quinta-feira, 28 de maio de 2009

A VIDA É DE GRAÇA


A vida foi-me dada gratuitamente
pelos meus pais
não tenho de pagá-la

não me conformo a ser governado
por bolsas, bancos, estatísticas e contabilistas
que nada me dizem
nem sequer tenho conta no banco!

Não nasci para isto
não sirvo para isto
largai-me, ó democratas de rebanho
largai-me, ó burocratas do partido!
O meu partido é o partido da vida
não aguento mais os vossos discursos
não aguento mais as vossas falinhas mansas
ficai na vossa
ficai na fossa
que eu fico na minha

Não sou colectável
não sou rentável
não sou mercadoria
largai-me, ó merceeiros
largai-me, ó trapaceiros
largai-me, ó economistas
estou farto das vossas teorias, dos vossos
gráficos e das vossas curvas
podeis ir todos dar uma curva!
Estou farto desta merda!
A vida só pode ser gratuita
quero gozá-la livremente
quero curtir a minha gaja
não tenho que vos pedir licença
não tenho que vos adular
não tenho que vos pagar a ponta de um chavo
não pago!
Recuso pagar a minha vida
rejeito a mera sobrevivência
não tenho de trabalhar para ninguém
a vida é de borla
a vida só pode ser de graça
como quando nasci
porque raio não hei-de querer a gaja
que está à minha frente?
Porque raio não posso amá-la?
Há alguma lei que o impeça?
Não tenho de me sentir culpado
por coisa nenhuma
não tenho de me sentir diminuído
ou deprimido por coisa nenhuma
estou vivo, porra!
Não me entreguei ao mercado
não me diluí na televisão
não voto no grande cabrão
não me deixei levar pela engrenagem
continuo na vadiagem
estou vivo, porra!
Não troco a vida por coisa nenhuma.


Vilar do Pinheiro, "Motina", 28.5.2009

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

nem eu, peter, nem eu...

csd