quinta-feira, 25 de junho de 2009
O NOVO LIVRO
Hoje começo um novo livro. Há já algum tempo que os poemas vêm como que em capítulos. Hoje escrevo claramente em prosa. E a Tatiana lava a máquina de cortar fiambre. Há simpatia mas não consigo manter um diálogo com esta gente. A culpa é minha. Sou tímido e cultivo uma certa distância. O que também tem as suas vantagens. De vez em quando, como ontem, aparece um gajo a meter conversa. Este dizia disparates mas também disse algumas verdades. Até achei piada ao homem. Acho que vou voltar lá ao café por causa disso. A Gotucha está aflita com o relatório. E eu voltar a Paredes de Coura com a Mana Calórica. Não sei é das letras. Vou ter de as copiar do youtube e do myspace.
Hoje começo um novo livro. Já posso falar assim. O homem de ontem chamou religião ao futebol. Não é qualquer um que o diz. Exagerou nas doenças, mas enfim lá terá tido alguma doença grave. Mas o homem que falou antes dele, esse sim, era um senhor. Aquilo é que é o dom da palavra e a serenidade em pessoa. Pessoas que dá gosto ouvir. O poeta tem de ouvir essas pessoas e falar com elas. Não importa a distância que tem de percorrer. Aqueles empregados do "Guarda-Sol" com que falo também têm qualquer coisa. A maior parte das pessoas estão muito fechadas nelas próprias e na vidinha que levam. Limitam-se a dizer o que toda a gente diz, não são personagens de Henry Miller. E é esta a minha missão. Ouvir o mundo. Falar com os meus companheiros, estejam onde estiverem. Compreendo hoje que as minhas crises de euforia, que as minhas alucinações, fazem parte do processo de criação. Quando parti os vidros dos carros em Vila do Conde estava a descarregar tudo tudo o que se passou em Paredes de Coura, era Jesus Cristo a expulsar os vendilhões do Templo, a partir tudo em redor do Templo. Não presto adoração a nenhum Templo, a não ser o Templo do Amor e da Liberdade. Para o cidadão comum tudo isso é loucura. E talvez seja. Mas talvez a estrada da loucura seja a estrada do sublime. E eu nessas ocasiões sou o xamã: aquele que comunica com os deuses e com o espírito.
Hoje começo um novo livro. Não preciso de Deus. Já disse: Deus expulsou-nos do Paraíso. E eu quero o Paraíso de volta. QUero o Paraíso de volta, ouviram? É o Paraíso e só o Paraíso que me interessa. Todo o vosso dinheiro não compra o Paraíso! Todo o vosso dinheiro de pouco ou nada vos vale. Esta é a verdade. Agora sim. Estou lá próximo. Estou às portas do Paraíso.
Hoje começo um novo livro. Sinto-me próximo de Blake, de Morrison, de Nietzsche. Escrevo profeticamente no meio de uma confeitaria de Vilar do Pinheiro. Escrevo e sei que vou ter leitores. Escrevo e sei que posso mudar o mundo. Escrevo e acredito. Sou um louco divino. Não tenho de ser humilde. A humildade é própria do rebanho. Sou um louco divino. Mais uma caneta que dá o berro. Escrevo e as canetas cada vez duram menos tempo. Escrevo e desgasto o instrumento de trabalho.
Hoje começo um novo livro. Tenho permanecido na aldeia. Só vou à cidade duas vezes por semana. E sinto-me bem. Sinto-me próximo dos deuses. A rádio passa as músicas da adolescência. E eu flutuo, como a Carlinha. Olho para as horas. Nem sequer devia ligar a isso. Deveria ser o homem inteiramente livre. Sem qualquer limite, sem qualquer preconceito. Mas continuo preso á Terra. Se bem que os negócios dos homens nada me digam. Se bem que os discursos dos políticos cada vez me passem mais ao lado. É necessária uma nova linguagem. Uma linguagem profética. É necessário subir ao palco e dizê-la.
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