Sim, sou um poeta de café. Só consigo escrever no café. Muito raramente escrevo em casa. Ir ao café não é só tomar café. Estar no café é observar as coisas, as pessoas, encontrar amigos e conhecidos e alguns chatos que nos vêm foder a cabeça. É ler e criar, trabalhar até. Faço do café o meu escritório. Estar no café é estar só, é tocar a vida (à falta de gajas que se deixem apalpar...). Estar no café é olhar para as gajas, oferecer-lhes poemas, flores, fazer-lhes declarações de amor, desejá-las. Estar no café é olhar para os bêbados. Invejar-lhes a coerência. Beber copos também. Apanhar borracheiras quando há cacau ou quando alguém paga. Estar no café é ouvir a conversa dos empregados e das empregadas que dizem aquelas coisas óbvias do senso comum como, por exemplo, que a vida não está fácil para ninguém mas que não se pode estar parado. Parar é morrer- já dizia o outro. Mas estar no café também é estar parado e cumprimentar a D. Rosa que nos saúda afectuosamente, religiosamente. Estar no café é ouvir os U2, que tocam "With or Without You" e nos fazem pensar na gaja. Se não permanecesse tanto tempo nos cafés seria outro que não sou. Herdei a coisa do meu pai. Sim, sou definitivamente um poeta de café e até um revolucionário de café, com todo o gosto. Aliás, não compreendo bem os poetas e os revolucionários que não vão ao café.
Inspirado na tertúlia das Quartas Mal Ditas no Clube Literário do Porto sobre os cafés com Manuel António Pina e Tomás Magalhães Carneiro (revista "Um Café"), organizada por Anthero Monteiro.
1 comentário:
é um trabalho interessante.
aliás, não é trabalho, é prazer.
Já não posso é dar-me ao luxo de o fazer a tempo inteiro.
Mas amanhã de vou tirar a desforra...
CSd
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