sábado, 16 de agosto de 2008
DIÁRIO
Continuo em Braga e estou noutro café. A Gotucha nunca mais chega do encontro com o pretendente. E eu vou coleccionando cervejas. A música bate como o amor. As gajas da telenovelas falam sem som. Não sinto qualquer crise criativa. As gajas da novela abraçam-se. É o amor. O amor eleva-nos, põe-nos em cima, mesmo quando me xingas. Sou absolutamente doido. Fora do contexto social. E orgulho-me disso. Eu nada peço e a loucura vem ter comigo. Amo-a. Fornico-a. Estou bem aqui em Braga. Não me venham falar de Paços de Ferreira nem de Lousada. Ouviram? Estou bem aqui. Aqui despontei para a vida. E vejo os meus antigos colegas, todos bem instalados na vida, altos empregos e eu aqui assim, eu que sinceramente não era menos inteligente, antes pelo contrário. Todos eles vencidos e eu aqui à solta como há 20 anos mas mais sábio, mais senhor. A falar do alto da burra. Do alto da burra, como dizia o meu pai. Volto sempre ao meu pai. Eu admirava o meu pai. Era um senhor. Nunca andou atrás das riquezas. Corações ao alto, como ele dizia. Bebo umas cervejas mas ele também bebia. Bebemos para suportar esta merda. E venha mais uma. E a gerente fica toda contente. As mamas abanam. É boa rapariga. Devem ser poucos os gajos que vêm escrever para o café. Quase nenhuns. Pelo menos, assumo que escrevo. Não tenho vergonha do meu ofício não lucrativo. Que tragédia seria se perdesse a mão. Morreria imediatamente. De vez em quando aparecem umas coisas sobre nós nos jornais e há gerentes e empregados de cafés que comentam a nossa escrita. Estou satisfeito comigo próprio. Hoje escrevi como o caralho e o dia ainda não acabou. A música que recorda-me a adolescência quando passava as tardes preso ao gira-discos a ouvir Pink Floyd, Supertramp, Dire Straits. Aqui em Braga na casa da Rua Nova de Santa Cruz. A única casa que eu realmente tive. Lá estás tu com o sentimento de posse- diria o Oliveira E há gajas bonitas na televisão. Sinto-me absolutamente divino. E também aqui o café se esvazia. Ainda me falta meia cerveja. E a Lídia Franco do "Tal Canal". Envelheceu. Não leio jornais. Não sinto a falta deles. E o gajo bebe suminho. Bebe suminho que te faz bem, queridinho. Olha que eu estou em forma. Podeis tremer, marionetas do sistema, que eu estou em forma. A caneta desliza e o "Deslize" fechou. Hoje vai haver festa, Gotucha. Afastai de mim os relógios e os televisores! Mamas atrás de mamas. Só se vêem mamas. E eu sou escritor. É a minha profissão. Se tive sucesso com a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" também posso ter com outras merdas. Os outros que me sustentem. Ah! Ah! Os outros que me sustentem, minha rica. Escrevi como um cão. Sabes que os cães quando escrevem são fodidos. Até à última gota. Sabes, gaja, as gajas até gostam de mim mas têm medo. A maior parte dos gajos fazem-nas bocejar. É claro que quando estou deprimido é mais complicado. Mas quando estou em forma elas querem-me, elas querem a minha loucura, porque ela está na sua natureza de mulheres, de bacantes mas, por outro lado, elas fogem porque precisam de uma certa segurança. Lembras-te de como elas ouviam o Jaime? Os outros gajos dizem sempre o mesmo. Eu, tal como ele, sou filho de Dyonisos.
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