domingo, 22 de março de 2009

O SENHOR PROFESSOR DE BASILEIA


O senhor professor de Basileia pede mais um café. É um animal de café. EScreve no café. Não passa o dia emborrachado mas não se importava de passar. Escreve sobre a vida quotidiana. Tem saudades do Rocha. O Rocha que pôs fim à amizade. As velhas falam de compras e vendas. Não páram de falar. O senhor professor de Basileia já não dá aulas. Recebe uma pensão. Vem ao café provar a vida. Espera pelo café da menina. O senhor professor de Basileia é um incompreendido. Lê livros que quase ninguém lê. As conversas quotidianas do rebanho não lhe dizem respeito. Escreve sem parar. Escreve com o próprio sangue. Ouve as conversas. Passa ao lado das conversas. A menina do café sorri. O senhor professor de Basileia traz a revolta contra o espírito da gentalha mas não deixa de ser amável. Ouve a música. EStá no sec. XXI. Aqui as pessoas tratam-no bem. Há quem lhe chame santo. Tem muito a dizer do muNDO: diz que temos de amar a Terra mas que este ainda é o tempo do homem pequeno. A menina esqueceu-se do café do senhor professor mas pede desculpa e trá-lo. O senhor professor de Basileia tem ideias sublimes. Pensa no Super-Homem que dominará a Terra. Pensa no espírito livre, no Artista que enfrenta o perigo. Pensa no menino e no bailarino. Pensa que é preciso combater os profetas da morte, os economistas. Pensa que é preciso abandonar o espírito merceeiro, das pequenas vantagens, do rebanho. O senhor professor de Basileia bebe café. Não prega a igualdade. Entende que há espíritos nobres que se destacam dos outros. O senhor professor de Basileia é amável. Fica horrorizado se vê maltratar um animal. O senhor professor de Basileia ama a Vida, é um afirmador da Vida. O senhor professor de Basileia escreve. De vez em quando desce à cdade. Observa as gentes. Poderia discursar para elas. Não o faz. Prefere um pequeno núcleo de fiéis. O senhor professor de Basileia é um filósofo. Vocifera contra o dinheiro, rasga as notas em público, critica os escravos do deus-dinheiro e da posse. O senhor professor de Basileia aparentemente leva uma vida pacata mas é um vulcão. O senhor proclama a morte de Deus e do deus-dinheiro! Diz que esses deuses são um apelo ao servilismo. Diz que amaria um Deus que dançasse como Zaratustra. O senhor professor de Basileia vê cair a noite e não se pronuncia. O senhor professor de Basileia é um profeta.

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

belíssimo conto.

parabéns.

agora só precisas de fazer mais vinte iguais a estes antes de 12 de Abril para poderes concorrer ao prémio literário carlos de oliveira.

são 5 mil euros....


:-)

(olha a serpente da Tentação a tentar corromper o profeta...)


CSD