Regresso à "Brasileira". A Gotucha está de mau feitio e foi ter com outro pretendente. Os senhores discutem a república. O Marques grita pelo cimbalino. Não estou em cima. Não estou em triunfo. A menina bonita abre a porta e sorri. A cidade rola mas eu não. O Marques diz que se vai embora. Uma menina substitui-o e conta as notas. Peço uma "Carlsberg". Talvez me levante, talvez me dê forças. Sou mesmo toxicodependente. A Gotucha tem razão. A menina traz a "Carlsberg" e sorri. Nem tudo é mau neste mundo. Bebo e as larvas circulam no cérebro. Lembras-te da Paulinha? Estás sempre a lembrar-te das coxas, da minissaia e ela nunca aparece. Apareceu há anos num restaurante. Disse-te que tinha prazer em ver-te. Prazer em ver-te mesmo depois daquela cena em que te expulsou do "Astória". Estavas com alucinações. Chove lá fora. Cá dentro a luz falha constantemente. A miúda bonita está sempre a entrar e a sair. A cerveja vai-se bebendo. Aproxima-se a hora do jantar mas tu já jantaste. Continuas a escrever sobre ti próprio. Não consegues parar. Esta quarta não vais ao "Púcaros" vomitar. Um mamas passam à tua frente. Que se foda! Estou com o ritmo. A escrita flui. Um grupo de ingleses invade a "Brasileira". O Cândido chega. Os ingleses saem. São quase 8. A Gotucha deve andar entretida. Os chuis passam ao largo. Peço outra cerveja. Escrevo ao ritmo da cerveja. A cidade está cheia de estrangeiros. Eu, cá por mim, só faço pequenas viagens. Venho até Braga e isso basta-me. Não preciso de ir a Barcelona ou a Paris ou ao Chile. De resto, faço viagens mentais, como Pessoa. E já fui bem longe. Tão longe. Se a Gotucha não estivesse de mau feitio cobria-a de beijos. Sou maluco por aquela miúda. O Cândido queixa-se que a colega não o cumprimenta quando está acompanhada do namorado. Chovem notas de cem- diz o Cândido. Há personagens que permanecem e que me saúdam sempre. O silêncio reina. A "Brasileira" está quase deserta. E a luz volta a falhar. Rolam caixas de cerveja. Aqui em Braga há sempre algum dinheiro, para variar. A menina sai sem cerveja. Hora da rendição. Trabalho-emprego-dinheiro ao fim do mês. Já não sei o que é essa merda. E esta merda que escrevo não vai servir para nada. Mais um exercício literário. Mais um desperdício de munições. Mais do Pedro e o Pedro e o Pedro. Podia meter conversa com o Cândido. Falar de futebol. Mas ainda não é meia-noite. Ainda não é hora do bar. Mantenho a pose do escritor responsável e respeitável. A gastar o ouro num texto de merda. Respeitável? Ah! Ah! Se eles soubessem. Era uma óptima maneira de terminar. Mas ainda não vai. Vai mais uma cerveja.
O Cândido olha pela janela e traz-me a terceira "Carlsberg". Uma gaja entra e senta-se ao pé da janela. Pede um café. São 8:25 h. O gerente pergunta pela bandeira nacional. A pátria acima de tudo! A Gotucha pediu-me para beber muito. E eu vou cumprir. O cliente que entrou pergunta pelo "Correio do Minho". O Cândido perfila-se para a bandeira. O cliente dialoga com o Cândido e simpatiza comigo.
Chegou a Sandra. Fala da vida e pergunta pela minha vida. Não estou deprimido. Merda! Não estou deprimido. São quase 9. Gosto desta cidade e de estar na "Brasileira".
Braga, 11 de Agosto de 2008.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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2 comentários:
olha! pois estive estive..
fica bem
ó sandra, quando sais de casa?
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