sábado, 30 de agosto de 2008

NUNO JÚDICE


Viagem (Nuno Júdice)

Podia dizer que foi nesta tarde, nesta cidade, ou
noutro lugar qualquer, que imaginei a solução:
mudar de tarde e de cidade, e encontrar a razão
para estar noutro qualquer lugar onde não tinha
de estar. Podia ser uma noite, num corredor,
entre uma porta e outra porta, onde sabia o que
iria encontrar; e com a noite a acabar, a porta
a fechar, e o corredor sem saber onde iria
dar, talvez tivesse de ficar. E era à voz que eu
ouvia, à voz que me dizia o que eu lhe queria
dizer, à voz que me guiava entre uma porta e
outra porta, como se não houvesse corredor, era
a essa voz que eu respondia: «Vem comigo,
por entre portas e corredores, tardes e noites,
um lugar e qualquer lugar, e não me deixes aqui,
sem solução, nem o calor da tua mão.» E podia
dizer que tudo ficou igual, se não tivesses
atravessado o corredor, entre uma porta e outra
porta, trazendo contigo o que eu queria encontrar.

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