quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

REVOLUÇÃO

Manhã cedo no café da Vera. A Vera não está. Levantei-me às 4 com ideias revolucionárias. Saí de casa às 7. Provavelmente vou dar uma volta pela aldeia. Assim o recomendam as médicas. E tu, L., em que mundos paras? Um grande escritor deve começar a trabalhar logo pela manhã. Ainda não fui capaz de criar personagens, além de mim próprio. Olha, uma coisa boa. Cada vez estou menos toxicodependente da televisão. Hoje até prometi sangue, incêndios. Dinheiro não me falta. Houve uma tentativa de infiltração de revolucionários no BE. É tempo de endurecer o discurso. É tempo de cerrar fileiras. A extrema-esquerda e os anarquistas têm que ser duros. Vamos meter medo a esta gente que só sabe trabalhar e ver passar as horas. Coitados, não evoluíram. Contudo, apesar de tudo, com um esforço dá para entrar em diálogo com eles. Como o Che na Bolívia, como Fidel em Cuba, como Chávez na Venezuela. Tenho eternidades à minha frente. Posso ainda ser o grande xamã. Vera, o teu café faz lembrar os filmes do Vasco Santana e do António Silva. Há cenas hilariantes, piadas, brincadeiras. Agora chegaste e volto a ser o poeta solitário que escreve versos à mesa do café. Haja amor, haja alegria, haja crianças. Temos de proteger os nossos, L. e V. A grande batalha aproxima-se. Eles matam-nos de guerra, fome e tédio. Nós temos que atacar. No centenário da Revolução de Outubro temos que atacar. "Anjos de Deus, tende cuidado, e vós, juízes, tende cuidado, com os por vós rejeitados" (Ian Curtis). Nada de negociações ou parlamentarismos. Catarina, Mariana, Marisa, nada de esquerda caviar. É tempo de combater. Olho por olho, dente por dente. Nada temos a ver com os fanáticos de Alá mas temos que fazer a guerrilha. Olha, que mulher linda entrou. A mão treme a segurar o café. Problemas iguais aos meus? Retiro os óculos. Tenho que ser forte. Superdragões, Jorge Jesus, guerras na bola e o povo a ver. Imbecis. Onde estão os meus exércitos? Já cá deveriam estar. Dai-me tempo de antena na rádio, nos jornais, na televisão. Mulheres, minha perdição. As notícias não dão bombas, incêndios em Lisboa. Paz na Terra. Morrerias por mim? Não quero qualquer cargo oficial, só lugares clandestinos. Quero pôr a minha inteligência ao serviço da revolução. Na Póvoa marquei terreno, consegui algumas vitórias. Com a candidatura à Presidência também. Todavia, é preciso mais. Muito mais. Tenho de conquistar novos reinos. Temos de derrotá-los, a todos esses imbecis, como Artur com Lancelot. Filhos da puta. A maldizer os meus comandantes. Não deixo. Não permito. Não sou. Reino aqui como no inferno. Não tenhas medo. Não tenhas medo. Não te faço mal. Nunca te farei mal. Só a esses bandidos. Vingarei o meu pai, os meus camaradas, os meus companheiros. Estou às portas do céu. A mente abre. Loucuras tantas. Amo-vos, meus irmãos, minhas irmãs.

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