminado num golpe de estado falhado, promovido pelos media privados, orquestrado pela classe do petróleo e com financiamento dos EUA.

Este documentário resultou numa brilhante peça de jornalismo, mas também num espantoso retrato do conflito de forças na Venezuela. De um lado, as classes que vestem Versace, desde há décadas inchadas de lucro petrolífero, do outro, os pobres e miseráveis sem outro horizonte que as suas favelas.

O documentário recebeu 12 prémios e 4 nomeações.



The Revolution Will Not Be Televised

Kim Bartley, Donnacha O'Brian (Venezuela)

2002
tempo: 74 min

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