terça-feira, 14 de abril de 2009

DÁS-ME PEDAL


Abro a segunda página. Faltam-me uns finos para o triunfo ser total. Falta quem mos pague. A menina bonita de amarelo levanta-se. Estar no "Piolho" é como estar na "Brasileira". A coisa flui, vai fluindo. As praxistas, as doutoras Marlenes, posicionam-se à entrada. Uma delas beija um não trajado na boca. A religião não é exclusivista. E eu, ao fundo, tenho de contentar-me com um fino. Que se há-de fazer? Dão-se as mãos. Namora-se. E vai-se publicando estas merdas. Algumas delas íntimas. Quem as lê? Entram mais gajas bonitas. Cofio as barbas. O empregado cumprimenta-me. Quando fizeram a reportagem sobre os 100 anos do "Piolho" os gajos do "Jornal de Notícias" poderiam ter recolhido um depoimento meu. Teria estórias para contar. Um cu bom atravessa-se à minha frente. Uma gaja chama pelo empregado. Qual o valor destes escritos? Para que servem? Estou com algum pedal. É inegável. Dás-me pedal. Levantei-me cedo hoje. Fui ao hospital. Dás-me pedal. Não estou nada mal. Mais gajas que se despem. Dás-me pedal. Beijos, carícias. Dás-me pedal. Falta o Do Vale. Dás-me pedal. Agarrada ao telemóvel. Dás-me pedal. Entra o gerente. Dás-me pedal. Entram mais gajas. Dás-me pedal. Mostram o umbigo. Dás-me pedal. Já tenho gaja. Dás-me pedal. Já posso cantar. Dás-me pedal. O capitalismo lá fora. Dás-me pedal. A minha casa de Braga. Dás-me pedal. Farra até às tantas. Dás-me pedal. A comunidade. Dás-me pedal. Faltam-me uns finos para o triunfo ser total. Dás-me pedal. A gaja de amarelo que regressa. Dás-me pedal. Sabes, eu tinha e acho que ainda tenho aquela mentalidade freak. Dás-me pedal. Convidava toda a gente a ir a minha casa. Dás-me pedal. Emprestava a chave às pessoas. Dás-me pedal. Nunca fui esquisito nesse campo. Dás-me pedal. Era mesmo a casa da Maria Joana. Dás-me pedal. E agora parecia mesmo a Paula. Dás-me pedal. Fiquei com uma mentalidade diferente, libertária, sabes. Dás-me pedal. E continua a entrar gente. Dás-me pedal. E sentam-se os campistas. Dás-me pedal. E a gaja come a sopa. Dás-me pedal. Nunca fui um gajo equilibrado. Dás-me pedal. O mendigo lá fora. Dás-me pedal. O poeta que mija. Dás-me pedal. Não me lembro de ter uma mentalidade capitalista. Dás-me pedal. Vou dar 50 cêntimos ao mendigo. Dás-me pedal. O empregado traz as francesinhas. Dás-me pedal. Nem sequer suporto as palavras. Dás-me pedal. Até sou um bocado anormal. Dás-me pedal. Nem sequer torço pelo futebol nacional. Dás-me pedal. E o Do Vale a caminho do Natal. Dás-me pedal. E até nem se está nada mal. Dás-me pedal. E o sorriso do Cabral. Dás-me pedal. E o Jesus Cristo no bacanal. Dás-me pedal. Braga a capital! Dás-me pedal. E acabo triunfal!

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