quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

A GLÓRIA

A Glória. Finalmente, a Glória. O artigo do Valter Hugo Mãe no Jornal de Letras. Sou, finalmente, um poeta reconhecido. Não me queira vingar de ninguém. Não que me pôr em bicos de pés. Simplesmente, a Glória. A "profunda honestidade" do poeta subversivo. Escrevo no Pátio. Teria que escrever num café. Ouço Jimi Hendrix. Os cafés tornaram-se parte essencial da minha vida. Como em Mário de Sá-Carneiro, como em Fernando Pessoa. Não escrevo histórias da Carochinha. Escrevo manifestos, programas de governo, como diz o Valter. Já há 30 anos escrevia bons poemas. Agora sou um dos melhores poetas deste país. Sem falsas modéstias. Escrevo a um ritmo estonteante. Embriago-me no acto da escrita. Outra vez Hendrix. "Foxy Lady". Desejo desesperadamente as mulheres belas. Passei muito tempo só na minha vida. Agarrei-me à leitura, à música e aos poemas. Ultimamente a poesia até é mais prosa. Hendrix incendeia, traz consigo Satã. O Hard Rock. A velha guitarra eléctrica. Vontade de beber. A verdade é que a grande maioria está morta. Não explode. Não rebenta. Não procura a Glória. Fica-se pelas meias-medidas, pelo supermercado, pela mercearia. E eu aborreço-me, G. Raramente há contacto com o desconhecido. Raramente há o espanto, a surpresa, a poesia, a filosofia. Há uma mera simpatia, nada mais. Uma simpatia de conveniência. Sou uma estrela mas estou só. Não te queixes, Pedro. Alcançaste a Glória. Não és um gajo qualquer. O teu pai bem te dizia.

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