domingo, 15 de março de 2009

NOITE FORA


Ontem andei noite fora. Cerveja após cerveja sem parar. Já não fazia isso a algum tempo. VI-me com algum cacau nos bolsos e pronto. Vi as mulheres insinuarem-se. Vi o jogo dos olhares. Noite fora. Alguns amigos e amigas. Falar com eles, ficar calado, depois deixá-lo. Ser o gajo que dança. Na minha. Dançar ao som da música. Vadiar. Encontrar este e aquela. Vender livros. Andar à solta pela cidade. Sem horas. Deixar a vida correr. NOite fora. COmo um dandy. Um libertino contra a corrente. Que vai apresentar os seus manifestos ao Gato Vadio. Houve diálogo, participação. A coisa correu bem. Rasguei a nota em público. Estou bem. As empregadas da "Motina" cirandam e riem. Ontem andei noite fora. Estoirei o dinheiro todo e não estou arrependido. A Cláudia que me desculpe. Apesar de ter as minhas depressões, houve sempre noites em que pus à prova os meus limites. Há um livro novo. Há uma namorada(não sei até quando ela me vai aturar...). Ofereci um livro a um jornalista do "Jornal de Notícias" que tinha escrito sobre mim. Fiz bem, já diz o Oliveira. O que interessa é que a coisa corre. Noite fora. Até presto mais atenção às conversas. Porque raio me hei-de diminuir perante os outros? Há sempre os que se safam sempre. Não pertenço a essa tribo. O rapaz pede as guloseimas. E eu escrevo. Estou condenado a escrever. Mas hoje escrevo com vontade. O que importa é manter o ritmo. E dizer umas coisas sobre as gajas. As gajas ontem na "Tendinha" apareciam por todos os lados. Carne que se dá e se mistura. Sou o poeta. O poeta que escreve e está só ao fundo da confeitaria. Sou o poeta que observa e anda noite fora. Bebo cerveja após cerveja, sem parar. A Gotucha liga e eu quase não consigo ouvir por causa do barulho da multidão à porta do "Piolho". A rádio passa música melada. E eu continuo a escrever porque não consigo fazer outra coisa. Não tenho conseguido escrever aquelas coisas com piada, que fazem rir a audiência. Mas que se foda! O que importa é que continuo a escrever. Passei uns dias em que não saía nada. Sou o poeta que observa as empregadas de amarelo. Vão-me convidando para ir a uns lados. Só é pena que o Rocha tenha deixado de ser meu amigo. Coisas do Rocha. Também não vou andar a mendigar. O Rocha que fique sozinho com as suas análises sociológicas. O Rocha é um egoísta. O Rocha é um preconceituoso. Raios partam o Rocha! Que fique com todos os futebóis e todas as tácticas! Ó Rocha, tu não me fazes falta nenhuma! Apesar de tudo, tenho saudades tuas, ó técnico. O meu livro fala de ti mas já não to dou. Sinto uma estranha alEgria. Uma sensação de dever cumprido. Apetece-me saltar, dançar, dar berros de contentamento. Hoje o dia começou tarde. Mas sinto-me realmente bem. Apetece-me rasgar notas. E lá entra a Maria. Aproximam-se as horas do fecho. A música puxa por mim. Estou cheio de speed. Quem diria. As depressões estão a conhecer estranhas variações. Cumpri uma semana exigente. É claro que há sempre quem discorde das minhas posições acerca do dinheiro, do mercado e da economia. Há sempre uns merceeiros e uns economistas. Morte à economia! Merda de praga que está por todo o lado. Ontem andei noite fora. Hoje escrevo. Sinto-me bem mesmo estando sozinho. Há uns tempos que não me sentia assim. Nietzsche está em mim. Digo sim à vida, aos afirmadores da vida, aos que têm o sentido da Terra. Afastai-vos profetas da morte, economistas! Vós que trazeis a linguagem do servilismo, das décimas, das estatísticas. Vós que provocais a crise com o vosso jogo das bolsas. Vós que sois o absurdo.

1 comentário:

Claudia Sousa Dias disse...

eu desculpo, sim...

não tenho a pretensão de tentar mudar-te...

csd