terça-feira, 7 de abril de 2009
AMOR, LIBERDADE, REVOLUÇÃO, POESIA
Um "dragão" invade o café e cospe fogo. O gajo ao meu lado lê o "Jornal de Negócios". Bebidas alcoólicas só depois das 12 horas. Nada de bebedeiras matinais. Aqui no "Orfeuzinho" reina o bom senso. E ainda não chegou o homem da concórdia. O "dragão" saiu. O autocarro visa o Viso. Na TV discute-se o Sócrates. O primeiro-ministro vigarista já deveria ter caído. Além de vigarista, tem tiques ditatoriais. Desta vez ainda vou votar por causa do Sócrates. Vou fazer campanha contra ele em vez de apelar à abstenção. Vou dizer muitas vezes a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro". É importante que Sócrates caia. Mas o povo continua a discutir futebol. Volta, Rocha, estás perdoado! O futebol é o ponto de encontro entre clientes e empregados. E a gaja mostra a tatuagem nas costas. Estou só mas sinto-me bem. Ontem estive em Famalicão com a Claudinha. A Gotucha vem na quarta. Chega o figurão do boné. Certamente também vai opinar acerca da situação futebolística nacional. O Rocha, se estivesse cá, também o faria. O empregado saúda o doutor. O Zé do Boné senta-se. Chegou o homem da concórdia. Certamente irá discorrer sobre a fraternidade e a paz universal. Certamente irá apelar aos bons sentimentos. Eu, pelo contrário, como dizia Nietzsche, só vejo macacos a trepar uns para cima dos outros em busca da banana. É a competição em todos os sectores da sociedade. Esta é a sociedade do homem pequeno e do homem rejeitado que fica à margem, a dormir nas ruas. Esta é a sociedade dos danados. O Estado já não se lembra deles. Resta apenas a caridade. Mas a dignidade do homem não se restitui com umas sopas. Esta é a sociedade da luta diária nos empregos pelo lugar, pela promoção, pela obediência ao chefe. Esta é a sociedade capitalista. A sociedade onde os macacos se agarram à maioria, à maioria da massa imbecil. A maioria transmite-lhes segurança mas as coisas começam a mudar. Há manifestações anti-capitalistas em Londres, Paris, Berlim, Atenas. Não são só aumentos salariais que estão em causa. Está em causa o Homem, está em causa a Vida. A vida que não pode ser a vida dos economistas, do mercado, do dinheiro. A vida que não pode ser servilismo a nenhum deus. Daí o papel do amor como forma de resistência. O amor dos amantes, o amor louco, a fraternidade. Amor, liberdade, revolução e poesia. Eis as palavras de ordem dos surrealistas.
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