segunda-feira, 20 de abril de 2009

O FUTEBOL E A POESIA


Os poetas deveriam ser pagos a peso de ouro como os futebolistas. Qual a diferença entre escrever um poema e marcar um golo ou fazer uma finta. Qual é que custa mais? Qual é que dá mais trabalho? Qual é mais útil ao Homem, o futebol ou a poesia? Na antiga Grécia e em Roma os poetas eram tratados como reis, recebiam coroas de louros tal como os atletas olímpicos. O que é que mudou entretanto? A verdade é que o futebol se tornou numa questão de vida ou de morte, numa nova religião que movimenta milhões. Esclareça-se que o autor destas linhas até gosta de futebol, antes que seja crucificado por uma legião de adeptos fanáticos. Repara-se no tempo que as estações televisivas dedicam à antevisão dos jogos. Tudo é escalpelizado. Elaboram-se teses filosóficas sobre as chuteiras e as cuecas do Ronaldo, sobre as tácticas e as técnicas, sobre os automatismos e as linhas de passe, sobre o estado do relvado, só falar na altura dos postes e no volume da bola. Os jornais desportivos diários inventam notícias, fazem entrevistas exaustivas a jogadores e treinadores onde estes dizem invariavelmente as mesmas coisas, autênticos hinos à inteligência e à sabedoria. "Jogámos bem, demos o máximo. Merecemos ganhar. Jogámos com uma grande equipa. Perdemos porque o árbitro nos roubou um penalty". A partir destes depoimentos os jornalistas fazem prosa poética, inventam títulos, constroem romances e telenovelas. O jogo, às vezes, torna-se secundário. O que importa é o antes e o depois, as reacções, as teses filosóficas. E, no entanto, não passa disso mesmo, de um jogo. É como ir jogar ao Casino. Ganha-se ou perde-se. A verdadeira vida é muito mais do que isso e, se calhar, está muito mais na poesia.

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